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Exposição de Van Gogh em São Paulo proporciona uma experiência imersiva e reflexiva

Beyond Van Gogh encanta visitantes com jogos de luz e sombra, mas espanta pela falta de aprofundamento sobre o pintor.

Há quem diga que Vincent Van Gogh era um artista perfeito. Outros alegam que o pintor era louco e que suas obras se esvaziaram de sentido, tornando-se meramente comerciais. Existe, também, quem concorde com ambos. É inegável, contudo, que seu nome é, atualmente, um dos mais importantes na história da Arte Ocidental. 

Assim, a notícia de que o Shopping Morumbi, na Zona Sul da capital paulista, abrigaria uma exposição acerca das obras de Van Gogh a partir do dia 17 de março de 2022, foi motivo de euforia: mais de 20 mil ingressos foram comprados antecipadamente para visitação. 

Imersão artística

As expectativas eram enormes tanto para aqueles que já eram fãs de seu trabalho artístico e buscavam apreciá-lo de uma nova maneira, quanto para aqueles que viram na exposição uma oportunidade de atualizar suas fotos nas redes sociais. Ainda assim, nenhum dos dois grupos saiu decepcionado — ou não muito. 

Desde o momento em que adentram as instalações, os visitantes já são surpreendidos com obras de luz e de sombra, antes mesmo de apresentarem os ingressos, fato que permite que se ambientem e tenham uma prévia do que virá em seguida. Então, são conduzidos por um pavilhão de cerca de 2 mil metros quadrados iluminado por mais de 40 mil projetores, os quais criam um cenário que beira o místico ao inundar os cenários com frases e obras do pintor holandês. 

A imagem apresenta o quadro Os Comedores de Batata em um circulo ao centro, com preto nas laterais, em imagem tirada na exposição das obras de Van Gogh. Os cinco personagens são pessoas pardas, utilizando roupas verdes, toucas brancas e com facas na mão cortando batatas em um prato sobre uma mesa de madeira.
Um dos quadros mais famosos de Vincent é Os Comedores de Batata (1885), o qual retrata trabalhadores pobres, um dos grupos mais retratados em suas obras, uma vez que não costumavam cobrar para servirem de modelo. [Imagem: Reprodução/Duda Ventura]

O artista

A história de Van Gogh é narrada na exposição de maneira crua por meio de alguns trechos de suas inúmeras cartas enviadas a seu irmão Theo, que fora seu principal incentivador, financeira e emocionalmente. Estima-se que o artista tenha enviado 652 cartas fraternas expondo seus pensamentos em relação aos acontecimentos de sua breve vida: ele viveu apenas 37 anos. Os sentimentos que ali são apresentados — simples, mas intensos — podem ser observados também em suas obras, as quais são tidas como impulsionadoras de movimentos artísticos como Abstracionismo, Expressionismo, Fauvismo e, até mesmo, o Modernismo brasileiro

Apesar de seus curtos anos de vida — e mais curta ainda carreira artística, que durou pouco menos de dez anos — Van Gogh pintou 879 quadros, entre eles auto retratos, retratos, cenas bucólicas e a vida de trabalhadores pobres. Em Beyond Van Gogh, 300  quadros se misturam e pintam as paredes, o teto e o chão do local de luz. É um modo de exposição digital imersivo, em alta nas tendências mundiais, mas que se apresenta como novidade para os amantes de arte brasileiros. Tal fato talvez explique, em parte, o porquê de tamanho sucesso, apesar do alto preço dos ingressos — os valores variam de 28 a 200 reais, uma vez que inclui pacotes com mais ou menos atrações. 

A experiência

A exposição, contudo, não alerta para os dois pontos negativos que carrega. Primeiramente, as fotos postadas nas redes sociais da exposição não preparam os visitantes para a quantidade de pessoas que poderão aproveitar as atrações simultaneamente. Por vezes, pode ser um empecilho para o aproveitamento completo da música ambiente e das luzes, uma vez que as pessoas formam diversas sombras e se colocam na frente das peças expostas buscando os melhores ângulos para suas fotos— experiência que é consequência direta do caráter comercial das obras de Van Gogh. 

Além disso, para aqueles que buscam um aprofundamento dos conhecimentos acerca do pintor, o desengano pode ser grande: as citações expostas, embora interessantes, são  esparsas e rasas, sem preocupação em fazer com que os visitantes entendam sua relação e relevância para a trajetória do pintor. É necessário, para uma experiência completa, que estudem sobre as vivências e obras do artista previamente, uma vez que Beyond Van Gogh não se propõe a fazê-lo — nesse viés, outra exposição paulistana, a do Museu de Arte de São Paulo (MASP), conta com algumas das obras de Van Gogh em espécie, e pode contentar aqueles que buscam observá-las e entendê-las mais profundamente.

 

Um ambiente com paredes cobertas por uma projeção branca com traços pretos desenhados é ocupado por diversas pessoas de várias etnias, estilos de roupa e que se ocupam de tirar fotos, conversar ou olhar ao redor, na exposição de Van Gogh.
A exposição é visitada por centenas de pessoas ao mesmo tempo, o que pode comprometer a visita daqueles que buscavam um ambiente silencioso e imersivo. [Imagem: Reprodução/ Duda Ventura)]

Reconhecimento e encanto

Já no que tange aos pontos positivos a serem destacados, a parte inicial da exposição, composta por finos tecidos com girassóis desenhados, é instigante e divertida, assim como o quarto ambiente, onde as obras de Van Gogh parecem “derreter” e iluminar aqueles que por ali passeiam, apesar de não serem as mais “instagramáveis”. Beira o cômico observar que um pintor menosprezado em vida, ao ponto de ter vendido apenas um quadro, se tornaria, 216 anos depois, um ícone pop digno de exposições que levam milhares de pessoas ao redor do mundo a tirarem fotos com suas pinturas ao fundo. 

https://www.instagram.com/tv/CbaMAqFJj_6/?utm_medium=copy_link 

De maneira imersiva, o artista permeia o imaginário de cada um que passeia pelas instalações que viajaram o mundo, e encanta os brasileiros agora: primeiro os paulistanos, e, a partir do dia 3 de julho, os brasilienses. A morte de Vincent ainda pode ser um questionamento não respondido: teria ele se suicidado por meio de um tiro na cabeça? Ou teria sido alvo de uma bala perdida? Talvez tenha morrido pela depressão unida à abstinência. Entretanto, aqueles que visitam a exposição podem responder a essa pergunta de maneira clara e óbvia: Van Gogh ainda vive, e seus sentimentos expressos em tela e carta continuam latentes no coração de cada um daqueles que entram em contato com suas obras.

Imagem de capa: [Reprodução/Duda Ventura)]

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