Por: Giovana Christ (giovanachrist@usp.br)
Construção sustentável, bioarquitetura, soluções ecoeficientes e muitos outros nomes são usados para caracterizar um tipo de arquitetura de baixo impacto ambiental. “Não tem ninguém que veio definir as coisas, então cada termo acaba que é usado por uma cultura, algum pensamento, e cada um tem um pouco um caminho porque, na verdade, isso tudo está linkando vários conhecimentos no meio disso tudo” disse Rafael Loschiavo, arquiteto de diversos projetos sustentáveis dentro e fora do Brasil. Mesmo com uma divergência entre definições e ideologias para esse tipo alternativo de construções, o importante é que elas mostram que nosso modo de viver e construir não é o único — nem o melhor — que existe.
Casa Viva
Tomaz Lotufo, arquiteto e um dos donos do site bioarquiteto.com.br, mora em uma casa que foi reformada para ser permeável à chuva e também um organismo que recebe e transfere energia para o sistema em que está inserida. “Na nossa formação clássica de arquiteto, a arquitetura é quase um objeto, então você projeta só um objeto, uma casa ou outra edificação. A permacultura [ramo da arquitetura que integra a construção à natureza] diz que ela transmite muito, e que essa casa coloca energia no sistema e recebe muita energia do sistema”. O arquiteto conheceu os métodos de construção alternativos por meio do movimento estudantil de sua faculdade, e, desde então, não conseguiu se sentir satisfeito trabalhando na arquitetura convencional que temos hoje. Com isso, conseguiu usar seus conhecimentos adquiridos na casa em que hoje mora em São Paulo com sua companheira e seus filhos, contrastando uma casa integrada à natureza com uma cidade conhecida por ser um expoente de urbanização. “Uma casa de madeira se destaca no bairro e não por ser algo que ostenta dinheiro, ela ostenta natureza”.
Nos surpreende ver uma casa cheia de plantas e feita de madeira no meio da cidade, mas por quê? Normalmente não é nossa primeira opção pensar em uma casa que use soluções sustentáveis desde a sua construção, e Loschiavo traz uma resposta para essa questão: “a cultura industrial foi separando os nossos conhecimentos para deixar tudo muito em departamentos […] mas não são saberes separados, e sim um grande conhecimento holístico de pensar as coisas desde uma coisa econômica, filosófica, social, ambiental”. Com a intenção de juntar todas as ideias sobre construção de baixo impacto em um só lugar, criou o portal ecoeficientes.com.br, para contar suas experiências na área e mostrar as soluções que estão sendo desenvolvidas pelo mundo, além de ser responsável pelo EcoBeco, um lugar em que ficam expostas soluções urbanas ecoeficientes, que é aberto à visitas e é escritório do arquiteto.

Mais fácil do que parece
As escolhas feitas na hora da construção ou reforma da casa podem refletir em algo muito maior na vida dos moradores e, principalmente, das próximas gerações que surgirão ali. Tomaz conta que quando reformou a casa em que hoje vive, não tinha filhos, mas depois que eles nasceram, tiveram uma educação diferente do comum sobre o meio ambiente. “Vemos isso como é importante no processo de formação dessas crianças. O meu filho, por exemplo, dificilmente vai chamar os resíduos orgânicos de lixo, para ele é comida de minhoca. Isso interfere no processo de formação, na cultura dos indivíduos que crescem nesse lugar”. E continua mostrando como as visões das gerações são diferentes “esgoto para ele é para as plantas ficarem bonitas. Esgoto para mim, para você e pras outras pessoas é uma coisa feia, fedida, que destrói, então eu tenho certeza que no futuro, as ações dessas crianças que estão crescendo nesses lugares vão ser muito menos impactantes no mundo.”
Além disso, muitas das escolhas feitas para melhorar a relação da casa com o meio ambiente não interferem em nada na vida de seus moradores. O uso de tijolos feitos de barro, janelas que favorecem a iluminação natural, telhado verde, captação e aproveitamento da água da chuva e aquecimento solar são alguns exemplos de soluções que são implantadas em casas sem gastos muito maiores que o de métodos convencionais. E, no final das contas, os dois arquitetos contaram que os projetos acabam tendo o mesmo custo: “você economiza um pouco em material e gasta um pouco mais em mão de obra, aí acaba ficando elas por elas em relação a custo”, contou Tomaz. Ou seja, as despesas não são uma desculpa para não usar esse tipo de soluções na hora da construção.

Uma solução para o futuro?
O uso de materiais locais e aproveitamento dos recursos que são gerados durante a vida de uma pessoa podem ser muito positivos e trazer uma aumento imensurável de qualidade de vida. A partir disso, podemos pensar na hipótese de implantar esses métodos em casas de periferia. É claro que o problema de falta de infraestrutura nas cidades não seria resolvido, mas com casas construídas de modo mais autossuficiente, muito das contas de água, energia e problemas com saneamento poderiam ser economizados e trariam mais qualidade de vida e conforto para os moradores das periferias.
Desse modo, assim como podemos pensar que a construção em harmonia com a natureza é uma solução para o futuro, devemos sempre lembrar que é também um passo atrás nas tecnologias usadas no passado por comunidades que sempre respeitaram as energias do local onde se inseriam, mudando nossa ideia de que as coisas antigas estão ultrapassadas e as novas tecnologias que devem ser priorizadas na nossa cultura.