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Peteca: da recreação ao esporte

A peteca fez parte da infância de muita gente, que jogava na rua, no colégio, nos parques. Tanto para os os nativos brasileiros, que inventaram o jogo, quanto para a maioria das pessoas, a peteca é apenas uma brincadeira. Mas o que muitos não sabem é que ela também é um esporte, com suas regras …

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A peteca fez parte da infância de muita gente, que jogava na rua, no colégio, nos parques. Tanto para os os nativos brasileiros, que inventaram o jogo, quanto para a maioria das pessoas, a peteca é apenas uma brincadeira. Mas o que muitos não sabem é que ela também é um esporte, com suas regras oficias, seus campeonatos e seus atletas.  

 

Da origem ao esporte 

A Peteca era praticada como recreação pelos nativos brasileiros, antes mesmo da chegada dos portugueses. Nossos antepassados, através de sucessivas gerações, continuaram sua prática, fazendo chegar essa recreação indígena a todo o território brasileiro.

Petecas confeccionadas com casca da bananeira. [Imagem: Renata Meirelles]
Petecas confeccionadas com casca da bananeira. [Imagem: Renata Meirelles]

Contudo, não foi do dia para a noite que essa brincadeira se tornou um esporte. Segundo a Confederação Brasileira de Peteca (CBP), foi na quinta Olimpíada, em 1920, na Bélgica, – primeira dos brasileiros – que essa ideia surgiu. Isso porque os brasileiros levaram petecas para o aquecimento dos atletas, mas o jogo despertou interesse de outros países, que tiveram técnicos e atletas pedindo pelas regras – que ainda não existiam.

Foram várias as tentativas de transformar a brincadeira em um jogo com regras, como, por exemplo, em São Paulo, em que, na década de 40, o Sports Club Corinthians Paulista criou a primeira modalidade esportiva utilizando o artefato indígena, o “Petecão”. Jogado com 4 jogadores de cada lado e duas redes, o Petecão difere do que hoje são as regras oficiais da Peteca. 

Fundadores e Praticantes do Petecão em 1942 [Imagem: Arquivo Federação Paulista de Peteca]
Fundadores e Praticantes do Petecão em 1942 [Imagem: Arquivo Federação Paulista de Peteca]

Para a CBP, foi o estado de Minas Gerais que deu sentido competitivo e levou essa recreação para as quadras. Com a crescente prática em Minas, foram criadas, em 1973, as regras oficiais de Peteca, dando margem para a fundação da Federação Mineira de Peteca – FEMPE, em 1975, e confirmando, assim, o pioneirismo de um esporte nascido e desenvolvido entre os brasileiros.

Tanto que o Petecão deixou de despertar interesse dos jogadores, e, segundo a Federação Paulista de Peteca (FEPAPE), em 1975, foi construída no Sports Club Corinthians Paulista a primeira quadra de peteca mineira de cimento em um clube paulista, difundido o esporte para o resto do país, e para fora dele também.

A Confederação Brasileira de Peteca afirma que “No Brasil, a peteca foi oficializada na Segunda Sessão do Plenário do Conselho Nacional de Desporto – CND, conforme Deliberação n° 15/85 de 17 de agosto de 1985, em Brasília. Em 01 de abril de 1986, a CBDT nomeou o desportista Walter José dos Santos, para dirigir seu Departamento de Peteca, codificar as regras e regulamentos para possibilitar em 1987, a realização do Primeiro Campeonato Brasileiro”.

O esporte não ficou restrito ao Brasil, e também ganhou adeptos internacionalmente, motivo pelo qual existe até uma associação internacional. Curiosamente, sua sede não fica no Brasil, mas em Berlim, e não é uma associação de “Peteca”, mas de “Indiaca”, palavra criada pela junção dos termos “Indian” (indígena) e “peteca”, e que, fora do Brasil, configura o nome oficial do esporte. Hoje, fazem parte da Associação Internacional de Indiaca (IIA) as federações nacionais da Alemanha, da Estônia, de Luxemburgo, do Japão, da Coréia do Sul e da Suíça. Mas, nesses países, o jogo ganhou uma nova forma, diferente da praticada aqui. Assim, o Brasil não faz parte da IIA.

O alcance internacional desse esporte resultou na existência de  várias competições, não só nacionais, mas internacionais também. A cada quatro anos, a Associação Internacional de Indiaca patrocina um Campeonato Mundial – o primeiro foi na Estônia, em 2000. 

Jogo da Copa do Mundo Aberta de 2015 promovida pela IIA na cidade de Saitama, no Japão. [Imagem: Arquivo/Associação Internacional de Indiaca]
Jogo da Copa do Mundo Aberta de 2015 promovida pela IIA na cidade de Saitama, no Japão. [Imagem: Arquivo/Associação Internacional de Indiaca]

Mas não são só esses os países que têm o esporte originário no Brasil como uma atividade. Paraguai, Bolívia, Chile, Estados Unidos, Portugal, França, Rússia, China, Reino Unido, entre outros, também praticam. Na França, por exemplo, em fevereiro de 1997, foi criada a Federação Francesa de Peteca (FFP) sob o impulso de Jean-François Impinna (Jeff), um jogador de rugby. Desde então, os clubes estão se desenvolvendo no país.

A FFP diz ter na França, hoje, pouco mais de 30.000 jogadores, com crescimento a cada ano. A França adotou a Peteca da forma como é praticada no Brasil, diferente dos outros países, como os da Associação Internacional de Indiaca, que a adaptaram e contam com regras que diferem um pouco das brasileiras. 

 

O Jogo

De acordo com o livro “Pequeno Vocabulário Tupi-Português”, de Lemos Barbosa, “peteca” vem do tupi e significa “bater com a palma da mão”, “dar bofetada”. A palavra não só se refere à modalidade esportiva, como também ao artefato utilizado em sua prática, muito conhecido pelos brasileiros. Seu significado traduz bem a essência da brincadeira e do jogo, mas não engloba a complexidade do esporte. 

O jogo tem a mesma lógica do vôlei: são dois times, um de cada lado da quadra, separados por uma rede, que precisam passar o objeto por cima da rede e a acertar na quadra do adversário para pontuar. Mas no caso é a peteca, e não a bola. Internacionalmente, o artefato indígena-brasileiro é conhecido como bola de indiaca ou featherball, nos Estados Unidos. 

28ª edição do Campeonato Brasileiro de Peteca, em 2016. [Imagem: Praia Clube/Divulgação]
28ª edição do Campeonato Brasileiro de Peteca, em 2016. [Imagem: Praia Clube/Divulgação]

As regras da Confederação Brasileira de Peteca deixam claras as semelhanças com o vôlei, principalmente em relação ao saque. Nas atribuições da Indiaca, o set é ganho pelo time que atingir primeiro 25 pontos, e o jogo continua até um dos times atingir uma vantagem de dois pontos (27-25; 29-27; etc…). Para ganhar a partida, o time deve ganhar dois sets no jogo de três sets, ou três sets no jogo de cinco sets. Já nas regras brasileiras, a quantidade de pontos para a alcançar a vitória é diferente: 

“7.2 – A partida é definida em melhor de três sets, consagrando-se vencedora a equipe que ganhar dois sets. 7.3 – Os dois primeiros sets têm o tempo-limite de dezesseis minutos cronometrados de peteca em jogo, ou doze pontos, prevalecendo a condição que primeiro ocorrer, sendo necessário apenas um ponto de diferença para a definição de qualquer um dos dois primeiros sets. 7.4 – É considerada vencedora do set a equipe que: 7.4.1 – Nos dois primeiros sets, completar doze pontos antes do término do tempo total de dezesseis minutos. 7.4.2 – Nos dois primeiros sets, tiver pelo menos um ponto de vantagem quando terminar o tempo total de dezesseis minutos.”

No que consiste as normatizações de saques e faltas, internacionalmente as regras são parecidas. Tanto no Brasil quanto em outros países, a peteca só pode ser batida com uma das mãos, uma única vez; a peteca que, durante o jogo, toca na fita superior da rede ultrapassando-a, inclusive no saque, é considerada em jogo; são proibidas: a invasão superior, que consiste na passagem de uma ou das duas mãos por cima da rede; a carregada ou a condução da peteca; a ultrapassagem da linha central da quadra e de sua projeção vertical por qualquer parte do corpo, inclusive os pés. 

Mas as dimensões dos equipamentos diferem. No principal equipamento do esporte, há uma grande divergência da regra brasileira com a regra da Associação Internacional de Indiaca. Para ambos a peteca deve ter quatro penas, mas, no Brasil, o diâmetro da base deve ter entre cinco centímetros a 5,2 centímetros e sua altura total deve ser de 20 cm, incluindo as penas. O peso deve ser de 40 a 42 gramas, aproximadamente. Já para a IIA, a indiaca ball deve ser um pouco maior, com o diâmetro da base de sete a oito centímetros, com altura das penas de 18 a 20 centímetros, sem contar a base, e com o peso de 50 a 60 gramas. 

Peteca profissional usada em competições tem base de couro e quatro penas. [Imagem: Arnaldo Alves/Arquivo Gazeta do Povo]
Peteca profissional usada em competições tem base de couro e quatro penas. [Imagem: Arnaldo Alves/Arquivo Gazeta do Povo]

Outro ponto divergente é o número de jogadores em cada time. Para a IIA, cada time deve ter cinco jogadores na quadra, mas, no Brasil, o desporto da peteca é um jogo para ser disputado ou por um único atleta de cada lado da rede ou por duplas. As dimensões da quadra e a altura da rede também diferem, mas o jogo em si,  as faltas e modo de jogar seguem a mesma lógica.

 

Da prática atualmente

Independentemente das diferenças, uma coisa que todos os países concordam são os benefícios de se jogar Peteca. O esporte pode ser jogado por crianças e adultos, sem limite de idade e de sexo, pois a velocidade é decorrente da homogeneidade dos jogadores. Por isso há separação em categorias, que vão desde Mirim, até Máster e Veteranos. 

O jogo é um exercício aeróbico, proporciona flexibilidade das articulações, agilidade dos movimentos, aumenta os reflexos e é um excelente meio de descarga psicológica para as tensões. São vários os estudos que tratam dos benefícios da prática de Peteca e da sua inclusão nas aulas de educação física nas escolas.

Por conta disso, a modalidade indígena-brasileira ganhou muitos adeptos pelo mundo. De acordo com a IIA, há, aproximadamente 800 mil pessoas jogando Indiaca no Japão, e cerca de 100 mil juntando os países europeus. No Brasil, o número de jogadores é um mistério: “Infelizmente, não sabemos quantos praticantes existem, mas é um esporte que tem crescido”, diz Márcio Alves Pedrosa, presidente da Confederação Brasileira de Peteca.

Em entrevista à Jornalismo Júnior, a paranaense Sônia Tomczak, vice-campeã na categoria máster-feminino do 30º Campeonato Brasileiro de Peteca, de 2018, contou que foi a filha quem começou a praticar primeiro na família, mas que, para acompanhá-la nos torneios, passou a jogar também em 2004. Sônia disse que ainda estranham muito quando fala que joga Peteca, pois é um esporte pouco divulgado, mas que, desde que começou a jogar, a popularidade aumentou consideravelmente: “hoje em dia, tem sempre torneios aos finais de semana”, contou a atleta. 

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