Ricky Hiraoka
Causou certa estranheza a escolha de Isabel Coixet para o comando de um filme tão intenso quanto Fatal (Elegy), baseado num conto de Philip Roth. Diretora de filmes poéticos e sensíveis como Minha Vida Sem Mim e A Vida Secreta das palavras, Isabel, à primeira vista, não parecia ser a melhor opção para levar às telas uma história tão forte. Entretanto, a cineasta deu conta do recado e apresenta um filme intenso, permeado de reflexões e hesitações capazes de provocar o espectador.
O grande equívoco de Fatal é a escolha de Penélope Cruz para viver a sedutora Consuela. Penélope erra o tom da personagem e não convence como a jovenzinha que seduz o professor maduro. Penélope não consegue atingir a densidade de Consuela, caprichando no sotaque e limitando-se a fazer caras e bocas. Ben Kingsley, pelo contrário, incorpora o confuso e volúvel David Shape, que, apesar da idade, não consegue manter um relacionamento por muito tempo. Kingsley expõe todas as nuances da personagem com um desprendimento típico dos grandes atores: ele é o homem apaixonado, o amante ciumento, o amigo problemático, o pai ausente e o profissional brilhante.
Outro predicado dos grandes atores é a generosidade. Kingsley deixa Dennis Hopper e Patrícia Clarkson brilharem. Se a falta de química com Penélope Cruz é evidente, o entrosamento entre Kingsley e os coadjuvantes Dennis Hopper e Patrícia Clarkson é notável e rende ótimos momentos.
Nem o talento de Kingsley, Hopper, Patrícia e Isabel faz com que Fatal seja imune a presença de Penélope Cruz. A espanhola já provou ser ótima atriz em produções de seu país, mas nunca conseguiu ser bem-sucedida em um filme americano. Nas películas hollywoodianas, Penélope só enfeita a tela e assiste os companheiros interpretar. Talvez esteja na hora de cruzar o Atlântico.