Imagem: Juliana Santos – Comunicação Visual (Jornalismo Júnior)
É de conhecimento de todos que o ocidente possui grande estilistas mundialmente conhecidos, certo? Mas parece que aqui as tendências demoram muito para acontecer, e quando isso finalmente ocorre, todas as pessoas se vestem iguais numa onda infindável de falta de criatividade. As roupas se transformam em meros acessórios, sendo dispensadas quando algo “novo” surge. Agora imagina no universo masculino, onde o vestuário não faz parte da construção da personalidade, mas sim do guarda-roupa, e o ato de se vestir “bem” ainda é sinônimo de preconceito. No entanto, do outro lado do planeta, mais precisamente na Coréia do Sul, a história é completamente diferente. O estilo atingiu outro patamar graças ao K-pop (música pop coreana), principal propagador de um conceito visual inovador, capaz de juntar música, moda e dança com extrema qualidade.
Esse ritmo surgiu no começo dos anos 90, com uma mistura de vários outros elementos como o R&B, Rock e Bubblegum Pop (subgênero do pop que foi criado para cativar adolescentes) que repaginaram o cenário musical sul-coreano. Mesmo sofrendo grande resistência dos setores mais conservadores da sociedade, foi só questão tempo para o leste asiático se render a essa nova proposta audiovisual. Porém, não se engane, os idols (cantores) não eram da maneira como os conhecemos hoje.
A primeira geração, responsável por introduzir esse novo ritmo, se preocupava mais com a excentricidade e harmonia das roupas, para justamente transmitir a ideia de unicidade, de um grupo homogêneo. Os looks eram pouco elaborados, tendo como inspiração outros artistas ocidentais. Isso custou a mudar. Depois de ganhar enorme visibilidade no oriente, com suas versões musicais em chinês e japonês, as agências responsáveis por gerenciar a carreira dos artistas tornaram-se verdadeiras máquinas de fazer dinheiro. O investimento em produção, divulgação e treinamento aumentou exponencialmente. Aproveitando esse cenário, o governo preencheu a lacuna que faltava e investiu outros milhões de dólares em medidas de promoção e proteção da propriedade intelectual, na construção de centros de estudo e difusão da cultura coreana. A partir daí, a Coréia do Sul passava a exportar talento além de tecnologias.
Demorou pouco para esse fenômeno atingir o ocidente. Após a popularização das redes sociais no final dos anos 2000, o caminho entre idols e adolescentes espalhados pelo mundo tornou-se mais curto. Foi através do Twitter e Youtube que os primeiros grupos da segunda geração de K-pop caíram no gosto da juventude. Nessa nova fase as agências começaram a ficar mais atentas às tendências relacionadas a moda, com o intuito de entregar um produto final completo aos fãs. Cada integrante passou a ter seu estilo próprio, sendo moldado a cada novo álbum lançado — isso fica a cargo das gravadoras donas dos direitos de imagens. Lógico, não é todo grupo que possui esse aporte, isso depende muito de qual agência os artistas são contratados.
Com a disseminação cada vez mais forte, os K-idols tornaram-se ícones de referência para milhões de jovens. Apesar de ser um país com costumes conservadores, homens possuem liberdade total sobre a vestimenta. E foi através da música que se abriu o espaço para a quebra de vários paradigmas ocidentais implantados pela cultura fashion machista norte-americana e europeia. Barreiras responsáveis por definir qual tipo de roupas homens podem usar foram extinguidas, e preceitos ligados ao gênero de cores deixaram de existir. Nenhum hétero será hostilizado ao usar animal prints, flower prints, ou acessórios como brincos, pulseiras, lenços e colares. Pelo contrário, quanto mais eles possuírem esses itens, mais inseridos na cultura estarão.
A moda coreana, embora não receba os devidos créditos que merece, conseguiu chamar a atenção de vários estilistas conceituados no mercado do mundo ocidental. O grupo BigBang, formado por 5 integrantes, é um dos precursores no quesito men’s style sul coreanos, G-Dragon (cantor favorito do designer de moda Karl Lagerfeld da Chanel) e Taeyang já foram convidados a participar dos mais diversos desfiles de grifes, dentre elas, Kenzo, Saint Laurent Paris e Rick Owens.O estilista Jeremy Scott, que já trabalhou para as marcas Adidas e Moschino, é um dos grandes entusiastas da moda street sul coreana.
A ousadia dos K-idols é prato cheio para servir como fonte de divulgação de marcas que buscam conquistar o público jovem. Várias trends fashions já estouraram primeiro na Coreia do Sul, e só depois de algum tempo vieram fazer sucesso no mundo pop americano. Vamos combinar que, não é nada justo esses artistas americanos ficarem famosos por terem lançado algo que acaba se popularizando e em nenhum momento se dá o devido reconhecimento às fontes de inspiração.
Por Wender Starlles
wenderstarlles@usp.br