Jornalismo Júnior

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O estádio no coração da cidade: 85 anos de Pacaembu

Venha relembrar parte dos 85 anos de histórias, emoções e memórias que marcam o torcedor brasileiro

Por Davi Milani (davimilani@usp.br), Letícia Oliveira Menezes (leticiaomenezes@usp.br) e Raí Carvalhal (raicarvalhal@usp.br)

Entre tantos títulos, jogos e eventos sediados no antigo Estádio Paulo Machado de Carvalho, um ponto comum une todos esses momentos: o sentimento, a paixão e, principalmente, a honra e orgulho de fazer parte dessa história. Venha relembrar um pouco de tudo que já aconteceu no Estádio!

Contexto da idealização e construção do Pacaembu

Ícone do futebol brasileiro, o Estádio do Pacaembu surgiu em um momento conturbado para o esporte no país. Com diversos problemas de gestão esportiva, a Seleção Brasileira se encontrava aquém das expectativas. As eliminações ainda na primeira fase das Copas do Mundo de 1930 e 1934 deixavam muito a desejar para a torcida. Nesse cenário, o projeto do estádio foi idealizado pela Prefeitura de São Paulo em 1936, e a construção começou no mesmo ano. No entanto, em 1937 foi instaurado o Estado Novo, e o governo interrompeu a obra para realizar mudanças no projeto arquitetônico. As alterações envolviam a ampliação do estádio e suas colunas, inspiradas pelo Estádio Olímpico de Berlim. A ideia não era aumentar apenas a obra, mas o que ela representaria para o país.

A interferência do Estado Novo na construção do estádio não foi ao acaso: a mudança foi um passo importante para o projeto de apoio nacional aos esportes idealizado por Getúlio Vargas. O presidente  buscava fortalecer o esporte nacional para que este representasse a nação ao redor do mundo. O futebol foi um dos elementos culturais mais exaltados pelo seu governo, pois, para Vargas, o futebol era uma ferramenta que permitiria melhorar a imagem internacional do Brasil.

Finalmente, no dia 27 de abril de 1940, o Estádio do Pacaembu foi inaugurado. O evento contou com a presença do próprio Getúlio, e encheu as arquibancadas com mais de 50 mil pessoas. Na época, com capacidade para 70 mil espectadores, aquele era considerado o maior e mais moderno estádio da América do Sul.

O então Presidente Getúlio Vargas na cerimônia de inauguração do Pacaembu. [Imagem: Reprodução/X: @ArquivoBrasil]

A controvérsia sobre o primeiro campeão no estádio

Um dia após sua inauguração, o estádio foi palco do torneio Taça da Cidade de São Paulo, disputado entre Atlético Mineiro, Corinthians, Coritiba e Palestra Itália. No decorrer das partidas, foi definida a final entre Corinthians e Palestra Itália, que ficou marcada para o final de semana seguinte. No dia 4 de maio, o time alviverde superou o rival ao vencer a partida por 2 a 1, com gols de Echevarrieta e Luizinho.

No entanto, no dia 1º de maio, foi realizado um Torneio Relâmpago com outros dez clubes paulistas, nenhum tendo participado do torneio inaugural. O nome se deu pelo fato das partidas eliminatórias terem apenas 20 minutos de duração. A final estava prevista somente para o dia 5 de maio, após a decisão entre Palestra Itália e Corinthians. Porém, uma mudança no regulamento permitiu  que o jogo acontecesse no mesmo dia do restante do campeonato.

Na ocasião, a Portuguesa superou a Juventus-SP por 3 a 0 no próprio 1º de maio. Sendo assim, a Lusa se tornou o primeiro clube a levantar uma taça no Estádio do Pacaembu, apesar do time do Palestra Itália ter sido campeão do campeonato inaugural. Para a torcida palmeirense, seu clube é o primeiro verdadeiro campeão do ilustre estádio por ter sido campeão do primeiro campeonato. Além disso, na tentativa de desvalidar o título da Portuguesa, muitas críticas são direcionadas ao estilo do campeonato com jogos mais curtos. Apesar disso, os lusitanos comemoram a lembrança do título com muito orgulho.

Um lugar de acontecimentos memoráveis

“O futebol é um patrimônio da cultura brasileira, e o Pacaembu, embora não seja um craque vencedor de uma Copa, está na memória afetiva do brasileiro, especialmente dos paulistanos e torcedores de times da capital”.

André  Bengston

Em entrevista ao Arquibancada, o historiador e jornalista André Bengtson contou sobre as experiências que marcaram os 85 anos do Estádio do Pacaembu. O local marca a vida de cada visitante devido às partidas esportivas e eventos culturais ali ocorridos.

Leônidas da Silva – “Nos anos 40, uma das partidas mais importantes foi a estreia de Leônidas da Silva, o Diamante Negro, em jogo do São Paulo contra o Corinthians, datada de 1942. O público oficial foram inacreditáveis 70 mil pessoas”, conta o historiador. Além de ter estreado no estádio do Pacaembu, outro fato interessante sobre o jogador também está ligado ao local: todos os gols de bicicleta (5) realizados pelo craque tricolor aconteceram nele.

Campeonato Brasileiro de 1994: Em um formato anterior aos pontos corridos do atual Brasileirão, que vigora desde 2003, o Palmeiras conquistou seu oitavo título na competição após derrotar seu maior rival em um Derby emocionante. A decisão contou com seis gols ao longo de duas partidas, sendo quatro da equipe alviverde, e com a atuação de diversos craques do futebol brasileiro nos gramados do Pacaembu.

Final da Copa Libertadores da América de 2011:  No dia 22 de Junho de 2011, o Santos sagrou-se campeão da Libertadores pela terceira vez, no gramado do Pacaembu. Após um jogo de ida sem gols, o time ergueu a taça da copa internacional de maior relevância da América do Sul ao vencer o Club Atlético Peñarol por 2 a 1, com gols de Neymar e Danilo.

Final da Copa Libertadores da América de 2012: Ao sediar pela quarta vez em sua história uma final de Libertadores, o estádio coroou outro time brasileiro campeão da América, o Corinthians. A equipe venceu o Club Atlético Boca Juniors por um placar agregado de 3 a 1, com 2 gols de Emerson Sheik na partida de volta.

Além da ocorrência massiva de jogos dos principais times masculinos da capital, o estádio também recebeu torneios internacionais femininos. Foram disputadas a Recopa, Copa Libertadores da América e até campeonatos da várzea ao longo de seus mais de 80 anos de história.

A experiência do torcedor

O Pacaembu é  patrimônio histórico do futebol brasileiro e paulistano, e vive até hoje na memória afetiva dos torcedores. Lembrado por sua democracia de acesso, devido principalmente aos preços acessíveis dos ingressos – disponíveis na própria bilheteria do estádio – e a sua localização central, no coração de São Paulo,  que torna mais agradável a experiência de ir assistir ao seu time.

Essa experiência foi evidenciada por Vagner Suescun, torcedor do Corinthians. Ele morou na cidade e frequentou, entre altos e baixos, a “Saudosa Maloca”, como foi apelidado carinhosamente pela torcida corinthiana o então Estádio Paulo Machado de Carvalho.

“O Pacaembu era a casa do Corinthians”, afirma o torcedor relacionado ao fato de que foi o clube que atuou mais vezes no estádio, apesar de diversos outros clubes paulistas mandarem jogos lá. Suescun viveu desde os 20 anos em que o Corinthians ficou em jejum de títulos até a glória na Libertadores de 2012, presente na torcida corinthiana, chorando as derrotas e celebrando as vitórias; sempre no Pacaembu.

No dia 13 de janeiro de 1952, no Pacaembu, o Corinthians conquistava seu 13º título do Campeonato Paulista. [Imagem: Reprodução/X: @Corinthians]

A emoção presente no Pacaembu não para no futebol: o estádio recebeu também diversos eventos na chamada Concha Acústica (espaço destinado para apresentações e shows), que futuramente deu lugar ao tão conhecido tobogã. Esse consistia em uma estrutura de arquibancada que foi símbolo do futebol clássico, em tempos de tantas arenas modernas e estádios com cadeiras.

Bandas como Iron Maiden, The Rolling Stones, assim como os  cantores Paul McCartney e Eric Clapton são apenas alguns dos nomes que animaram fãs e admiradores no Pacaembu, relembra André Bengston. O jornalista e historiador é torcedor do Guarani e vivenciou grandes momentos no estádio.

“No dia do meu aniversário de 20 anos, o Guarani derrotou o São Paulo e se tornou campeão da Copa São Paulo de Futebol Júnior, justamente nesse estádio. Alguns meses depois, tive o prazer de assistir ao show dos Rolling Stones ali, um dos eventos mais interessantes que já participei em toda minha vida”, relata Bengston.

Privatização e nova fase

Vista da Mercado Livre Arena Pacaembu [Imagem: Reprodução/X: @mlarenapacaembu]

Com a modernização vigente no futebol, a construção de luxuosas arenas, preços de ingressos cada vez mais altos, o até então Estádio Paulo de Machado Carvalho tornou-se a Mercado Livre Arena Pacaembu. Em 2019, a instalação foi vendida para a iniciativa privada, tendo também os naming rights comprados. A mudança de nome, apesar de inicialmente simples, é apenas um sintoma de um processo de capitalização do futebol brasileiro e mundial maior. Essas transformações  dificultam a valorização do grande acervo da história brasileira, como Paulo de Machado Carvalho, o “Marechal da Vitória”, como foi apelidado, que teve seu nome substituído por uma marca. Apesar de ter sido por muito tempo um pilar de resistência ao “futebol moderno”, o Pacaembu cedeu ao capital, e se distancia dessa faceta de remanescentes de um futebol clássico, de uma pausa no acelerado mundo atual e de um respiro na paz de tempos mais simples.

Saudosismo ou não, as mudanças já aconteceram e continuarão a acontecer. Talvez a mais emblemática tenha sido o tombamento do tobogã, uma das áreas mais democráticas do estádio, com ingressos de 20 a 60 reais, composta por uma arquibancada localizada atrás de um dos gols, simbolizando de forma ímpar esse processo de modernização. São mudanças como essa que ferem a memória afetiva do torcedor e enunciam apenas o começo de um movimento que deve persistir.

Sobre esse momento na história do Pacaembu, Bengston comentou: “Não temos como não lamentar o processo que está se abatendo sobre o futebol brasileiro de ‘gourmetização’, que está separando o povo do contato direto com esse esporte. Não é de se estranhar a indiferença das pessoas hoje com a Seleção Brasileira, fato muito preocupante pensando na renovação do público”.

Em adição, Bengston disserta sobre isso ser apenas um sintoma de um processo que aflige a cidade de São Paulo como um todo. O jornalista analisa a mudança como um “avanço quase avassalador do capital que deseja desenfreadamente se apoderar do espaço público e torná-lo privado”, afetando parques públicos e demais espaços, como o próprio Pacaembu. Todavia, o historiador acrescenta: “Não acredito que essa onda vá passar tão cedo e é muito possível que vá até se avolumar”.

Dentro dessa nova fase, o estádio foi reinaugurado no dia 25 de janeiro de 2025, data de celebração dos 471 anos da cidade de São Paulo. Nesse dia, o estádio recebeu a sua primeira final na “era” modernizada: a categoria de base do São Paulo Futebol Clube ganhou seu 5º título da Copinha, em cima do seu rival Corinthians, em um jogo que contou com um placar de 3 a 2 e muita emoção.

Parabéns pelos 85 anos, Pacaembu! Vida longa ao local que marcou a história e pessoas das mais diversas gerações. Que venham mais 85 anos de muita emoção e vivências especiais.

Foto de capa: [Imagem: Reprodução/Instagram/@mercadolivre.arenapacaembu]

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