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O novo versus o velho de A Letra Escarlate

Imagem: Capa do Livro / Companhia das Letras / Reprodução Por Maria Carolina Soares | mcarolinasoares@usp.br Muita gente conhece essa expressão: “a letra escarlate”. Ela é mencionada em filmes, em músicas e em livros posteriores a sua primeira aparição. Porém, não é de grande conhecimento o nome de seu criador. Nathaniel Hawthorne, escritor nascido na Nova Inglaterra …

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Imagem: Capa do Livro / Companhia das Letras / Reprodução

Por Maria Carolina Soares | mcarolinasoares@usp.br

Muita gente conhece essa expressão: “a letra escarlate”. Ela é mencionada em filmes, em músicas e em livros posteriores a sua primeira aparição. Porém, não é de grande conhecimento o nome de seu criador. Nathaniel Hawthorne, escritor nascido na Nova Inglaterra – nome dos Estados Unidos quando ainda eram colônia dos ingleses -, publicou A Letra Escarlate em 1850. Há bastante tempo. Mais exatamente há 169 anos. Quando o puritanismo dominava o território norte-americano. Quando as bruxas eram caçadas e queimadas, principalmente em Salém, onde não coincidentemente a história de Hawthorne se passa. Ao saber disso, o leitor pode pensar que o autor seja mais um conservador cheio de lições de moral para dar, em palavras ininteligíveis do século XIX. Tudo bem, eu também pensei. Mas, surpreendentemente, não.

A história começa de uma maneira curiosa: uma punição irá acontecer em praça pública. Não sabemos quem será punido. Não sabemos o porquê da punição. Hawthorne nos apresenta, de cara, a cidade e o pensamento da população, com olhares julgadores e palavras ferrenhas das matronas, dos políticos e dos clérigos contra a “criminosa”. Sim, entre aspas. E, apesar de receber sua pena e pagar pelo seu pecado, nossa protagonista, que descobrimos ser Hester Prynne, não é julgada por Hawthorne. O autor conta sua história durante todo o livro sem juízo de valor. E o seu crime? Bem, essa é uma parte mais complicada da história.

Prynne era jovem e foi obrigada a se casar com um médico mais velho na Inglaterra. Entretanto, quando vão se mudar para a colônia, seu marido é retido em Londres por afazeres de trabalho e Hester vai sozinha ao novo continente. Depois de bastante tempo esperando pelo cônjuge, que havia desaparecido na Europa, a moça engravida e, de acordo com as leis puritanas, é julgada como adúltera. Sua pena é usar uma letra A em vermelho bordada em sua roupa pelo resto da vida e passar por algumas horas de humilhação pública na praça da cidade.

A partir daí, acompanhamos a vida de Hester e sua filha Pearl sob os olhares segregadores dos moradores de Salem enquanto tentam sobreviver através da costura. Descobrimos também que seu marido, o médico, estava morando também na colônia disfarçado sob o nome de Roger Chillingworth. Vemos a devoção do povo da cidade ao reverendo Dimmesdale, único clérigo que demonstrou compaixão por Hester em seu julgamento.

Ao acompanharmos a vida desses quatro personagens, percebemos que o objetivo da vida de Roger é se vingar de Dimmesdale (SPOILER), já que ele é o pai de Pearl e também culpado pelo adultério de Hester. Com isso, o reverendo acaba ficando muito doente sob os supostos cuidados do médico. Ao perceber isso, Hester o alerta e eles decidem fugir. A questão importante nesse trecho, além da importância para o enredo, é o olhar que Hawthorne coloca sobre seus personagens. Apesar de Hester ter traído o marido e o reverendo ter quebrado seus votos de castidade com uma mulher casada, eles não são os grandes vilões da história. Chillingworth é apresentado como o grande pecador. Isso é muito interessante de ser observado. Mesmo com os erros de Hester e de Dimmesdale, eles são perdoados pelo autor e se tornam vítimas de suas circunstâncias injustas. Já a vingança de Roger é tratada como um pecado pior do que os outros dois, porque não teria nenhuma justificativa para o ocorrido.

Além disso, em nenhum momento Hawthorne condena Hester da maneira que a sociedade da época fazia. Ele apenas relata os fatos, sem juízo de valor. Com isso, ele mostra um pensamento bastante progressista para a visão puritana e machista da época, que estava pronta para condená-la à morte. No final da obra, o autor ainda ressalta, através de sua protagonista, que, em algum momento no futuro, ainda vai ser percebido como homens e mulheres merecem os mesmos direitos no amor e que foi essa desigualdade que levou ao pecado de Hester.

A Letra Escarlate foi uma grata surpresa para quem, como eu, já está acostumado com o conservadorismo de obras mais antigas. Nathaniel Hawthorne, além de construir uma história bastante interessante fazendo uso de vários personagens e situações históricas, mostra um pensamento bastante avançado, sem condenar a protagonista por seus pecados e enxergar a desigualdade no tratamento entre homem e mulher na sociedade da época.

1 comentário em “O novo versus o velho de A Letra Escarlate”

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