Ricky Hiraoka
Nos últimos anos, poucos filmes de terror se mostraram tão eficazes quanto O Nevoeiro (The Mist). Baseado numa obra de Stephen King, o filme, em nenhum momento apela para o ridículo ou para o trash. Ele dá ótimos sustos, sem fazer qualquer concessão a efeitos de mal gosto, e também consegue ser um terror psicológico.
Após uma violenta tempestade, David (Thomas Jane) vai com seu filho ao supermercado para comprar mantimentos. Quando estão saindo do supermercado, David e outros clientes são surpreendidos por uma estranha névoa que cobre toda a cidade. Junto com outros clientes, David fica preso no estabelecimento. Aparentemente, essa névoa é apenas um efeito da tempestade da noite anterior. Entretanto, um dos moradores da cidade, que se refugia no supermercado, afirma que ela esconde algo sobrenatural que mata quem ousa enfrentá-la. Os gritos ouvidos do lado de fora comprovam essa teoria. Logo, o desespero se instala e todos tentam, da melhor maneira, enfrentar o problema.
À medida que o tempo passa, a situação fica cada vez mais tensa. Se antes o terror era representado pela criatura desconhecida que está encoberta pelo nevoeiro, aos poucos, ele vai tomando se concentrando em uma fanática religiosa (a impecável Márcia Gay Harden) que atormenta a todos, chegando a propor a morte de uma criança para acalmar a criatura do nevoeiro.
O que se vê em O Nevoeiro são os diversos setores da sociedade americana que se confrontam diante de um problema criado por eles mesmos. Questões que seriam facilmente contornadas, pelo bom senso ou pela hipocrisia, em uma situação normal se tornam insuportáveis em uma situação-limite. A intolerância passa a dominar e perde-se a capacidade de conciliar pensamentos e atitudes. O filme é uma fábula sobre a ambição e a inconseqüência humana. Em O Nevoeiro, nenhum inimigo é tão perigoso para a humanidade como o próprio homem.