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‘Os Primeiros Soldados’: uma tragédia não pode mudar quem somos

Filme conta a história dos primeiros infectados pela AIDS no Brasil, em uma narrativa que, entre diálogos poéticos e cenas metafóricas, celebra a (r)existência LGBTQIA+

Em 1983, uma doença até então misteriosa começou a tirar a vida de um grupo marginalizado da população, em sua maioria, gays, travestis, transexuais e prostitutas. O governo não deu atenção e esse grupo foi deixado à própria sorte, no que viria a evoluir para a epidemia de AIDS no Brasil. É a história dessas pessoas que Os Primeiros Soldados (2022) almeja contar. O filme passou por festivais em países como Alemanha, Índia e Reino Unido, chegando a ser premiado no Festival do Rio, e entrou em cartaz nos cinemas brasileiros neste mês de julho.

O protagonista aqui é Suzano (Johnny Massaro), um biólogo que volta a sua cidade natal em Vitória (ES) após terminar seus estudos na França. O jovem é muito próximo da irmã Maura (Clara Choveaux) e inspiração para o sobrinho Muriel (Alex Bonini), que está em processo de descoberta de sua sexualidade. No entanto, Suzano parece sempre insistir em se isolar. Isolar-se de sua família e isolar-se da comunidade gay tão fortalecida em sua cidade natal. É na jornada de integração de Suzano e nesse sentimento de comunidade tão presente que o filme ganha força. Junto de Rose (Renata Carvalho) e Humberto (Vitor Camilo), o jovem biólogo tentará sobreviver a essa doença fatal e, quem sabe, poder ajudar a sua comunidade.

Um homem anda sob um letreiro de neon.
Suzano (Johnny Massaro) deixando boate gay em cena de Os Primeiros Soldados. [Imagem: Divulgação/Olhar Distribuidora]
O elenco está totalmente entregue, com performances inspiradas de Renata Carvalho e Clara Choveaux, e tocantes de Johnny Massaro e do estreante Alex Bonini. É notável quando os atores se identificam com seus papéis e têm paixão pela história, como é o caso de Carvalho e Massaro, que fazem parte da comunidade LGBT. Esse não é um pré-requisito, mas quando acontece dá um gostinho a mais para a obra. O mesmo serve para o diretor Rodrigo de Oliveira, que também assina a montagem e o roteiro do longa.

Uma mulher com um vestido branco canta.
Rose (Renata Carvalho) é cantora e se apresenta na boate LGBT da cidade, até que um dia desaparece. [Imagem: Divulgação/Olhar Distribuidora]
O que por vezes incomoda são os diálogos excessivamente poéticos e didáticos do filme. Rose tem um discurso inteiro explicando como o governo não ampara os doentes por eles serem gays ou travestis. Apesar do didatismo incomodar, na realidade brasileira, há coisas que precisam ser ditas com todas as letras. A direção também é poética, focando bastante nos corpos, estejam eles doentes, dançantes ou se amando.

Dois garotos se beijando.

O jovem Muriel (Alex Bonini) em descoberta da sua sexualidade. [Imagem: Divulgação/Olhar Distribuidora]
O filme, tanto na temática quanto na mensagem final, lembra o longa francês 120 batimentos por minuto (120 battements par minute, 2017), que também vale a pena conferir. Ao fim, mesmo com a tragédia da doença e o descaso do abandono, Suzano, Rose, Humberto e Muriel continuam unidos e sendo exatamente quem são. O final, embalado por Ney Matogrosso, é prova disso. É por essa mensagem de existência e resistência que Os Primeiros Soldados, apesar de não ser perfeito, torna-se um filme especial e que precisa ser visto.

O filme já está em cartaz nos cinemas brasileiros. Confira o trailer:

*Imagem de capa: Divulgação/Festival do Rio

 

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