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‘O livro infantil digital’: Professora da USP dá aula aberta sobre literatura nas telas

No Departamento de Jornalismo e Editoração da universidade, Aline Frederico defende a leitura interativa como meio de desenvolvimento das crianças
Por Mirela Costa (mirelacosta@usp.br) e Sarah Kelly (sarakelly@usp.br

“Há uma ideia de que quem prefere o livro impresso é contra o livro digital, e, definitivamente, não é o caso”, afirma Aline Frederico, ao contestar a polêmica existente entre as duas modalidades de leitura. Pelo contrário, a editora, doutora em Educação e Literatura Infantil mostra que a interatividade e a combinação de diversas linguagens no mundo digital tem somente a agregar à prática infantil da leitura. Essa foi a principal ideia defendida pela pesquisadora em sua aula magna aberta ao público no último dia 18 de março. O evento inaugura uma agenda de palestras e aulas que o Departamento de Jornalismo e Editoração da USP pretende oferecer em 2024. 

A palestrante explicou que há diversas possibilidades de leitura nas telas e que elas vão muito além dos conhecidos e-books. Segundo Aline, “o e-book apresenta os mesmos conteúdos do livro impresso, com algumas mudanças quanto aos recursos multimídia que podem ser aplicados”. Já o livro-aplicativo, outra plataforma disponível no mercado literário, possibilita uma leitura personalizada e participativa a partir da interatividade, já que o leitor pode até influenciar os acontecimentos da narrativa. As diferenças também se dão nos impactos que a interatividade da literatura digital provoca na cognição e no desenvolvimento psicossocial das crianças.   

A plataforma de histórias interativas e multiculturais para crianças MoBeyBOU foi um exemplo de coleção de livros digitais apontado pela professora Aline

A interatividade dentro dos livros infantis digitais acontece de diversas formas. Os elementos vão desde os mais simples, por exemplo objetos que se movem ao serem tocados, até  os mais elaborados, como jogos ou atividades. 

Um dos pontos positivos dos livros-aplicativos é o multilinguismo. Normalmente essas plataformas permitem a leitura da história em ao menos dois idiomas diferentes, o que facilita um rico intercâmbio cultural.  Além disso, a oralidade, importante na cultura brasileira, também é um recurso explorado em alguns desses livros. “As obras brasileiras [digitais] comumente possuem a função de gravação do texto lido em voz alta. Você pode adicionar uma camada afetiva ao ter a gravação de um avô ou um parente que mora longe”, relata a professora.

Spot de David Wiesner é um aplicativo literário sem texto verbal que permite o leitor criar suas próprias narrativas ao escolher diferentes caminhos

O que define as obras digitais interativas, segundo a professora Aline Frederico, é a sua textualidade híbrida e a multimodalidade, ou seja, elas combinam a estrutura textual dos livros com a linguagem digital, com a animação, os jogos e o som. 

“As obras digitais expandem as possibilidades do livro e do mercado editorial”

Aline Frederico

Fazer as pazes com as telas

Para os pais e cuidadores de crianças da atual geração, que já nasceram conectadas, um dos grandes desafios é proporcionar o uso equilibrado das tecnologias digitais. Com os aplicativos literários é possível tornar o tempo que as crianças passam em frente às telas mais educativo e lúdico. Além disso, os momentos de contato com a literatura podem ser utilizados para aproximação entre pais e filhos por meio da leitura mediada.

Com o objetivo de promover a reflexão sobre a leitura e a literatura digital na infância e na juventude, a professora Aline fundou, junto com outras pesquisadoras da área, o coletivo Leitura na Tela. A ideia do projeto é realizar divulgação científica e desmistificar a ideia da leitura na tela na infância.

Preservação e memória

Embora apresentem inúmeros benefícios, os aplicativos literários ainda encontram dificuldades para se estabelecer no mercado editorial. Segundo Aline Frederico, a maior parte das obras infantis digitais estão em processo de desaparecimento. Ela explica que livros digitais não possuem registros formais, como é o caso dos livros impressos.

No Brasil, ainda existe uma dificuldade de acesso à literatura digital e à tecnologia em geral, o que restringe o crescimento desse tipo de livro. Outro desafio enfrentado é o alto custo de produção, já que as diferentes ferramentas presentes nos aplicativos requerem uma equipe interdisciplinar. Em relação a  tecnologia, a professora também cita o gasto com a necessidade de atualização constante dos aplicativos devido às mudanças nos sistemas operacionais. 

Seja pela baixa divulgação ou seja pela resistência das famílias à leitura digital, os aplicativos literários também tem tido um baixo volume de vendas. Atualmente, Aline Frederico tem iniciativas que visam superar a dificuldade de preservação desses livros. Entre elas, seu projeto de pesquisa DigitaLIJ, no qual realiza o levantamento da produção de literatura infantil e juvenil digital brasileira. 

No fim da aula aberta, a professora se colocou disponível para a recepção de possíveis interessados em sua mais recente pesquisa ou em seus demais projetos. É possível entrar em contato com Aline pelo seu e-mail, aline.frederico@usp.br.

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