Por Victor Gama (victorgamasilva@usp.br)
Na última quarta-feira, 09 de abril, o Auditório Camargo Guarnieri recebeu o Lançamento da Academia LED – Luz na Educação, uma iniciativa para conectar o jornalismo da Rede Globo às universidades. O evento contou com a presença de representantes da emissora e de autoridades da Universidade de São Paulo. Além deles, Maria Júlia Coutinho, Renata Lo Prete e César Tralli participaram de uma aula aberta para os alunos de jornalismo e comunicação. Os jornalistas também fizeram uma entrevista coletiva com o professor do Instituto de Física da USP, Paulo Artaxo, sobre o tema “Emergência Climática nas Cidades Brasileiras”.
No início do evento foi exibido um vídeo informativo para explicar à plateia o que é o Movimento LED, uma iniciativa da Rede Globo com o objetivo de apoiar projetos educacionais por todo o país. Ricardo Vilela, diretor de jornalismo da Rede Globo, estava no local e contou sobre a origem da Academia LED. Segundo ele, a ideia era convidar os principais jornalistas da casa para repartir conhecimentos e capacitar outros profissionais da emissora.
“A gente tinha muito conhecimento e começamos a repartir isso internamente. Mas sempre tinha uma pulga atrás da orelha de que precisávamos levar isso para fora, porque a gente está num momento crucial da nossa democracia e da história do jornalismo, que precisa ser defendido”.
Ricardo Vilela
Em sua fala, o Reitor da USP, Carlos Gilberto Carlotti Júnior, ressaltou a função da universidade como agente do desenvolvimento social. “É a partir dessa ideia que temos que pensar todas as nossas ações diárias dentro desse espaço” afirmou. Ele também apontou a importância da universidade estar próxima da sociedade, do governo e de empresas, para que o conhecimento produzido possa contribuir na redução das desigualdades sociais.
Devido à mudança do local em que ocorreria o evento, diversos alunos que fizeram o cadastramento online para participar ficaram em pé ou sentados no chão. Em determinado momento, o corpo de bombeiros pediu aos alunos que estavam sentados nas escadas que liberassem a passagem por motivos de segurança. Muitos alunos deixaram o evento antes do término. “É um balde de água fria, mas estou feliz de estar nessa aula com profissionais renomados do jornalismo e da comunicação”, disse um estudante que assistiu ao evento em um telão instalado do lado de fora do anfiteatro.

Na minha época era assim…
Após a apresentação da iniciativa, os jornalistas Renata Lo Prete, Maju Coutinho e César Tralli foram recebidos. No telão principal do evento foram mostradas fotos antigas na época de graduação dos profissionais.
Renata Lo Prete, apresentadora do Jornal da Globo e ex-aluna de Jornalismo da ECA-USP, contou memórias de sua vivência acadêmica. Segundo ela, a universidade teve o importante papel de ampliar seus horizontes para diversas áreas do conhecimento, como em música, filmes e cultura. “Eu não era o protótipo de aluna exemplar na universidade”, confessou. A jornalista também falou sobre a importância do sentimento de pertencimento que a faculdade trouxe e como ela foi feliz durante a graduação.
Por sua vez, César Tralli, apresentador do Jornal Hoje e da GloboNews, falou sobre o tempo que estudou em Londres, logo no segundo semestre de graduação, aos 17 anos. Durante a sua formação, Tralli trabalhou nos arquivos da Gazeta Esportiva e disse que voltava para casa completamente sujo, devido à poeira acumulada nos arquivos.
“Tudo isso para dizer para vocês que essa profissão não tem glamour. Ela é feita de dedicação, humildade, trabalho, escuta ativa o tempo todo e eu estou aqui muito feliz, porque sou um apaixonado por jornalismo.”
César Tralli
Durante sua participação no evento, a apresentadora do Fantástico, Maju Coutinho, contou que desde pequena queria ser jornalista, quando já montava uma bancada de telejornal para brincar. Ela afirmou que, inicialmente, não sabia qual área gostaria de seguir dentro da profissão, mas que tudo mudou na primeira vez que teve contato com o telejornalismo. “Fui me encontrando e descobrindo sobre essa possibilidade de conhecer vários mundos, que é o que realmente me move a ir todos os dias para a redação”, relatou a jornalista.

Momentos marcantes na trajetória na Globo
Os jornalistas convidados também selecionaram momentos marcantes de suas carreiras para trazer ensinamentos aos estudantes. Renata Lo Prete falou sobre a recente cobertura da eleição de 2024 para presidente dos EUA. Segundo ela, escolheu esse momento porque, além de gostar de cobrir eleições, esse episódio foi especial em razão da importância que a reeleição de Donald Trump tinha para o cenário internacional.
Lo Prete abordou também seu processo de preparação para a cobertura de eleições, como o estudo e a carga de leituras que esse momento exige. Para ela, além de uma preparação prévia bem feita, o jornalista também deve ter um instinto de saber como mudar o plano de condução da cobertura com o desenrolar dos fatos e se adaptar ao imprevisível.
“Evidentemente você não pode dar uma notícia afirmativamente antes dela se confirmar, mas você tem que usar a informação para vertebrar a sua cobertura.”
Renata Lo Prete
Tralli trouxe ao público uma reportagem antiga, de 1996, da época em que era correspondente internacional da Rede Globo em Londres. A reportagem em questão tratava de uma visita do jornalista à usina nuclear de Chernobyl dez anos depois do acidente nuclear que marcou a década de 1980.
Ao falar sobre a cobertura, Tralli comentou sobre a importância do jornalista buscar estar no local onde os fatos aconteceram ou estão se desenrolando. No caso da visita à Chernobyl, ele apontou que, apesar das limitações que a radiação trazia em seu trabalho, ele tentava apresentar ao público o máximo de informações que conseguia.

Ao compartilhar um momento marcante em sua trajetória, Maju Coutinho contou ao público sobre a sua reportagem na comunidade tabom, em Gana. Para ela, essa reportagem foi importante por abordar a África de uma perspectiva diferente e não em um contexto de pobreza e miséria. Além disso, Maju disse que foi marcante aprender sobre a forma que a comunidade lida com a morte. “Essa maneira com que eles tratam a morte é muito diferente da nossa. Eles celebram a vida, a existência dessa pessoa. Depois do choro, há uma celebração”, completa.
Emergência climática nas cidades brasileiras
Como parte da aula aberta aos alunos, Maju, Lo Prete e Tralli realizaram uma entrevista coletiva com o professor Paulo Artaxo sobre “Emergência Climática nas Cidades Brasileiras”. Os três jornalistas fizeram perguntas relacionadas ao tema para o professor. Em setembro de 2024, Artaxo participou de uma reunião com os presidentes da República, da Câmara dos Deputados, do Senado e do STF sobre a extensão dos danos causados ao clima e formas de enfrentamento às mudanças climáticas para o futuro.
Para o professor, o mundo está percebendo que o modelo de produção adotado não é sustentável, nem mesmo a curto prazo, e que o planeta está chegando ao limite por conta da exploração. “Deixar o planeta aquecer quatro ou cinco graus deveria estar fora da agenda”, alerta. Ao ser perguntado por Tralli sobre qual o modelo econômico que se deve aderir para frear o avanço dos danos ao clima, Artaxo diz que esse modelo ainda não existe, e que ele deverá ser construído com toda a sociedade.
Edital da Academia LED
Ao final do evento, foi divulgado o edital de participação da “Academia LED – Jornalismo Globo na Universidade”, que vai incentivar ideias criativas de estudantes de jornalismo na construção de pautas com foco em temáticas ambientais. Cinco alunos serão selecionados e conhecerão de perto o dia a dia de um jornalista dentro da Rede Globo. Além disso, receberão um incentivo de 10 mil reais para produção da matéria. Confira todos os detalhes do edital aqui.