por Carolina Marins
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“É uma verdade universalmente aceita que um zumbi, uma vez de posse de um cérebro, necessita de mais cérebros”
Tal frase abre a paródia Orgulho e Preconceito e Zumbis (Pride and Prejudice and Zombies, 2016), o novo filme da Sony Pictures que estreia em 25 de fevereiro. Utilizando de um elenco de peso, como Lily James no papel de Elizabeth Bennet e Sam Riley como Mr. Darcy, o longa pode causar um arrepio inicial nos fãs de Jane Austen, mas no fim, irá tirar algumas risadas.
A ideia de introduzir zumbis na clássica história do século XIX não foi de Hollywood, Orgulho e Preconceito e Zumbis é um livro de 2009, creditado a Seth Grahame-Smith. Nele, uma infestação zumbi tomou conta da Inglaterra e para proteger a sua população, o reino isolou os mortos-vivos do resto do país em um local chamado Entremeio, apenas a ponte do canal real liga os dois locais. Porém, a infestação começa a se espalhar do outro lado da ponte e se inicia uma guerra contra os comedores de cérebro.
Nesta adaptação, as irmãs Bennet são guerreiras, sempre munidas de armas contra os zumbis; Darcy é um habilidoso matador destes seres , mas um pouco impiedoso em demasia. Contudo, apesar da estranha intervenção na história, a paródia é bastante fiel a obra original chegando até mesmo a reproduzir diálogos de forma idêntica. Sam Riley interpreta o orgulhoso protagonista com maestria, sempre exibindo a expressão de desdém tão característica do personagem. Lily James dá vida a uma Lizzie independente, que sabe se defender das ameaças e mais de uma vez salva Darcy da morte iminente.
A crítica à sociedade aristocrata inglesa, tão presente na obra de Austen, é o carro chefe também do novo filme. É inevitável rir do esforço feito pela sociedade para manter os seus valores e costumes mesmo durante um ataque zumbi. Com frequência, a atitude de independência de Lizzie é criticada, tendo inclusive uma cena em que o Sr. Collins (Matt Smith), ao pedir a mão da moça em casamento, exige que ela deixe de lado a luta aos mortos-vivos para se tornar mais “feminina”. Há também a manutenção de prazeres da alta sociedade, como os bailes privados e as boas vestimentas, mesmo que por baixo de uma armadura.
Se por um lado o longa nos tira algumas risadas – principalmente dos fãs, que compreendem as referências – por outro o enredo se desenrola com algumas tensões e muitas cenas de ação. Explosões e luzes não são incomuns, até mesmo o romance dos protagonistas e de Jane Bennet (Bella Heathcote) e Charles Bingley (Douglas Booth) tem seus momentos muito bem definidos. Já perto do fim, o filme abre mão da fidelidade ao original, algo facilmente percebido na personagem Lady Catherine de Bourgh (Lena Headey), que deixa de ser a aristocrata preconceituosa de Austen.
Entretanto, os efeitos especiais deixam a desejar. Com o público já acostumado a histórias com zumbis, alguns criados de forma realmente assustadora, era de se esperar uma maior sensação de realidade nos monstros, o que não acontece. As maquiagens monstruosas parecem deslocadas no ambiente do filme e quase não há verossimilhança na forma de matá-los.
Dirigido por Burr Steers, famoso por 17 Outra vez (17 Again, 2009) e A Morte e Vida de Charlie (Charlie St. Cloud, 2010), Orgulho e Preconceito e Zumbis não é mais uma paródia “besteirol” feita apenas para ridicularizar obras. Mantendo, na medida do possível, o respeito pelo clássico inglês, o filme poderá surpreender os espectadores e talvez até desconstruir seus orgulhos e preconceitos.
Confira o trailer!