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Muitas felicidades, muitas derrotas: o aniversário de 80 anos do Íbis

Fundado em 15 de novembro de 1938 por um grupo de operários de uma empresa de tecelagem, em Pernambuco, o Íbis Sport Club se tornou um dos mitos do futebol brasileiro e mundial. Comemorando 80 anos de vida, o time assume com honra sua alcunha do passado, mas tem um novo perfil no presente. E, …

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Equipe que “mais perdeu” no futebol celebra oito décadas com bom humor, orgulho e desejo de voltar à Série A do Pernambucano (Imagem: Hugo Vaz/Comunicação Visual – Jornalismo Júnior)

Fundado em 15 de novembro de 1938 por um grupo de operários de uma empresa de tecelagem, em Pernambuco, o Íbis Sport Club se tornou um dos mitos do futebol brasileiro e mundial. Comemorando 80 anos de vida, o time assume com honra sua alcunha do passado, mas tem um novo perfil no presente. E, de praxe, nunca deixa de lado sua irreverência, que resgata as raízes do futebol.

No país do futebol, temos berço de ouro para gerar craques. A Rainha Marta, seis vezes melhor do mundo, e o Rei Pelé; cinco títulos mundiais e… o pior time do mundo também. O Íbis é conhecidíssimo no território tupiniquim por um legado nada convencional: os longos jejuns sem comemorar nenhuma vitória.

Na década de 1970, o time ficou 23 partidas sem vencer e conseguiu a proeza de perder nove vezes seguidas! O momento de crise foi registrado no Livro dos Recordes, o Guinness. O jejum foi quebrado no dia 20 de julho, diante do Ferroviário, com um gol marcado a favor do Pássaro Preto. Contudo, se engana quem acredita que o ruim não pode piorar ainda mais.

Após a vitória – sensação que o torcedor pernambucano já quase esquecia –, o pior time do mundo superou seu próprio recorde e ficou até junho de 84 sem ganhar uma partida. A fama cresceu e o apelido se espalhou, e continua forte nas resenhas de torcedores até hoje.

O time é da cidade de Paulista, na região metropolitana de Recife. O símbolo do time é um pássaro preto – apelido pelo qual a torcida costuma chamar a equipe também –, presente em algumas regiões do mundo e cultuado na mitologia egípcia. Contudo, o que parece lendário são os personagens e aspectos que compõem a trajetória desta equipe.

Em 1999, a cidade de Paulista viveu um paradoxo universal: enquanto o Íbis continuava seu trabalho de pior time, o jogador Rivaldo (aquele do penta de 2002), que era criação da terrinha, foi eleito o melhor jogador do mundo pela Fifa. Um momento único na vida do município e na linha do tempo do planeta bola, diga-se de passagem.

Brasão do time e seu “título” (Foto: Divulgação – Íbis)

Há grandes jogadores que vestiram a camisa vermelha e preta e jogaram no “Cunhão”, o estádio do Íbis. Vavá, atacante bicampeão mundial com a canarinho em 1958 e 1962, jogador do Vasco e do Atlético de Madrid, jogou pelo — até então não tão ruim assim — pássaro preto. Outro jogador de destaque é Bodinho, que passou por Flamengo e Internacional; sem falar de Rildo, criação da casa, que foi para o Sport e, tempos depois, para o Santos de Pelé. Porém, essas figuras ficam ofuscadas por uma estrela ainda maior dos gramados.

Um meio-campista, dono da camisa 10 e de uma cabeleira que justifica o nome. Mauro Shampoo: jogador, cabeleireiro e homem. É assim que o maior ídolo do time da pernambucana Paulista se apresenta. O”cabeleireiro” também é por conta da  antiga profissão que ele dividia com a dos gramados. Certamente, desbancaria Cristiano Ronaldo nas publicidades de shampoos anti-caspas. Virou até documentário do Canal Brasil, com o curta com seu nome e sua descrição usada e famosa. Sua rotina de profissional com as tesouras e as memórias com as chuteiras foi mostrado nas telas. Antes de pendurar as chuteiras, Mauro se transformou no maior nome do hall dos craques através de um lance… único, podemos assim dizer.

Foi um gol. Não um gol qualquer. Foi um de honra, pra ficar marcado eternamente em todos os tempos em que o futebol existir. Não se sabe ao certo como se desenhou a jogada até hoje. A maioria da imprensa adota a versão gloriosa. O jogo era contra a equipe do Ferroviário, válido pelo Pernambucano. O apagar das luzes se aproximava. Mas antes do apito final, brilhou a estrela e a cabeleira de Mauro Shampoo. O camisa 10 chutou no rebote do goleiro adversário e marcou o gol do Íbis! Segundo ele, comemorou euforicamente dando volta olímpica pelo o estádio. O juiz encerra o jogo e o marcador apontava os 8 gols feitos pelo Ferroviário conta 1 do Pássaro Preto.

Para melhorar, ou melhor, piorar o contexto, não havia imprensa e pessoas na arquibancada, segundo Shampoo. A partir daí, correu o boato de que o gol nem foi de sua autoria: na verdade, foi contra. Para ninguém mais ter dúvidas, ano passado o Íbis organizou um jogo de veteranos e Mauro Shampoo fez um gol e que foi registrado — agora sim! — na Arena Pernambuco.

Além de artilheiro de um só gol, Mauro é dono de um salão de cabeleireiro (Foto: Terni Castro)

De olho no presente

O slogan de pior time do mundo não é tão exercido atualmente. O time fez recentes campanhas que quase lhe deram a chance de retornar à primeira divisão do estadual. Em 2016, chegou a encabeçar a ponta da tabela e, de quebra, com invencibilidade. Só parou nas quartas de final, diante da Sociedade Esportiva Decisão Futebol Clube.

Nesse ano, o trabalho continuou em ritmo parecido. O Pássaro Preto avançou para a fase de mata-mata e enfrentou o Serrano Futebol Clube. No jogo de ida, o zero não saiu do marcador. A vaga para as semifinais estava aberta ainda. No Cunhão, o placar continuou sem gol e a disputa foi para os pênaltis. O Íbis converteu 4 cobranças contra 5 do Serrano. Foi por pouco. Lembrando que, na série A2 do Pernambucano só sobe um time, no caso, o campeão. A última vez que o Íbis jogou nos gramados da primeira divisão foi em 2000. A saudade é enorme.

Um dos jogadores que faziam parte do elenco nas temporadas 2017 e 2018 era Lucas Sabino. O atacante era peça chave na formação tática fazendo gols. Em entrevista ao Arquibancada, o camisa 11 ressalta que o diferencial do clube é o acolhimento e confiança nos seus jogadores. “É um clube que acredita no talento de muitos jogadores que estavam um pouco desacreditados. Nosso time esse ano e no ano passado era de jogadores que tiveram base em times grandes, como o Bebeto, que jogou no Avaí, no Figueirense, um cara consagrado de 41 anos de idade e que nos passou muita experiência.

Enfim, é um clube que hoje e sempre foi conhecido, infelizmente, pelo marketing negativo de ’pior time do mundo’. Mas nesses dois anos conseguiu um pouco mudar essa história de pior do mundo para time vencedor. O Íbis é um clube sensacional, cara! É um clube que acredita, dá oportunidade para os jogadores aparecerem, um clube que tem a vitrine… É um clube do povo.”

O atacante, que fez a base no Santa Cruz e chegou a largar o futebol depois de uma perda familiar em 2012, é um próprio exemplo disso. “Foi um ano um pouco turbulento, eu tinha 17 anos e pouco de maturidade. Em 2013, eu larguei um pouco o futebol. Perdi meu apoio, minha base, então eu fiquei um pouco sem rumo. Após três anos eu voltei a jogar futebol. Tive a oportunidade de jogar pela Cabense aqui, pelo estadual. Não tive um ano muito bom, mas foi um clube onde abriu as portas pra mim e, no ano seguinte, em 2017 e em 2018, foram dois anos de Íbis. Foi um clube, como eu digo, que eu sou grato demais a ele porque foi um grupo que acreditou em mim.”

Na sua chegada, Lucas Sabino já sentia que algo diferente viria acontecer. “O presidente abriu as portas pra mim. Foi algo que já estava predestinado perante a espiritualidade. E foi um ano onde a gente conseguiu mudar a história de onde passaram-se três anos sem conseguir nenhuma vitória e acabou que em 2017 a gente acabou ganhando muitas partidas e fomos eliminados com duas derrotas.”

O camisa 11 do Pássaro Preto, Lucas Sabino (Foto: Caio Falcão)

Lógico que houve questionamentos e comentários sobre o jogador rumar para o pior do mundo. Lucas driblou com habilidade as críticas e, como o clube acreditava nele, ele também acreditava no Pássaro Preto. “Eu sou jogador de futebol: tenho que ir para onde me valorizam e acreditam no meu trabalho. Eu recebi muitas críticas de colegas, de vizinhos e algumas outras pessoas que tentaram jogar futebol dizendo ‘Poxa, meu irmão! Você vai jogar no Íbis?’ e eu disse que era um clube que acreditava em mim quando nenhum outro estava acreditando. A gente tem que ser grato pelas mínimas coisas. Foi extremamente importante pra minha vida e está sendo até hoje.”

E assim foi. O camisa 11 pôde melhorar sua participação no elenco em seu segundo ano, graças ao seu trabalho e a confiança do clube. “Na segunda temporada, eu pude me destacar por causa dos gols e acabei me adaptando a uma nova posição: jogo de atacante e pude fazer aquele falso nove. Foi uma posição em que me senti confortável. Pude fazer cinco gols no campeonato e foi um momento muito bom porque eu pude assumir aquele papel de fazer os gols junto com meus companheiros e aquilo ali foi fundamental.”

Sobre a eliminação, Sabino diz: “Quando começou o campeonato, a gente entrou sabendo que seria difícil, mas o objetivo era esse e não tinha outro. Só sobe um. A gente foi jogo a jogo, mas visando sempre o título que era tão sonhado. Infelizmente, o futebol não é sempre como a gente quer ou como a gente espera. Nem sempre o futebol acaba sendo justo. O jogo é detalhe e, nesse jogo, ele acabou sendo detalhe e a gente ficou de fora. Mas é bola pra frente, que no próximo ano as coisas possam ser diferentes para o Íbis.”

Tweets e risadaria

Sucesso nas redes sociais, principalmente no Twitter, o clube gosta de tirar uma com os outros times do Brasil. Até mesmo internacionais. Com muito bom humor e zoeira, o Íbis Mania – administrado pelo jornalista, publicitário e torcedor Nilsinho Júnior – sempre faz posts que repercutem e, em alguns casos, até incomodam páginas relacionadas aos times. A página no Instagram, por exemplo, tem cerca de 73 mil seguidores. O site traz uma contagem dos números negativos, que são motivos de orgulho. Segundo ele, são 12503 gols sofridos, 236 títulos perdidos e um jogador cabeleireiro.

Bom humor nas redes sociais é marca registrada do clube de Pernambuco (Foto: Reprodução / Twitter)

Além do mais, a própria torcida entra nesse embalo. Quando, por exemplo, o time estava na série invicta citada, houve pichações contra a boa fase. Os torcedores mais antigos e um pouco mais fanáticos gostam é de manter o posto de pior time do mundo, exercendo as conhecidas e grandes derrotas por goleadas.

Os torcedores não ficam de fora da zoeira (Foto: Reprodução/Twitter)

Um time que se orgulha de algo que, se fossem outros, detestariam e tentariam pagar do passado. Que não ganha títulos há muito tempo e nem sobe pra primeira divisão. Que soube utilizar o “pior” para o seu “melhor”. Que resgata a irreverência da resenha do futebol brasileiro. Um time que está há 80 anos lutando, com altos baixos, e que conseguiu ficar na mitologia futebolística e, certamente, não será esquecido. E nem superado. O Íbis Sport Club é de se parabenizar por tudo isso com festas, honrarias, conquistas e derrotas só para não perder o costume.

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