Jornalismo Júnior

logo da Jornalismo Júnior
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

Netflix | ‘Persuasão’: pior do que estranhos, adaptados

NA TENTATIVA DE FAZER UMA ADAPTAÇÃO MEMORÁVEL, O ROTEIRO CRIA PERSONAGENS ESTRANHOS AOS DO LIVRO CLÁSSICO DE AUSTEN

Persuasão é o último e mais maduro romance de Jane Austen. A autora conta a história de Anne Elliot, filha do meio de uma família abastada, jovem que é convencida pelo seu pai, irmã e amiga a negar o pedido de noivado de um capitão da marinha britânica, o Sr. Wentworth. Oito anos depois, Anne ainda é apaixonada pelo capitão e se arrepende amargamente por ter sido persuadida pelos familiares a se afastar do homem que amava.

A nova adaptação do clássico, dirigida por Carrie Cracknell, não se distancia muito da trama principal criada por Austen, em que Anne (Dakota Johnson) e Wentworth (Cosmo Jarvis) voltam a conviver e percebem que nunca foram capazes de superar o amor cultivado um pelo outro durante a juventude. Porém, Persuasão (Persuasion, 2022) tenta inserir uma característica nova, um tanto controversa: a quebra da quarta parede, em que Anne conversa diretamente com o público, explicita seus pensamentos e troca olhares com a câmera.

O recurso pode ser considerado controverso, pois em outras obras, como a série Fleabag (2016-2019) — em que Persuasão parece ser muito inspirado —, a quebra da quarta parede impacta de forma positiva o desenvolvimento da trama e aproxima o espectador das personagens. Porém, em Persuasão, tudo que esse recurso faz é destruir o desenvolvimento original de Anne, e o que no livro era uma personagem madura, paciente e jovial, se transforma em uma Anne Elliot amarga e arrogante que tenta desesperadamente ser a imagem de uma mulher do século XXI.

Um homem e uma mulher conversam.
Anne foi persuadida a desistir do noivado com Frederick Wentworth porque o jovem não tinha fortuna e expectativas de prosperar na marinha britânica. Quando voltou a Inglaterra, o então capitão ainda tinha muita química romântica com Anne, o que não foi bem retratado na nova adaptação. [Imagem: Reprodução/Netflix]
Por causa dessa divergência entre livro e adaptação, o longa pode ser analisado por dois pontos de vista diferentes: o de quem leu o romance e quem não leu. No segundo, Persuasão entretém e cativa os espectadores, é mais uma história de amor para a aba de “romance” do streaming, e cumpre o seu papel.

Como personagem principal, Dakota Johnson foi uma ótima escolha para trocar olhares furtivos com a câmera e conversar com o público, mas não teve o mesmo sucesso em demonstrar os sentimentos da personagem e em estabelecer o romance com Wentworth. O espectador só se convence de que a personagem está apaixonada pelo capitão por causa dos momentos de absoluta vergonha alheia e aqueles em que uma lágrima ou outra caem dos olhos de Dakota. Além disso, Anne acaba tendo maior química com o Sr. William Elliot (Henry Golding), do que com o próprio  Sr. Wentworth, um grande erro da produção.

Os pontos positivos são o elenco diverso, composto por atores negros interpretando personagens da aristocracia inglesa do século XIX, e o humor que a “modernização” do roteiro produz.

Uma pessoa segura um conjunto de partituras.
Em uma das cenas em que Anne está conversando com o público, ela mostra a “playlist” que Wentworth fez para ela, um amontoado de partituras de música. [Imagem: Reprodução/Netflix]
E, do ponto de vista de quem leu o livro, a adaptação falhou de diversas maneiras. O longa foi de certa forma fiel aos acontecimentos principais do livro, mas cometeu o grande erro de divergir na construção das personagens principais e estragou toda a maturidade atribuída por Austen à obra. As outras personagens secundárias, intrinsecamente irritantes — quase um estereótipo fixo nas obras da autora — foram muito bem representadas pela sua vaidade, arrogância, ignorância e egoísmo; nada fora do esperado.

Também fica claro que a fotografia tentou trazer uma estética agradável para o filme, como em Emma (2020), mas sem sucesso. As cores apagadas, os figurinos sem graça e os cenários de certa forma modestos — levando em conta que os ambientes frequentados pelos personagens eram da aristocracia inglesa — só apagam a profundidade da história contada.

Ao final, Persuasão se equilibra entre ambas opiniões: uma adaptação ruim, mas que funciona bem como um romance à parte.

Nota do cinéfilo: 2,5 - mediano

O filme já está disponível no catálogo da Netflix. Confira o trailer:

*Imagem de capa: Reprodução/Netflix

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima