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III Festival do Cão relembra a necessidade de espaços estudantis na USP

Entre 31 de outubro e 14 de novembro acontece o III Festival do Cão, evento artístico bastante simbólico na Universidade de São Paulo por ser construído inteiramente pelos estudantes, para eles, estendendo-se para além dos muros da Universidade. Nesse post você  sabe mais detalhes sobre o Festival, sua história e seu significado político.  “Canil Vive!” …

III Festival do Cão relembra a necessidade de espaços estudantis na USP Leia mais »

Entre 31 de outubro e 14 de novembro acontece o III Festival do Cão, evento artístico bastante simbólico na Universidade de São Paulo por ser construído inteiramente pelos estudantes, para eles, estendendo-se para além dos muros da Universidade. Nesse post você  sabe mais detalhes sobre o Festival, sua história e seu significado político.  “Canil Vive!”

Canil e os primórdios do festival

A história da ocupação do Canil é muito significativa para a luta estudantil com relação a conquista de espaços livres – onde suas criações não estejam vinculadas à burocracia universitária. No início, a construção era usada como uma casa de máquinas, que ao longo do tempo foi abandonada. Com a demanda de um lugar para prender os vira-latas que estavam soltos pela faculdade, criou-se ali um canil, tão logo abandonado. Em 2006, os estudantes entraram no local, libertando os animais e ocupando-o permanentemente. O Canil tornou-se um espaço de livre produção e criação.

Em junho de 2012 aconteceu o primeiro Festival do Cão, organizado autonomamente pelos estudantes da USP. A proposta do evento era ocupar artisticamente o Canil. O evento contou com a presença de diversos nomes do circuito alternativo brasileiro, como Trupe Chá de Boldo, Tatá Aeroplano e Filarmônica de Pasárgada, além de discotecagens que animaram o público. Por três dias a entrada no campus ficou liberada 24 horas, para comemorar os 6 anos, 6 meses e 6 dias da ocupação do Canil.

Canil. Reprodução

 

Em 23 de dezembro do mesmo ano, durante as férias letivas, essa construção foi demolida para dar lugar ao jardim da nova reitoria, que ainda está em obras.

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Canil após demolição. Reprodução Guilherme Minoti

 

II Festival e a Geodésica

Após a destruição do espaço dedicado à experimentação estudantil, os alunos logo se mobilizaram para uma reconquista do seu território. Foi nesse momento que surgiu a ideia de reconstruir o Canil, sob um novo formato. Com o auxílio de alunos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, foi feito o projeto de uma geodésica construída sem qualquer auxílio da universidade.

Geodésia. Reprodução

Durante uma semana, entre os dias 3 e 7 de junho, foi chamado o II Festival do Cão, que contou com uma mobilização grande de pessoas unidas para a reconstrução desse espaço. Foi durante o evento que o piso foi cimentado e a estrutura metálica começou a ser levantada.

III Festival do Cão e a reafirmação dos espaços estudantis

Prainha da ECA e Canil em construção. Reprodução

A terceira edição do festival foi criada para finalizar a construção da geodésica e comemorar a conquista de um novo espaço de livre criação dentro do espaço universitário.

A programação está espalhada por duas semanas, entre o dia 31 de outubro e 14 de setembro, com apresentações musicais nos dias 31, 1 e 14. Há também uma mostra de curtas e a pré-estréia do filme “Lira Paulistana”.

A quinta-feira do III Festival do Cão: um Canil ainda mais vivo

O primeiro dia contou com muitos voluntários para fazer crescer em alguns andares a estrutura metálica do novo Canil, ao fim do dia ele estava em pé e com o dobro do tamanho inicial. Coberto com uma lona e com um palco interno, o espaço tão idealizado tornou-se uma realidade.

O evento começou tranquilo, timidamente. A noite foi caindo e as pessoas apareceram. Até quem estava na organização se surpreendeu com o número de participantes. O Canil reerguido, renascido em forma geodésica foi cercado de gente por todos os lados, e a multidão se espalhou pelo gramado, pela prainha, pela Escola de Comunicações e Artes.

Apresentação catártica do Coro de Carcarás, que tem o maracatu como principal ritmo. O conjunto é bastante engajado politicamente e sempre faz intervenções em suas apresentações. Foto: Reprodução

Ao mesmo tempo em que os preparativos finais para a festividade eram feitos, acontecia a Assembleia Geral dos estudantes da USP, na qual estava sendo decidido o futuro da greve, que já completa um mês. Foi dela que saiu em cortejo o Coro de Carcarás, maracatu mantido pelos estudantes, que também promove intervenções cênicas e um forte discurso político. Quanto todos chegaram à prainha da Escola de Comunicações Artes (onde fica o Canil), deu-se inicio a um ato em que foram quebrados os tapumes que circulam as obras da nova reitoria.  As vezes era possível escutar uivos que os participantes do evento soltavam em homenagem ao Canil e sua história.

Com força o Coro continuou tocando e promovendo uma catarse coletiva, enquanto alguns  mais empolgados começaram uma fogueira alimentada pelos tapumes. A simbologia desse ato é claramente mostrar como, mesmo com as imposições físicas da reitoria, os jovens não se sentem acuados e se mantem motivados a criar novas formas de ocupar culturalmente o ambiente da USP.

Apelidado de “festival da greve” por alguns, o evento aconteceu em um momento significativo, em que mais de 70 cursos da USP sofreram alguma paralisação de atividades por parte dos estudantes. A principal reinvindicação é o direito de escolher que reitor irá liderar a USP. A foto mostra a fogueira de tapumes feita em frente à nova reitoria, nos arredores da prainha, do antigo e do novo Canil. Foto: reprodução

Após essa apresentação subiram ao palco as bandas Banda do Canil_, Quarteto Bonanza, Pássaro Concreto e Banda Cão. Estes fizeram apresentações musicais que fugiram do padrão comercial, com uma pegada psicodélica e experimental. Ao mesmo tempo, quem assistiu aos shows pôde ver projeções feitas no prédio da reitoria, com o logotipo do festival e intervenções feitas pelos alunos.

Foi uma quinta-feira muito significativa para os estudantes, que mostrou a todos a possibilidade de organizar um evento de cunho artístico-político, mesmo com as dificuldades impostas pela burocracia universitária.

 A sexta-feira do III Festival do Cão: arte, apesar de tudo

O segundo dia do III Festival do Cão, marcado para a sexta-feira que abriu o mês de novembro, começou com contratempos. Após a primeira noite de intervenções musicais e artísticas bem sucedidas na Prainha da ECA, questões logísticas (sobretudo em relação ao fornecimento de energia elétrica) obrigaram a organização do evento a transferir para lá os shows de sexta, originalmente previstos para acontecerem na Praça do Relógio da USP.

Terceira edição do Festival do Cão. Foto Natália Caseu

Assim, foi na Prainha, sede do Canil original e de sua reconstrução inaugurada no Festival, que as intervenções aconteceram mais uma vez. Aos olhares do imponente prédio da Nova Reitoria da USP, novamente cercado pelos tapumes derrubados por estudantes na noite anterior, o público pôde apreciar não apenas um respeitável line-up de bandas tocando no novo e geodésico Canil, mas também uma dobradinha das festas Voodoohop e Calefação Tropicaos, em frente ao Departamento de Cinema, Rádio e Televisão (CTR).

Projeções feitas na parede da nova Reitoria, ao lado da Prainha. Foto: reprodução

Na vivência da ECA, principal espaço estudantil da faculdade, que está ameaçado de demolição atualmente, aconteceram intervenções de rappers, coletivos e sound systems. Estas atraíram um bom contingente de pessoas para o local, decorado à caráter com fitas coloridas e paredes cobertas de cartazes e grafites.

Rap e Sound System rolando solto na vivência da ECA. Foto: Ana Luiza Cruz Bodiao

 

Enquanto projeções cobriam digitalmente as paredes da Nova Reitoria, os shows no novo Canil vararam a madrugada. Mamparra, Clube Flamingo, Meia Dúzia de 3 ou 4 e Quinteto Clandestino foram os primeiros grupos a se apresentar, sendo sucedidos pelo emergente trio O Terno – atração do próximo Planeta Terra Festival – e pelos amálgamas instrumentais do Chimpanzé Club Trio, que inundou a Prainha com psicodelia derivada do jazz e do funk.

Final da banda O Terno. Foto: Natalia Caseu

Com os grupos Família Gangsters e Afro Hooligans ainda escalados para se apresentar, a noite começou a clarear e o festival perdurou no início da manhã de sábado.

Festival carregado de símbolos

Mesmo longe de seu fim oficial, no dia 14 de novembro, o III Festival do Cão já pode ser considerado um sucesso. Em um momento delicado para o Movimento Estudantil da USP, que busca voz para reivindicar suas pautas às vésperas da reintegração de posse da reitoria, aprovada nessa semana pela justiça, e de uma nova eleição para Reitor, o evento tem conseguido superar esses percalços.

O Festival do Cão não foi organizado simplesmente divertir e entreter. Veio parar mostrar que a Universidade é um espaço público e que pode, e deve, ser usado pelos estudantes e pelos que estão fora da USP. Por isso, não basta apenas  tais espaços como caminhos e meios, mas para ações e como fins.

Este é o festival da resistência. Dos estudantes para os estudantes e também para a sociedade. Com arte, música, intervenções e (por que não?) festas, o Festival do Cão abre as portas para quem bem quiser entrar na USP.

Confira mais informações e o calendário completo do Festival em seu site oficial ou no evento do Facebook.

Por Pedro Passos, Marcelo Grava e Arthur Aleixo

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