Jornalismo Júnior

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Quanto maior a pluralidade de voz, maior a qualidade do texto

Desde as primeiras aulas no curso de jornalismo aprendemos que “notícia precisa ter fontes”, sejam elas vindas de pessoas ou de documentos. As fontes são as declarações de autoridades, de especialistas e de gente comum, são também de representantes de grupos, de instituições, ou ainda de registros escritos que transmitam credibilidade, são os dados de …

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Desde as primeiras aulas no curso de jornalismo aprendemos que “notícia precisa ter fontes”, sejam elas vindas de pessoas ou de documentos. As fontes são as declarações de autoridades, de especialistas e de gente comum, são também de representantes de grupos, de instituições, ou ainda de registros escritos que transmitam credibilidade, são os dados de estatísticas, de estudos e tudo que envolva informações relevantes ao público. 

Mas quando me refiro especificamente às fontes que são relacionadas às “pessoas”, ressalto que nos textos jornalísticos, independente do meio, estas são personagens dotadas de algum tipo de conhecimento que tem relevância pública, ou, em outras palavras, que interessa à opinião pública. 

Seguindo esse raciocínio, para esta coluna acredito ser importante destacar uma questão: pluralidade de voz. Como assim? É fato que todo bom jornalista já sai em busca do cumprimento da sua pauta sabendo da “exigência” de ouvir a fonte, mas eu diria que não é só isso. É preciso pensar que para a boa compreensão do público (e para ser fiel aos fatos) é necessário ouvir quem?

Aqui, contudo, não estou me refiro ao contraditório, ou seja, a busca por várias versões para contemplar visões diferentes sobre o mesmo tema. Em alguns momentos isso é importante sim, mas cuidado! Afinal, a pandemia nos mostrou que colocar lado a lado os pontos de vista de um cientista e de um negacionista da ciência não é definitivamente apresentar visões diferentes. 

Voltando ao raciocínio. Como vou saber com quem devo conversar? A pauta lhe dirá. Se a ideia estiver clara, ela já lhe diz o caminho a percorrer, o ângulo a ser abordado e, naturalmente, as pessoas que você precisa consultar. A pluralidade permite que o texto não fique dependente de uma única voz.

Todos os textos selecionados para essa coluna trazem fontes, e eu diria que são boas fontes, dentro do recorte apresentado, mas sempre há o que melhorar. As observações a seguir são nesse sentido.

A reportagem “Novo aumento no valor dos combustíveis ameaça política de preços da Petrobras”, de Laura P. Lima e Thais Morimoto (JPRESS) é um bom exemplo. A dupla trabalha com uma pauta quente do hard news e busca ouvir dois especialistas, cujas declarações se complementam e dois personagens que relatam como esse problema os afeta diretamente.

Em “Futebol e violência: não generaliza as torcidas organizadas”, de Mariana Rossi (ARQUIBANCADA) há uma fonte excelente e a repórter faz uma boa pesquisa, mas falta ali uma fala, uma reflexão dos próprios envolvidos: a torcida organizada.

O mesmo ocorre com “Perfil das mulheres que sofrem atraso no tratamento do câncer do colo de útero é retratado em estudo”, de Alessandra Ueno (LABORATÓRIO). O principal foi feito: ouvir uma das responsáveis pela pesquisa, mas nada como ouvir as mulheres que vivem isso no seu dia a dia. 

À ombudswoman, a editoria Laboratório escreveu “o texto criticado foi produzido nos moldes de um projeto de textos de divulgação científica existente na editoria, no qual o prazo de entrega e postagem das produções é orientado pela data de embargo das pesquisas científicas selecionadas. Portanto, compreendemos a importância da pluralidade de fontes e vozes nos textos jornalísticos, inclusive os científicos, porém, neste caso em específico, buscamos simular a prática ágil de divulgação científica realizada em grandes veículos, e a inclusão de fontes além da(o) pesquisadora(o) envolvida(o) no estudo estenderia o tempo de produção dos textos”.

Os textos “Casais gays no cinema mainstream e a falta de finais felizes”, Suelyton Viana (CINÉFILOS) e “O Tiktok é o novo caminho para o sucesso?” utilizam mais de uma fonte, mas sugiro algumas reflexões. 

O primeiro texto inova ao fazer uma pesquisa de campo (uma enquete?!). No entanto, é importante explicar melhor esse método, como foi feito e porquê. Há a menção de que ouviram algumas pessoas e até cita algumas informações obtidas a partir dela, mas o seu uso da forma como está acaba gerando mais perguntas: onde as entrevistas aconteceram (ruas, redes sociais), foi um questionário com quantas perguntas e o que foi questionado? Sempre é importante detalhar essas informações. Quanto a outra fonte, ok. Ela é super pertinente, mas pensei também em um especialista em audiovisual, alguém que estuda gênero neste segmento. 

Já o segundo texto (sobre o Tiktok) traz duas fontes que, na prática, estão no mesmo patamar: de usuárias que refletem sobre suas experiências com a rede social. Considerando a pergunta que é feita no título seria fundamental ouvir um personagem que esteja nesse caminho de busca do sucesso, ou seja, como está utilizando a rede na busca desse sonho. Talvez uma das fontes já mencionadas esteja passando por isso, mas na escolha das aspas não ficou claro. O que também faria o texto ficar “mais redondo” é ouvir um especialista que esteja estudando o fenômeno. Aí a reportagem englobaria três pontos importantes: o especialista que tenta explicar o fenômeno, pessoa (s) que usa (m) a (s) rede (s) e o que ela (s) observa ou tem observado e o personagem que exemplifica a reflexão proposta. 

Os textos fazem sentido?

Sim! Todos fazem e, não sei se foi consciente ou não, todos também trazem um olhar sociológico, digamos assim.

Cada uma das reportagens em suas respectivas editorias reflete sobre o fenômeno considerando o contexto social, político, econômico e histórico. Há essa observação de como certos pontos estão sendo observados, retratados e até renegados. Pode parecer óbvio que o jornalismo faça isso, mas nem sempre é o que ocorre na prática.

ARQUIBANCADA faz um levantamento histórico muito interessante que não se vê nesse tipo de pauta na grande mídia. O mais fácil sempre é atacar as torcidas organizadas. 

CINÉFILOS procura entender como produtos culturais podem reforçar preconceitos. A ideia aqui é refletir como o cinema tem alimentado a ideia, muitas vezes, de que a população LGBTQIA+ não têm direito ao final feliz. 

PRESS traz a notícia quente mesmo. É uma pauta discutida pela grande mídia, mas aqui há o olhar particular da Jota sobre a temática. 

LABORATÓRIO chama atenção – a partir de usa pesquisa – o quanto a saúde da mulher carece de um olhar mais atento por parte do poder público.

SALA33 é super atual ao reconhecer o impacto do Tiktok e se propor a refletir sobre como lidar com ele. 

Quanto à escrita, chamo atenção mais uma vez para a repetição de palavras, frases que nem sempre são bem conectadas, uso de queimos e sugestão para sempre mesclar citações diretas e indiretas. LABORATÓRIO, por exemplo, há o uso demasiado da palavra “estudo”. Sempre é possível fazer uma limpeza. 

*Carla de Oliveira Tôzo é jornalista e mestre em Comunicação pela Universidade Metodista de São Paulo, doutoranda em Comunicação pelo PPGCOM-ECA-USP, professora universitária. Foi repórter freelancer em revistas cobrindo temas ligados a beleza, saúde e estética.

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