Brasil e futebol são quase sinônimos. É praticamente impossível não associar o país ao esporte que por meio de sua maneira prática e acessível conquistou um espaço de relevância no cenário cultural brasileiro.
A popularização do futebol se fortaleceu ainda mais com a televisão. As partidas, antes assistidas apenas nos estádios ou acompanhadas através do rádio, tornaram-se visualmente abrangentes. Os gols, jogadas e comemorações eram vistos por uma gama cada vez maior de espectadores.
Com a posterior evolução do cinema, inúmeros temas passaram a ser abordados pelos mais diversos gêneros. Entre eles, o documentário aparece como meio de discussão, registro, construção de memória, análise de acontecimentos e assuntos que possuam relevância pública ou interessem a determinado grupo da sociedade. Assim, para acompanhar a paixão nacional pelo futebol, reviver conquistas, relembrar momentos históricos, marcantes e singulares de clubes e torcedores, o gênero eternizou nas telas as emoções dos campos.
As produções destinadas aos inúmeros times brasileiros são tantas que fica difícil destacar alguma. Assim, aprofundaremos o assunto apenas sobre documentários de clubes do Estado de São Paulo que obtiveram maior público ou que tratem de conquistas de valor internacional e comemorações centenárias. Aqui não levaremos em conta juízos de valor, afinal o melhor time do mundo é sempre aquele que a gente escolhe como o time do coração.
Em 1999 um documentário inédito e pioneiro dirigido e produzido por Luiz Fernando Santoro e Flávio José Tirico apresentou a vitória do Palmeiras na Libertadores. Palmeiras Campeão 1999 (Idem, 1999) Levando o torcedor aos bastidores dos jogos e acompanhando lado a lado a conquista do time, a disputa por um título foi vista por uma ótica diferente das apresentadas até então. Pequenos detalhes que passam despercebidos por torcedores e apreciadores de futebol foram valorizados construindo um ambiente íntimo e sem interferências externas. A comoção do momento foi bem captada pela produção e transmitida ao espectador palmeirense que se emociona ao rever a conquista do título.
O adeus da torcida palmeirense ao Palestra Itália é retratado em Primeiro Tempo (Idem, 2011) O filme estreiou na abertura da edição paulista do Cinefoot, festival em que apenas filmes sobre futebol são apresentados, em 2 de junho de 2011. O estádio, que por 93 anos foi morada do time e palco de conquistas inesquecíveis, será substituído por um novo, o Arena Palestra.
Vários depoimentos são intercalados entre cenas do último jogo no Palestra, proporcionando um ambiente nostálgico, afetivo e até bem-humorado (como a cena do goleiro Marcos contanto sobre a primeira vez que foi ao estádio, onde, por ter sentado no lugar da torcida organizada por engano, precisou entrar no rítmo da Mancha Verde) e fazendo com que o espectador sinta-se parte da grande história narrada.
SOBERANO – 6 vezes São Paulo (Idem, 2010), foi um sucesso de lançamento em 2010. Em seu primeiro final de semana de exibição, o filme contou com a presença de 18.010 espectadores, tornando-se a 13ª maior bilheteria do Brasil na época. Segundo o Filme B, fonte de pesquisa que apresenta as bilheterias do ano do cinema brasileiro, a produção sobre o time tricolor foi vista por 45.434 pessoas.
O filme apresenta as grandes conquistas do clube sobre os Campeonatos Brasileiros de 1977, 1986, 1991, 2006, 2007 e 2008. Os jogos mais emblemáticos são narrados de forma emocionante por torcedores que viveram momentos pessoais decisivos no dia das conquistas. Depoimentos de jogadores e técnicos que atuaram pelo time também compõem as cenas do documentário e há um momento dedicado a memória de Telê Santana (1931-2006), ídolo são-paulino, que foi técnico do time de 1990 à 1996, conquistando duas Taças Libertadores da América e o Mundial Interclubes.
Expondo ao espectador esses acontecimentos únicos, o filme promove uma aproximação deste com a história do clube e compõe uma atmosfera de identificação com os torcedores apresentados que tem a paixão pelo tricolor paulista marcada em suas vidas.
Em 2002, Santoro e Tirico também acompanharam o Corinthians na Copa do Brasil e em 2003 no Campeonato Paulista. O documentário sobre as vitórias do clube apresenta basicamente o mesmo formato e proposta do anterior, focando-se em aspectos particulares e interagindo o espectador com o ambiente das conquistas.
Todo Poderoso: O filme (Idem, 2010) apresenta a glória Corinthiana em seus 100 anos de existência. Em um documentário mais abrangente em relação aos já abordados na matéria, os grandes acontecimentos que envolveram o clube desde sua fundação e imagens inéditas são exibidos juntamente com cenas das décadas de 40 e 50 e o primeiro registro em movimento do time, em 1929. A produção engloba todos os aspectos da história do timão: desde símbolos, mascotes e uniformes diversificados até momentos históricos, reconstituição de fatos por atores caracterizados, gols memoráveis, torcedores e entrevistas com os grandes ídolos corinthianos.
Para comemorar o centenário do alvinegro praiano Santos, 100 anos de futebol arte (Idem, 2012) foi produzido e contém um material inédito que mostra a trajetória do clube. A era de Pelé e seu papel decisivo na popularização e reconhecimento internacional do time também é explorada no longa. Depoimentos de importantes nomes do Santos como o próprio Pelé, Neymar e Robinho são apresentados. O documentário é estruturado nos torcedores, na paixão que demonstram pelo peixe e em suas lembranças afetivas, sendo não apenas pautado na história objetiva, mas também em como esta modificou a vida das pessoas que se dedicaram, e dedicam, ao clube.
Leia aqui o depoimento de Luiz Santoro, produtor de documentários.
Independente da escolha particular de cada torcedor, a devoção ao futebol deve prevalecer. Cada comemoração, conquista e jogadas fantásticas apresentadas nos diferentes documentários possuem valor nacional e engrandecem a paixão brasileira que já provou cinco vezes ser a melhor do mundo.
Por Susana Bebert
susanaberbert@gmail.com