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‘É tetra!’: os 30 anos da conquista brasileira nos Estados Unidos

Após 24 anos de jejum, o título inaugurou a segunda “Era de Ouro” da Seleção Brasileira
Montagem com jogadores que venceram o tetra na frente, e no fundo o Baggio perdendo o pênalti que deu a vitória ao Brasil
Por Matheus Ribeiro (matheus2004sa@usp.br) e Rafael Dourador (rafa.dourador@usp.br)

Em um domingo ensolarado e quente, há exatos 30 anos, na Terra do Tio Sam e aos gritos de “É tetra!”, um dos momentos mais especiais na memória dos brasileiros acontecia: a conquista do tetracampeonato mundial pela Amarelinha. Depois de um longo tempo sem levantar troféus importantes e uma grande cobrança de torcedores, a equipe de Parreira, Romário, Bebeto e cia. entrava para a história do futebol.  

24 anos de jejum

Em 1970, o universo do futebol presenciou um dos melhores desempenhos apresentados por uma equipe. O Esquadrão, estrelado por Pelé, Jairzinho, Rivellino, Carlos Alberto Torres, entre outras lendas dos campos, e comandado por Zagallo, conquistou o mundo e o encanto dos torcedores ao conquistar a Copa disputada no México, além de estabelecer a Seleção como a maior vencedora do torneio (título que mantém até hoje) e o time de maior tradição do esporte.

Porém, após sua última conquista da taça Jules Rimet, os brasileiros amarguraram um longo período de 24 anos sem poderem esbravejar um “é campeão” ao final de uma competição mundial. Ainda, nessas duas décadas e meia que compreenderam a disputa de cinco Copas do Mundo, não faltaram oportunidades de se tornar tetracampeão.

Carlos Alberto Torres, capitão do Brasil em 1970, levantando a taça Julies Rimet após a final da Copa do Mundo de 70, contra a Itália

A Copa de 1970 foi a última na qual a premiação aos campeões era a taça Jules Rimet. A partir de 1974, foi utilizado o mesmo troféu da atualidade  [Reprodução/X: @fifaworldcup_pt]

Em entrevista ao Arquibancada, Thiago Uberreich, jornalista esportivo e autor do livro 1994 – O Brasil é tetra, destaca a importância desse jejum à história da Seleção: “Não há como falar de 1994 sem mencionar o período pós-1970. Ele e as críticas ao time deram um grande peso à equipe que se tornaria tetracampeã” .

1974 – Vítimas do Futebol Total

Desfalcada de seu principal jogador, Pelé, que se aposentou da Seleção, junto com mais estrelas (Gérson, Carlos Alberto, Tostão, entre outros), no período entre Copas, a Amarelinha ainda possuía uma base forte. Comandada pelo Velho Lobo e dotada de craques como Jairzinho e Rivellino, a equipe brasileira era uma das favoritas ao título, também considerando as atuações apresentadas na última edição. 

Mas as expectativas dos herdeiros do Esquadrão não foram alcançadas. Com um futebol menos encantador que o apresentado em 1970, o Brasil avançou até a fase semifinal do torneio, disputado na Alemanha, onde encontrou a maior surpresa da edição: o Carrossel Holandês de Rinus Michels e Johan Cruyff, que ficou conhecido por seu estilo “Futebol Total”. Mesmo após terem sido subestimados pelo técnico brasileiro, por conta da falta de tradição da Holanda em Copas do Mundo, a Laranja Mecânica surpreendeu a Seleção Canarinho e a eliminou em um 2 a 0 no qual dominou os defensores do título. 

Foto de Johan Cruyff pela seleção holandesa, na Copa do Mundo de 1974

Cruyff venceu o prêmio de melhor jogador do mundo neste ano [Reprodução/Wikimedia Commons]

1978 – Polêmica com os “Hermanos”

Em edição sediada na Argentina, o Brasil tentou se reerguer da decepção da última Copa. Com uma nova geração comandada pelo técnico ídolo do Flamengo, Cláudio Coutinho, e os craques Zico e Roberto Dinamite, a Canarinho avançou sem dificuldades pela fase de grupos e alcançou as semifinais.

A problemática por trás desse torneio surgiu nessa etapa que, nesta edição, era disputada por uma segunda fase de grupos: as oito seleções classificadas foram distribuídas em dois agrupamentos de quatro times, em que os primeiros colocados se enfrentariam na decisão.

Nossos rivais, os argentinos, foram alocados no mesmo grupo que o Brasil, junto de Peru e Polônia. Com campanhas iguais entre o país sede e a Amarelinha, a vaga para a final foi sacramentada na última rodada. A polêmica se centrou no fato da partida decisiva da Argentina, contra os peruanos, ter sido realizada após três horas da vitória brasileira em cima dos poloneses, por 3 a 1. Isso possibilitou que os jogadores da Albiceleste soubessem que, além de ganhar, precisariam golear seu adversário para avançar, resultado que foi alcançado pelo placar de 6 a 0.

Mario Kempes comemorando seu gol na final da Copa do Mundo de 1978, contra a Holanda

Mario Kempes (centralizado na foto) foi o principal jogador na campanha do primeiro título mundial argentino [Reprodução/Wikimedia Commons]

Desta forma, a eliminação do Brasil foi confirmada, amargando a segunda colocação do grupo. A confusão por trás dessa combinação de resultados foi tamanha que Coutinho, após conquistar o terceiro lugar contra a Itália (segunda colocada do outro grupo), afirmou que a Seleção Brasileira “foi a campeã moral”.

1982 – A Tragédia do Sarriá

Na Copa disputada na Espanha, o Brasil, comandado por Telê Santana, capitaneado pelo “Doutor” Sócrates e estrelado por craques como Zico, Falcão, Júnior e vários outros,  teve a maior das chances, durante o jejum, de conquistar o mundo novamente. Com um elenco habilidoso e entrosado, a equipe foi conhecida pelo “futebol arte”, um estilo de jogo tão encantador quanto o do Esquadrão de 70, senão até mais. Isso fez com que esse time fosse considerado uma das melhores (ou até a melhor) Seleção de todos os tempos pelos apreciadores do esporte, além de franca favorita ao título mundial.

A campanha brasileira atendeu as expectativas até a fase semifinal do torneio, na qual, em sua última partida, precisava de pelo menos um empate contra a Itália — que fez uma primeira etapa ruim — para ir à final. Com o jogo marcado no estádio de Sarriá, em Barcelona, a Azzurra chocou o mundo futebolístico ao superar o “futebol arte” pelo placar de 3 a 2, com uma atuação histórica de Paolo Rossi, atacante italiano responsável por todos os gols do triunfo. Por mais que não tivesse jogado mal, a Seleção Brasileira não foi capaz de evitar que uma das maiores zebras da história do futebol ocorresse.

Paolo Rossi comemorando um de seus três gols contra o Brasil, na Copa do Mundo de 1982

Antes desta partida, Paolo Rossi estava em um jejum de três anos sem marcar pela seleção [Reprodução/Wikimedia Commons]

1986 – Conturbações internas e fim dos “craques sem Copa”

O ciclo para o torneio de 1986, sediado no México, foi marcado pelo caos nos bastidores da Seleção. Afetada por uma disputa política da CBF pelo poder, a Amarelinha teve que trocar de técnico às vésperas da Copa, com Telê Santana retornando ao comando. Os principais jogadores da geração, que também participaram da última edição, estavam, em sua maioria, com mau condicionamento físico — seu principal craque, Zico, por exemplo, estava se recuperando de lesão. Renato Gaúcho e Leandro, atletas importantes, foram cortados por indisciplina antes do início do torneio, além de outros nomes: Casagrande, Edson e Alemão, que sofrerem punições pelo mesmo motivo durante a competição.

Esse conjunto de fatores fez com que a Seleção não tivesse um bom começo de campanha, com desempenhos fracos e decepcionantes. Porém, mesmo com os contratempos, o Brasil conseguiu avançar ao mata-mata, etapa em que começou a apresentar um futebol mais promissor.

O limite do time chegou nas quartas de final, em que enfrentou a França de Michel Platini. Com boa atuação brasileira na partida, o placar foi aberto por Careca, mas logo depois, a estrela francesa igualou. No segundo tempo, Zico, ainda afetado por sua lesão, teve a chance de assumir a dianteira do jogo com um pênalti. No entanto, após uma batida ruim, a chance foi desperdiçada e a decisão foi feita na disputa de penalidades. Com os erros do capitão Sócrates e Júlio César, o Brasil foi novamente eliminado.

Essa desclassificação foi marcante não apenas por simbolizar o fim de uma geração de grandes jogadores –– Zico, Sócrates, Casagrande, Júnior, etc. — que nunca tiveram a oportunidade de vencer um mundial pela Amarelinha, mas também pelo aumento da pressão e impaciência da torcida com o jejum de um título importante da Seleção. A partir daqui, as cobranças para o tetracampeonato foram se tornando cada vez mais intensas.

Foto de Sócrates pela seleção brasileira na Copa do Mundo de 1986

Em sua biografia, é demonstrado o quão impactante a frustração pós-Copa foi para o agravamento de seus problemas com a bebida [Reprodução/X: @FIFAWorldCup]

1990 – Fiasco e início da “Era Dunga”

A decepção e as cobranças sofridas desde a última edição não foram suficientes para que o Brasil evitasse outra participação fraca em uma Copa do Mundo. O esquema do novo treinador, Sebastião Lazaroni, era diferente de tudo o que fora apresentado pela Seleção até então. Mesmo que a convocação contasse com grandes atacantes como Muller, Careca, Bebeto e Romário –– os últimos dois, no banco, com o “Baixinho” se recuperando de uma cirurgia ––, o jogo proposto pelo treinador era algo reativo e pouco ofensivo e atrativo aos torcedores.

Em coletivas, Lazaroni afirmava que o volante Dunga era o símbolo de como a equipe deveria atuar. O atleta era reconhecido por sua entrega no jogo físico no meio de campo e destaque na defesa. Assim, o jogador se tornou a referência técnica e tática do time e a “cara” do elenco, inaugurando a “Era Dunga”.

Entretanto, as novidades propostas não foram bem recebidas por torcedores e mídia da época, já que, durante a fase de grupos do torneio, o Brasil apresentou desempenhos decepcionantes e nada convincentes. O melhor jogo dessa equipe aconteceu justamente em seu último, na eliminação nas oitavas de final para a Argentina por 1 a 0, que sacramentou a pior participação brasileira em uma Copa desde 1966, quando foi eliminado na fase de grupos.

O mau desempenho não só fez com que as cobranças, que já eram grandes, atingissem seu ápice, mas também serviu de pretexto para que torcedores e mídia usassem a imagem de jogadores do elenco, sobretudo Dunga, como bodes expiatórios, classificando a geração representada por eles como omissa com a Seleção e fracassada.

A caminho dos Estados Unidos

“Todo esse processo de transição de 1990 para 1994 foi muito turbulento. Sem dúvida nenhuma, foi a seleção mais criticada de todos os tempos” 

Thiago Uberreich

A coleção de cinco eliminações seguidas, fracassos e maus desempenhos, fizeram com que o ciclo de preparação para o mundial em solo estadunidense fosse um dos momentos de maior crise da história da Seleção. 

Após a segunda pior participação brasileira em Copas do Mundo, havia o desafio de administrar e superar toda a pressão e críticas feitas aos membros da equipe. Esse processo foi iniciado com Falcão, agora como técnico, mas não possuiu sucesso, já que a Amarelinha continuou a apresentar um futebol fraco, que rendeu a eliminação da Copa América de 1991. 

Logo após a desclassificação, o treinador foi substituído por Carlos Alberto Parreira, que já havia comandado a Canarinho anteriormente e era considerado discípulo de Zagallo, presente na comissão técnica. À primeira vista, essa mudança não se mostrou muito efetiva, já que o desempenho apresentado ainda era questionável e os resultados não eram visíveis –– o Brasil foi novamente eliminado de maneira decepcionante na edição seguinte da Copa América, em 1993.

Foto de Carlos Alberto Parreira, técnico da seleção brasileira em 1994, tetracampeão mundial

Parreira foi técnico da Seleção em 1983, antes de assumir no ciclo do tetracampeonato [Reprodução/Wikimedia Commons]

O começo das eliminatórias para o mundial, disputadas no mesmo ano, pioraram ainda mais a situação. Logo nas primeiras duas rodadas, o Brasil sofreu tropeços que poderiam comprometer a sua participação na próxima Copa. O empate sem gols sofrido contra o Equador e a derrota por 2 a 0 para a Bolívia transformaram as críticas ao elenco e comissão técnica em protestos. 

Em entrevista ao Arquibancada, Fredy Junior, jornalista e apresentador do programa “A Bola Não Para” no Youtube, esclarece: “Foi a primeira vez que o Brasil perdeu para a Bolívia em La Paz. Por mais que tivesse a altitude, a Seleção era tão superior na América do Sul que isso não era algo que impactasse nas atuações. Esse período foi marcante por [a Seleção Brasileira] ter começado a perder jogos que não costumava”.

Foto de Marco Etcheverry, ou "El Diablo"

Marco Etcheverry, também conhecido como “El Diablo’’, era a referência daquela geração boliviana, da qual foi a última a se classificar a um mundial [Reprodução/Wikimedia Commons]

A situação era tão crítica que Parreira quase se demitiu no meio das eliminatórias. Para piorar, a Seleção sofria com desentendimentos individuais entre alguns de seus membros, com destaque para a péssima relação entre Parreira e Zagallo com Romário: o “Baixinho”, conhecido por sua forte e combativa personalidade, cobrava a sua titularidade no time, “batendo de frente” com seus superiores, que o “escantearam” por quase um ano da equipe.

A mudança de rumo aconteceu no returno, quando o elenco percebeu que, para atingir o sucesso, precisariam deixar de lado as diferenças e se unir em prol da equipe. Thiago Uberreich afirma: “O jogo da volta contra a Bolívia [6 a 0 para o Brasil] foi um renascimento da Seleção. E a partir desse jogo, pela ideia do zagueiro Ricardo Rocha, o time começou a entrar em todos os jogos de mãos dadas para representar a união dos jogadores”.

Porém, essa melhoria ainda não era a solução para todos os problemas da Seleção nas eliminatórias. A determinação de quem iria para a Copa ocorreu na última rodada, ocasião em que Bolívia, Uruguai e Brasil disputaram as duas vagas restantes aos EUA do grupo que estavam. Os bolivianos garantiram sua participação primeiro, o que jogou a pressão aos outros dois.

Seleção do Brasil, na Copa do Mundo de 1994, entrando de mãos dadas no jogo contra Camarões, válido pela fase de grupos da competição

O  ritual de entrar de mãos dadas foi mantido até a Copa de 1998 [Reprodução/X: @fifaworldcup_pt]

Um baixinho contra uma nação

Para se classificar, o Brasil precisava de uma vitória contra a bicampeã do mundo. A fim de garantir que esse desafio fosse cumprido, Parreira recuou de suas hostilidades com o principal jogador da geração e convocou Romário à partida como forma de garantir o triunfo e evitar uma maior deterioração da moral da Amarelinha.

Requisitado desde o início do ciclo por torcedores e imprensa, Romário assumiu a responsabilidade, esbanjando confiança, e, em ótima atuação, fez os dois gols da vitória por 2 a 0, que garantiu a vaga brasileira e mostrou que era uma peça indispensável ao time. “Essa foi a oportunidade que solidificou a dupla que representou o Brasil na Copa, Romário e Bebeto”, diz Fredy.

 O Brasil na Copa de 1994

Com o desafio de atrair uma audiência que não acompanhava futebol com a mesma frequência que outros esportes (como basquete, beisebol e futebol americano, por exemplo), os Estados Unidos foram anunciados como sede da 15° Copa do Mundo.

Aquela foi a última edição com 24 times, pois, a partir de 1998, passaram a ser disputadas por 32 equipes. Apesar disso, até hoje possui a maior média de público da história do campeonato (mais de 68 mil presentes por jogo). Foram nove estádios em cidades diferentes:

Tabela dos estádios da Copa do Mundo de 1994, nos Estados Unidos

Fonte:GE

A cerimônia de abertura ocorreu no dia 17 de junho, no estádio Soldier Field, antes do primeiro jogo do campeonato, disputado entre Alemanha e Bolívia. O show contou com nomes famosos, como Richard Marx, Jon Secada, João Havelange (presidente da Fifa), Bill Clinton (presidente dos EUA), entre outros.

A atração principal ficou a cargo da cantora Diana Ross, que protagonizou uma cena marcante daquela edição: ela atravessou o campo até chegar à marca de pênalti, onde havia uma bola. Ross se preparou e chutou para fora. A falha inesperada, no entanto, não desanimou a cantora, que seguiu com o show. Ironicamente, mais tarde, um lance parecido definiria a decisão daquela Copa.

Com metade dos atletas de times brasileiros e a outra metade com jogadores que atuavam no exterior, os 22 convocados de Carlos Alberto Parreira foram:

Goleiros: Taffarel (Reggiana – ITA), Gilmar (Flamengo) e Zetti (São Paulo)

Zagueiros: Aldair (Roma – ITA), Márcio Santos (Bordeaux – FRA), Ricardo Rocha (Vasco) e Ronaldão (Shimizu – JAP)

Volantes: Mauro Silva (La Coruña – ESP), Mazinho (Palmeiras) e Dunga (Stuttgart – ALE)

Laterais – esquerdos: Branco (Fluminense) e Leonardo (São Paulo)

Laterais – direitos: Jorginho (B. Munique – ALE) e Cafu (São Paulo)

Meio-campistas: Zinho (Palmeiras) e Raí (PSG – FRA)

Atacantes: Bebeto (La Coruña – ESP), Romário (Barcelona – ESP), Muller (São Paulo), Paulo Sérgio (B. Leverkusen – ALE), Ronaldo (Cruzeiro) e Viola (Corinthians)

Equipe principal teve mudanças de última hora antes da Copa [Reprodução/Instagram:@bebetpo7]

Fase de grupos

O Brasil estreou sua participação na Copa com uma vitória sobre a Rússia, no Stanford Stadium, na Califórnia, com um gol de Romário e outro de Raí.

O segundo jogo foi contra Camarões e, mais uma vez, o Brasil venceu sem muitos esforços. Romário, Márcio Santos e Bebeto marcaram os três gols do jogo. Um fato curioso sobre esse jogo é que, em 2022, o jornalista Paulo Guilherme Guri revelou que a seleção camaronesa passava por dificuldades financeiras e estruturais e recebeu ajuda do cineasta Spike Lee para arrecadar dinheiro.

A última partida da fase de grupos foi contra a Suécia, que mais tarde ficou com o terceiro lugar daquela edição. Os suecos deram mais trabalho para o Brasil e o jogo terminou com um empate por 1 a 1. Com sete pontos, o Brasil se classificou em primeiro lugar do grupo B.

Romário comemorando gol na Copa do Mundo de 1994 com o banco do Brasil, como Ronaldo Fenômeno e outros jogadores

Com 55 gols, Romário é o quarto maior artilheiro do Brasil em jogos oficiais [Reprodução/X: @fifaworldcup_pt]

Mata-mata

Nas oitavas, a Canarinho passou pelos Estados Unidos em um jogo difícil. Após a expulsão do lateral esquerdo Leonardo, o técnico da Seleção preferiu improvisar o lateral direito Cafu do que usar o substituto direto da posição, Branco — mas o grande momento do camisa 6 naquela edição ainda viria. Bebeto marcou o único gol, suficiente para levar o time às quartas de final.

Em seguida, a Holanda foi a adversária do Brasil, e após abrir dois gols de vantagem no segundo tempo, a Seleção viu os holandeses buscarem o empate e ainda tentarem uma virada histórica. Contudo, Branco, que assumiu a titularidade até a final, garantiu a vitória por 3 a 2 com um espetacular gol de falta, aos 81’.

Sobre este jogo, Uberreich revela um lado sensitivo do goleiro reserva do Brasil: “Quando eu entrevistei o Gilmar [para escrever o livro], ele falou: ‘depois daquele gol do Branco, eu senti que o Brasil ia ser campeão do mundo’”.

Na semifinal, o Brasil reencontrou a Suécia em outro jogo muito equilibrado, no qual o goleiro sueco, Thomas Ravelli, dificultou a vida do ataque brasileiro. O confronto estava se encaminhando para os pênaltis, quando Romário marcou de cabeça o gol que levou o país à fase final da Copa, aos 80’.

A grande final

Taffael comemorando o chute para fora de Roberto Baggio, na final da Copa do Mundo de 1994, contra a Itália

Taffarel foi o primeiro goleiro brasileiro a defender um pênalti em uma final de Copa do Mundo [Reprodução/X: @fifaworldcup_pt]

A decisão da Copa de 1994 aconteceu no estádio Rose Bowl, na Califórnia, no dia 17 de julho. Brasil e Itália repetiam a final histórica de 1970, como uma espécie de revanche para os europeus. Com três títulos para cada lado, o vencedor se tornaria o primeiro tetracampeão mundial. Do lado italiano, craques como Roberto Baggio e Paolo Maldini se destacavam, mas o desgaste físico dos outros jogos e as temperaturas insuportavelmente altas eram um desafio para todos.

O esquadrão brasileiro não teve medo e buscou a vitória a todo momento, mas os “deuses do futebol” pareciam preparar algo especial para aquele jogo, pois a bola simplesmente não entrava para nenhum dos lados. Foi então que o árbitro húngaro Sándor Puhl apitou pela última vez, decretando um final dramático para a decisão: disputa de pênaltis.

Do lado brasileiro, partiram para as cobranças: Márcio Santos, Romário, Branco e Dunga. Já a Itália vinha com: Franco Baresi, Demetrio Albertini, Alberico Evani, Daniele Massaro e Roberto Baggio.

A Itália começou com o pé esquerdo, já que Baresi chutou por cima do travessão, mas Gianluca Pagliuca compensou o erro ao defender a cobrança de Márcio Santos. Em seguida, Romário, Albertini, Branco, Evani e Dunga marcaram sem problemas. Taffarel pegou o chute de Massaro e a responsabilidade ficou nos pés do camisa 10 italiano, Roberto Baggio. O meia-atacante da Juventus partiu e isolou a bola, sacramentando a conquista brasileira do tão sonhado tetra.

Bebeto e Romário: a dupla perfeita

Os atacantes brasileiros formaram uma dupla que entrou para a história da seleção. Juntos, eles fizeram oito dos 11 gols que a seleção marcou naquela edição (três de Bebeto e cinco de Romário). Entre as cinco que ganhou, essa foi a Copa que o Brasil balançou as redes por menos vezes. “Para você ter uma ideia, a seleção de 1970 fez 19 gols em seis jogos, a seleção de 2002 fez 18 gols em sete jogos, e são as duas seleções com mais gols entre as campeãs”, explica Thiago Uberreich.

“Era uma seleção pragmática e isso refletia muito o que o Parreira era: um cara pragmático, ele jogava para garantir o resultado, para classificar a seleção e, claro, para conquistar o título.”

 Thiago Uberreich

Fredy Júnior destaca que Romário e Bebeto ocuparam o espaço que Careca, ex-atacante das Copas de 1986 e 1990, deixou na seleção. “Durante as eliminatórias, ele pediu dispensa e isso abriu oportunidade para Romário entrar e compor a dupla”, complementa.

Segundo ele, uma preocupação constante era manter a união do elenco. Com tantos craques, nem sempre todos concordavam com as escolhas de Parreira. Ele lembra o exemplo de Branco que, inicialmente, não se agradou muito com a perda da titularidade para Leonardo, além de todos os acontecimentos envolvendo o “Baixinho”.

Apesar das polêmicas antes e durante os jogos, Romário foi o nome do ataque brasileiro desde quando garantiu a vaga do Brasil na Copa, contra o Uruguai. “O Romário estava arrebentando no Barcelona, não tinha como não chamar ele. E aí a gente fala a célebre frase do Zagallo: ‘Vocês vão ter que me engolir’; a dupla [Parreira e Zagallo] teve que engolir o Romário, não teve jeito. A expectativa era de que ele fosse o principal nome da seleção brasileira e foi o que aconteceu”, explica Uberreich.

Romário e Bebeto se abraçando, durante um jogo da Copa do Mundo de 1994

A dupla atuou junta em 22 partidas pela seleção brasileira [Reprodução/Instagram: @bebeto7]

O novo jejum

Para amantes da superstição, em 2026, se classificado, o Brasil chegará para a Copa dos Estados Unidos, México e Canadá com uma situação parecida com aquela de 1994: sem vencer as cinco últimas Copas, com mudanças e muita cobrança. O número de participantes, no entanto, é o dobro daquela edição: 48 equipes.

Para Uberreich, o momento é de crise na seleção: “Faltam lideranças, têm menos craques, tem uma crise de identidade do torcedor com a seleção brasileira. O Brasil vive, hoje, uma espécie de novo complexo de vira-latas, como diria lá atrás o [jornalista] Nelson Rodrigues”.

Fredy Júnior analisa que a seleção atual perdeu a credibilidade que tinha antigamente. “Antigamente, existia um respeito, muito pelo que o Brasil fez ao longo do tempo. Hoje, o futebol brasileiro não é respeitado pelos adversários”, conclui.

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