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Observatório: Pandemia de lideranças

John F. Kennedy, em um discurso feito em 1959, declarou que “a palavra crise, em chinês, é composta de dois caracteres – um representa perigo e outro representa oportunidade […]”. Apesar da fala do então senador dos Estados Unidos ser responsável por disseminar algo inverídico, a conclusão de que na crise surgem oportunidades, ainda mais …

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John F. Kennedy, em um discurso feito em 1959, declarou que “a palavra crise, em chinês, é composta de dois caracteres – um representa perigo e outro representa oportunidade […]”. Apesar da fala do então senador dos Estados Unidos ser responsável por disseminar algo inverídico, a conclusão de que na crise surgem oportunidades, ainda mais para governantes, não pode deixar de ser considerada verdade – e não é à toa que isso vem acontecendo durante a pandemia do coronavírus. Enquanto algumas lideranças adotam medidas que seguem à risca as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) – ganhando destaque na política nacional e internacional – outras resistem em estabelecer medidas restritivas à população.

Foi o caso do prefeito de Milão, Giuseppe Sala, que há cerca de um mês lançou a campanha “Milão Não Para”, a fim de estimular que os moradores da cidade continuassem sua atividades normalmente, ignorando o avanço da doença. Hoje, a região da Lombardia, na Itália, onde se encontra Milão, é a mais atingida no país pela Covid-19. No dia 26 de março, o prefeito pediu desculpas por ter apoiado a campanha.

Assim como Giuseppe, outros governantes insistem em adotar uma posição negacionista diante da pandemia. Entre os principais deles, Donald Trump e Jair Bolsonaro. Por seguirem linhas ideológicas semelhantes, ambos agem de maneira bastante parecida  ao enfrentar a doença. Com discursos que flutuam entre o desmerecimento do isolamento social recomendado pela OMS e a adoção de medidas mais cautelosas, os líderes acabam por se isolar na presidência. Além disso, são ofuscados pelas campanhas massivas de combate ao coronavírus dos governadores de dois importantes estados de ambos os países: João Doria, de São Paulo, e Andrew Cuomo, de Nova Iorque.

Governador de Nova Iorque fala em coletiva de imprensa sobre casos de coronavírus no estado [Imagem: David Dee Delgado/Getty Images]
Na Coreia do Sul, diferentemente do que vem ocorrendo nos Estados Unidos e no Brasil, o primeiro ministro e os prefeitos agiram em conjunto, tomando rapidamente medidas preventivas. Quando havia apenas 50 casos no país, o prefeito de Daegu, cidade que registrou o primeiro infectado, pediu que a população ficasse em casa, pois enfrentariam uma “crise sem precedentes”. O governo sul-coreano, desde o princípio da doença, adotou medidas agressivas de combate ao coronavírus – principalmente os testes massivos da população para identificar os contaminados pelo SARS-CoV-2. Hoje, a Coreia do Sul já está perto de vencer a pandemia.

Para entender um pouco mais sobre a relação intrínseca entre pandemia e política, o correspondente internacional do Nexo Jornal, João Paulo Charleaux, explicou algumas questões. Apesar de várias consequências dessa anormalidade já estarem aparecendo, ele afirma ainda ser muito cedo para estimar o dano final: “A pandemia sequer chegou ao pico. Ninguém é capaz de prever agora como o mundo será em três meses. De certo, sabemos apenas que as consequências serão gigantescas. Já temos a maior crise mundial desde a Segunda Guerra. Mais de um terço das pessoas do mundo estão presas em casa. O impacto sanitário não para de crescer, enquanto o impacto econômico nem bem começou. 

O jornalista ainda afirma que “essas situações extremas são sempre reveladoras do que temos de pior e de melhor. Por um lado, atitudes como a manutenção do embargo ao Irã e as ameaças redobradas à Venezuela, por parte dos EUA, sugerem que a crise tem o poder de agravar problemas que já estavam aí. De outro lado, as novas formas de cooperação e solidariedade, especialmente com a China, sugerem novos caminhos e formas de conexão entre os países. Veremos o que prevalece no final”.

Um dos fatos políticos recentes mais alarmantes foi o aumento do poder de Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria. O líder já vinha demonstrando sinais de simpatia pelo autoritarismo há muito tempo, com discursos nacionalistas e ultraconservadores. Nessa última semana, entretanto, ele conseguiu aprovar medidas que lhe permitem governar através de decretos, incomuns em democracias, e extremamente comuns em autocracias.

Ver um país da União Europeia se encaminhando tão explicitamente para uma ditadura, é assustador, mas Charleaux alerta que não é uma situação totalmente extraordinária: “Nas principais democracias ocidentais estão sendo tomadas medidas que eram impensáveis até dois meses atrás: confinamento obrigatório, rastreamento populacional. Quem diria? A diferença é que a Hungria já vinha perdendo os contrapesos há um tempo. Orbán tem maioria parlamentar e controla o Supremo. Isso é que torna mais preocupante os super poderes que, de uma outra forma, também foram reivindicados por outros países da União Europeia”.

Viktor Orbán durante votação no Parlamento húngaro [Imagem: Zoltan Mathe/AFP]
Ele se refere a medidas tomadas por países como Itália, França e Espanha, que estão entre os países que mais sofrem com a Covid-19. Como forma de conter o avanço do vírus, adotaram medidas de isolamento compulsório, indo de frente com os princípios de liberdade individual, historicamente valorizados no Ocidente, principalmente.

Aqui no Brasil também houve movimentos nessa direção: Bolsonaro tentou aprovar uma edição de medida provisória que suspenderia prazos e tiraria a obrigação dos órgãos públicos de responder parte dos pedidos feitos com base na Lei de Acesso à Informação. A alteração foi derrubada. Entretanto, é impossível negar uma tentativa de aumento de poder. “Para um líder crescer dentro da situação atual ele precisa de autoridade e oportunidade, que cidadãos estejam dispostos a abrir mão de suas liberdades voluntariamente para que o líder possa exercer a autoridade”, afirma o cientista político João Pereira Coutinho em entrevista à Folha de São Paulo.

Bolsonaro teve a oportunidade, mas lhe faltou autoridade. Dia após dia, seu isolamento político causado por diferenças sobre o isolamento social com o seu ministro, Luiz Henrique Mandetta, e governadores brasileiros, é notícia. Panelaços são ouvidos com força durante seus pronunciamentos.

Entretanto, João Paulo Charleaux não acredita que essa crise possa ser o algoz certo dos governos populistas: “Eu não subestimaria a capacidade que as pessoas têm em acreditarem nas mentiras desses políticos e em permanecerem fiéis a seus discursos populistas. É cedo para dizer, e o mau desempenho na crise sanitária pode ser compensado em seguida, ao politizar a crise econômica que certamente virá. Pessoas como Bolsonaro poderão sempre tentar apagar o próprio fracasso sanitário ao dizer sobre a economia em frangalhos: ‘eu avisei’.”

Diante de tamanha crise sanitária vivida pelo planeta, a atenção do mundo se volta para as ações dos muitos líderes mundiais. Quais medidas serão tomadas para combater o vírus? O que fazer com a economia quando a pandemia for vencida? São inúmeras as perguntas que surgem. Em momentos de crise é que despontam as verdadeiras lideranças e é quando se pode conhecer as reais faces de cada governo. E “como diz a frase feita, crises sempre trazem oportunidades”, conclui Charleaux.

 

6 comentários em “Observatório: Pandemia de lideranças”

  1. Maria da Glória de Andrade Paiva

    Matéria extraordinária. Realmente nos momentos de crise pode-se conhecer a verdadeira face do ser humano. Seja ele uma autoridade ou um cidadão comum.

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  3. Depois de sair do carro, o presidente foi saudado com a mencao ao dia 31 de marco, quando o golpe militar de 1964, exaltado por ele, completa 56 anos. E o dia da liberdade hoje , respondeu Bolsonaro. Quando uma lideranca da greve dos caminhoneiros de 2018 lhe parabenizou, o presidente pediu que ele se falasse voltado para os reporteres que estavam no local. Junior, como se apresentou, disse que a categoria protestou contra o governador de Sao Paulo, Joao Doria (PSDB), desafeto do presidente.

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