Por Yasmin Constante (yasminconstante@usp.br)
A canoa é reconhecida como o meio de transporte aquático mais antigo da humanidade. Desenvolvida há mais de 5 mil anos, foi feita para auxiliar nas atividades do cotidiano, como a pesca e a caça. Já a canoagem slalom foi criada em 1932, inspirada pelas provas de ski, e é tão radical quanto o esporte que a inspirou, porém é disputada em canoas (C) ou caiaques (K).
A modalidade que, em 2024, completou sua décima participação nas Olimpíadas, acontece de modo individual (C1 e K1), ou o extremo (KX1). A prova consiste na descida por corredeiras, onde as águas correm mais velozes e com um pequeno declive. Durante o trajeto, os atletas devem passar por obstáculos e terminar a prova no menor tempo possível.
Para passarem pelos obstáculos, os competidores devem atravessar as chamadas portas, que são dois canos suspensos. Elas podem ser de dois modos: nas verdes, os atletas precisam passar a favor da corrente, e nas vermelhas, contra a corrente. Em caso do atleta cometer uma falta, sua penalidade será contabilizada em seu tempo final, que poderá ter de 2 a 50 segundos acrescidos.
Participações brasileiras
Pepê Gonçalves foi o representante brasileiro na categoria masculina. O atleta de 31 anos competiu em três provas nos jogos de 2024: canoagem na categoria C1, canoagem slalom e caiaque cross. Seu melhor resultado foi chegar à semifinal do K1 — a prova final conta com 12 competidores, e o brasileiro chegou na 20ª colocação.
Pepê possui dois ouros conquistados no Pan-americano de Lima 2019 [Imagem:Reprodução/Instagram: @pepehgoncalves]
Pepê fez sua estreia nos jogos no dia 20 de julho, participando da modalidade Slalom-C1 Masculino. O atleta disse, em entrevista à Rede Globo, que a prova foi um “treino de luxo”, já que normalmente essa não é uma categoria para a qual ele treina e compete. Nesta categoria, 20 atletas realizam as baterias em dois percursos, e os 16 melhores colocados garantem vaga na semifinal. O brasileiro fez 111.07 e 154.48, terminando na 18º e 19º colocação, respectivamente. O grande vencedor da prova foi o francês Nicolas Gestin.
A segunda prova do brasileiro foi a Slalom-K1. Diferentemente do C1, 24 atletas disputam 16 vagas na semifinal. Pepê obteve melhor performance e se classificou, com a 5º e 13º colocação nos dois primeiros percursos. Já na semifinal, o resultado não foi positivo: o atleta ficou com a 20º posição, e não participou da disputa por medalhas.
A última prova foi a Canoagem Slalom KX1, ou Caiaque Cross, a categoria estreante dos Jogos de Paris. Diferentemente das demais disputas da canoagem no KX1, os atletas descem pela corredeira em quartetos. Eles devem passar por um total de 8 portas, seis verdes e duas vermelhas. Durante a prova também é obrigatório que os competidores realizem o “caiaque roll”, uma manobra de rotação em 360º com a imersão da cabeça na água.
O desempenho do brasileiro garantiu que ele chegasse até as baterias, depois de se classificar com o segundo melhor tempo na etapa de contrarrelógio.
Este feito permitiu que Pepê pudesse escolher qual seria sua chave na primeira rodada, quando seu bom resultado o confirmou para as baterias. Neste percurso, mesmo terminando na 2º colocação, foi derrotado graças ao seu desconto de nota por não passar em uma das portas.
Ana Sátila
A brasileira Ana Sátila virou meme nas redes sociais por parecer estar competindo a todo momento, segundo os internautas. No total, ela competiu 12 vezes em um intervalo de dez dias, na briga por medalha em três categorias. Em entrevista ao Time Brasil, Ana reagiu aos memes com bom humor. Ela afirmou ainda estar feliz com seus resultados e muito cansada graças a competição.
Ana Sátila, atleta que ficou conhecida por disputar muitas provas nos Jogos Olímpicos de 2024. [Imagem:Reprodução/Instagram: @anasatila_vargas]
A medalha passou perto, mas não foi em Paris que a brasileira conseguiu colocação para o pódio. A primeira prova da atleta foi o Slalom-K1, na qual ela garantiu vaga em todas as etapas e conquistou a chance de disputar por medalha. Na grande final, Ana conseguiu o 4º melhor tempo, com apenas 1.75 segundos a mais que a britânica Kimberley Woods, 3ª colocada. Este feito a fez entrar para a história, com a melhor marca de uma mulher brasileira na modalidade.
Em sua segunda participação nos Jogos de Paris, Ana Sátila competiu pela categoria Slalom-C1. Mais uma vez, a atleta obteve um bom desempenho e chegou até a disputa por medalhas. Ela conseguiu fazer o 5º melhor tempo do trajeto final, vencido pela australiana Jessica Fox, assim como no Slalom-K1.
As atuações de Ana ainda não tinham chegado ao fim: apenas dois dias depois, a atleta competiu pela prova de KX1. Já desgastada, a brasileira foi eliminada na semifinal, chegando em 3º lugar, quando apenas dois atletas se classificam. Sua última participação foi na final de consolação da categoria, quando Ana ficou com o 4º lugar. Na classificação geral, a brasileira ficou com a 8ª colocação da prova.
Apesar de não ter voltado com medalhas, Ana ganhou carinho e visibilidade do povo de seu país, que hoje reconhece a importância da canoagem slalom.