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O ódio que você semeia

Ir a festas aos finais de semana. Fazer esportes na escola. Estudar para as provas. Comparecer ao baile de fim de ano. Todas essas experiências fazem parte da vida de Starr Carter (Amandla Stenberg). Isso e ver seu melhor amigo de infância ser assassinado injustamente por um policial branco. O enredo parece chocante. Mas não …

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Ir a festas aos finais de semana. Fazer esportes na escola. Estudar para as provas. Comparecer ao baile de fim de ano. Todas essas experiências fazem parte da vida de Starr Carter (Amandla Stenberg). Isso e ver seu melhor amigo de infância ser assassinado injustamente por um policial branco.

O enredo parece chocante. Mas não quando se considera o contexto social de O ódio que você semeia (The Hate U Give, 2018). Baseado no livro de Angie Thomas, publicado no início de 2017, o filme retrata fielmente a questão do genocídio da juventude negra e o racismo institucional, latente nos Estados Unidos e também no Brasil. Após sair de uma festa com a amiga Starr, Khalil (Algee Smith) é parado por um policial desconfiado, que, ao confundir uma escova de cabelo com uma arma, atira fatalmente no jovem de 17 anos.

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(Créditos: Reprodução/FOX 2000 Pictures)

A trama se passa em uma cidade americana, que assim como todas as outras, possui clara segregação entre diferentes classes sociais. Starr vive no problemático Garden Heights, dominado pela gangue do traficante King (Anthony Mackie), mas passa metade de seu tempo em Williamson, escola particular em que a maioria dos estudantes é branca e vive pelas redondezas.

Assim, a protagonista vive em dois mundos diferentes e age de duas maneiras, seguindo diferentes códigos de conduta. Enquanto a Starr de Garden Heights usa gírias e confronta as pessoas, a Starr de Williamson é recatada e nunca a “mulher negra raivosa”. Esteticamente, o filme aborda essa diferença com mudança de tons: na periferia, as cores são mais quentes; no bairro privilegiado, mais frios.

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(Créditos: Reprodução/FOX 2000 Pictures)

Além disso, Starr namora um garoto branco, Chris (KJ Apa), enquanto seu pai, Maverick (Russell Hornsby), é um seguidor dos ideais dos Panteras Negras (grupo militante do movimento negro, ativo durante os anos 1960 nos EUA), o que torna a cena do encontro entre os dois tensa ‒ mas muito engraçada, sendo talvez um dos momentos de maior descontração em um filme de tema tão sério.

A escolha em elencar KJ Apa para o papel do par romântico da protagonista estranha no primeiro momento. Mesmo tendo construído sua fama em uma série teen, o ator ‒ que é apenas um ano mais velho que Amandla ‒ destoa por aparentar ser claramente mais velho que um estudante do ensino médio. No entanto, o carisma do personagem Chris acaba com esse primeiro estranhamento e o enredo dos dois se desenrola com facilidade.

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(Créditos: Reprodução/FOX 2000 Pictures)

A família Carter em geral é bem explorada. É possível observar a relação de Starr com cada membro da família, com destaque para o pai, a mãe Lisa (Regina Hall) e tio Carlos (o rapper Common, nome artístico Lonnie Rashid Lynn, Jr.), que é policial. Esse último fato, inclusive, é um ponto de tensão no filme, sendo abordado em diversas cenas, em especial no momento em que Starr está conversando com o tio e descobre mais sobre o protocolo (não oficial) extremamente racista que rege a ação policial. E que foi responsável por matar seu melhor amigo.

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(Créditos: Reprodução/FOX 2000 Pictures)

Outro ponto admirável é a trilha sonora, que se encaixa perfeitamente com o contexto da obra. Por estar imerso na cultura afro-americana, o longa é recheado de músicas de rap, que são mais importantes para a compreensão do enredo do que inicialmente podemos imaginar.

O título original “The Hate U Give” é um acróstico da palavra “thug”, que remete à música Thug Life, do rapper Tupac. Em tradução literal, essa expressão significa “vida bandida”, mas na verdade, é também um acróstico para a frase “The Hate U Give Little Infants Fucks Everybody” (o ódio que você semeia nas pequenas crianças ferra com todo mundo). No filme, o significado dessa frase é apenas pincelado, não tendo tanta força como no livro.

Evidentemente, adaptações cinematográficas nunca conseguirão explorar todos as nuances das obras literárias em que são baseadas, mas O ódio que você semeia consegue transmitir o essencial. O tema do genocídio da juventude negra por policiais é tratado em diversas produções culturais recentes, desde livros a documentários. A obra de Angie Thomas, apesar de fictícia, é um retrato fiel da realidade.

Ao trazer para a grandes telas atores carismáticos, boas técnicas de filmagem, roteiro bem escrito e trilha sonora extremamente adequada, o diretor George Tillman Jr. acertou em cheio. Filmes costumam ter alcance maior do que livros e podem, assim, impactar e conscientizar mais pessoas acerca dessa questão tão séria e atual.

O ódio que você semeia já está em cartaz nos cinemas brasileiros. Confira o trailer:

por Maria Eduarda Nogueira
mariaeduardanogueira@usp.br

1 comentário em “O ódio que você semeia”

  1. Acabei de assistir este filme, do nada, apenas peguei-o começando.
    Realmente, é complicado.
    Me peguei de mãos ao alto. Chorei com minha alma. Numa tarde chuvosa de terça-feira, foi uma experiência viva, de alma.
    Que os homens se “Starr” – se iluminem na solidão da ignorância.
    Assista ao filme.

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