Favoritas à segunda colocação no grupo do Brasil (Brasil, Suíça, Sérvia e Camarões), Sérvia e Suíça se enfrentaram nesta sexta-feira (2), pela terceira rodada da fase de grupos da Copa do Mundo do Catar. O Grupo G dessa Copa é quase igual ao Grupo E da Copa da Rússia, que tinha Brasil, Suíça, Sérvia e Costa Rica. À ocasião, Brasil e Suíça passaram, e o confronto entre Suíça e Sérvia foi decisivo para isso. Os suíços venceram de virada por 2 a 1 e avançaram à próxima fase.
Para 2022, a Sérvia chegou melhor e mais madura do que em 2018, mas teve dificuldades em fazer essa evolução valer dentro de campo. A derrota para o Brasil era esperada, mas o empate por 3 a 3 contra Camarões saiu dos planos. A Suíça chegou melhor, após vencer Camarões e perder para o Brasil por 1 a 0. O empate bastaria para La Nati (como é conhecida a seleção na parte francesa do país), enquanto para as Águias Brancas só a vitória interessava.
Pré-Jogo: tensões geopolíticas, ao menos fora de campo
A Iugoslávia foi dissolvida ao longo da década de 1990 por meio de guerras de independência contra a Sérvia, país dominante, que agiu ofensivamente contra esse movimento. Ela era composta por mais cinco países e dois territórios – entre eles, Kosovo, que se considera independente, mas não teve reconhecimento da ONU e da Sérvia.
Tudo bem, mas o que isso tem a ver com Sérvia x Suíça pela Copa do Mundo? No Kosovo, a etnia majoritária é a dos albaneses, que, portanto, apoiam a separação em relação à Sérvia. Na partida entre suíços e sérvios em 2018, Granit Xhaka e Xherdan Shaqiri, de família albanesa, comemoraram seus gols fazendo o símbolo da águia albanesa de duas cabeças com as mãos, em forma de provocação.
A questão envolvendo Sérvia e Kosovo ainda ganhou novos capítulos nos últimos dias, quando um ministro kosovar compartilhou uma imagem do vestiário da Sérvia na qual era possível ver um mapa do país incluindo a região do Kosovo e os dizeres “não nos rendemos”, em sérvio. A Fifa abriu um processo contra a Associação Sérvia de Futebol por meio de seu Comitê Disciplinar, enquanto a FFK (Federação de Futebol do Kosovo), que é membro da Uefa e da Fifa desde 2016, também se manifestou contrária à atitude dos sérvios. Já na partida, uma torcedora foi removida do estádio por fazer o gesto da águia de duas cabeças, enquanto houve relatos de sérvios pedindo a morte de albaneses.
No que diz respeito às seleções, o treinador Dragan Stojković (Piksi) e o goleiro Vanja Milinković-Savić, da Sérvia, negaram-se a responder sobre o assunto. Na Suíça, o técnico Murat Yakın e o zagueiro Akanji minimizaram as polêmicas e pregaram o discurso de “focar no futebol” e de “respeitar uns aos outros”.
Após a partida, porém, Stojković foi acusado de racismo e sexismo pelos kosovares. Meliza Haradinaj, ministra das relações exteriores do Kosovo, disse que a câmera da transmissão capturou o treinador sérvio proferiu xingou mães albanesas e kosovares depois do gol de Vlahović. Ela, juntamente com a presidente do Kosovo, Vjosa Osmani, cobrou ações da Fifa contra o treinador e a seleção sérvia. Além disso, na comemoração da vitória, Xhaka vestiu a camisa de um companheiro de seleção, Ardon Jashari, o que foi interpretado como uma manifestação pró-Kosovo – Jashari também é o sobrenome de Adem Jashari, um líder revolucionário independentista do território, acusado de terrotismo e morto pela polícia Sérvia em 1998.
Primeiro tempo: chuva de gols e muita emoção
O jogo começou frenético como se esperava, e com menos de 1’ o goleiro Vanja Milinković-Savić, da Sérvia, foi obrigado a fazer duas grandes defesas, primeiro em chute de Embolo e depois em tentativa de Xhaka. A Sérvia logo deu a resposta com Milenković, que cabeceou para fora aos 5’, e com Živković, que acertou a trave com 10’ em chute de fora da área. Aos 20’, porém, a Suíça abriu o placar: após cruzamento de Rodríguez, Pavlović afastou mal, e Sow ajeitou para Shaqiri finalizar no canto esquerdo do goleiro, contando com desvio do mesmo Pavlović para marcar.
Se a defesa da Sérvia já sofria com instabilidades desde o segundo tempo do jogo contra o Brasil, na primeira rodada, o ataque não parecia ser um problema: aos 26’, Tadić cruzou na cabeça de Mitrović, que tocou com categoria para empatar o jogo. A virada veio rápido: Shaqiri errou, Tadić recuperou e, com desvio, achou Vlahović, que bateu cruzado de perna esquerda para fazer seu primeiro gol em Copas do Mundo – ele entrou no final da partida contra o Brasil e sequer atuou diante de Camarões devido a uma lesão.
Mas esse não foi o último gol da primeira etapa: Shaqiri tocou para Sow, que abriu para Widmer cruzar rasteiro. A bola passou por toda a extensão da área e chegou para Embolo marcar. Há de se ressaltar que ele estava sozinho na segunda trave, enquanto a Sérvia tinha quatro defensores na linha da bola – todos marcando ninguém. Um gol bem arquitetado de La Nati, aproveitando-se das fragilidades defensivas das Águias Brancas, cada vez mais evidentes.
Segundo tempo: Suíça letal e Sérvia desgovernada
O segundo tempo começou como terminou o primeiro: com gol da Suíça! Shaqiri, de atuação brilhante, levantou a bola na pequena área, Vargas ajeitou de calcanhar para trás, e Freuler guardou o gol da virada suíça. Um golaço, aos 48’, em mais um momento em que os suíços pareciam brincar de jogar futebol na grande área sérvia. Quem precisava do resultado eram as Águias Brancas, mas La Nati foi quem causou mais perigo no decorrer do segundo tempo. Com 57’, quase veio mais um: após cobrança de falta ensaiada, Akanji cruzou para Vargas, que bateu para a defesa de Vanja Milinković-Savić. No rebote, Embolo jogou por cima do gol.
Piksi começou a mexer no time para tentar buscar o empate, mas não só não teve êxito, como conseguiu piorar a equipe. A Sérvia precisava criar chances de gol e furar uma defesa cada vez mais encaixada da Suíça, mas ao longo da segunda etapa Piksi sacou os dois jogadores mais criativos da equipe e de maior poderio no chute de fora da área: Sergej Milinković-Savić e Tadić. As entradas de Maksimović e de Đuričić foram pouquíssimo efetivas.
Yakın mexeu quatro vezes, sendo a mais profunda a saída de Shaqiri para a entrada de Zakaria, mais intenso na marcação. Essas alterações, somadas à impecável organização suíça, fizeram com que o segundo tempo fosse morno. O momento mais quente foi uma discussão, já nos acréscimos, entre o jovem zagueiro sérvio Milenković e o capitão suíço Xhaka.
Sinceramente? Parece ter sido um jogo muito mais legal e mais movimentado do que o do Brasil, ao menos no primeiro tempo. A Sérvia acumulou pontas e centroavantes, mas ninguém para servi-los, e cometeu erros defensivos imperdoáveis. Isso não invalida a qualidade da geração, mas é necessário, sim, que se repense a forma como o time se posta, principalmente em relação à defesa e às substituições. Piksi melhorou o time, mas ainda não conseguiu fazer com que consiga atingir o teto que se espera.
Do lado da Suíça, só resta dar os parabéns: vendeu caro a derrota para o Brasil e provou, mais uma vez, como é uma equipe difícil de se enfrentar e extremamente consciente do que se propõe a fazer, goste-se ou não. Na Euro 2020, eliminou a campeã mundial França e agora vai desafiar Portugal nas oitavas, como a própria Sérvia desafiou e se deu bem nas Eliminatórias, com chances de surpreender.
Próximos passos
Com o resultado de hoje, a Suíça vai enfrentar Portugal na terça-feira (6), em Lusail, às 16h, pelas oitavas de final, enquanto o Brasil joga contra a Coreia do Sul, na segunda (5), às 16h, em Doha. Ficam definidos, então, os confrontos para as oitavas de final: Holanda x Estados Unidos, Inglaterra x Senegal, Argentina x Austrália, França x Polônia, Marrocos x Espanha, Japão x Croácia, Brasil x Coreia do Sul e Suíça x Portugal.
Ficha técnica:
Sérvia (3-4-1-2): Vanja Milinković-Savić; Milenković, Veljković (Gudelj, 55’) e Pavlović; Živković (Radonjić, 78’), Lukić, Sergej Milinković-Savić (Maksimović, 67’), e Kostić; Tadić (Đuričić, 78’); Vlahović (Jović, 55’) e Mitrović. [Arte: Ricardo Thomé]
Suíça (4-3-3): Sommer; Widmer, Akanji, Elvedi, Rodríguez; Freuler, Xhaka, Sow (Edimilson Fernandes, 68’); Shaqiri (Zakaria, 69’), Embolo (Okafor, 90’+6) e Vargas (Fassnacht, 83’). [Arte: Ricardo Thomé]
Gols: Aleksandr Mitrović (Dušan Tadić), 26’ e Dušan Vlahović, 35’ – SER
Xherdan Shaqiri (Djibril Sow), 20’; Breel Embolo (Silvan Widmer), 44’ e Remo Freuler (Ruben Vargas), 48’ – SUI
Cartões amarelos: Rajković (banco), Sergej Milinković-Savić (47’), Pavlović (56’), Gudelj (81’), Aleksandr Mitrović (82’), Milenković (90’+5), Lukić (90+10’) – SERWidmer (15’), Vargas (34’), Xhaka (90’+5), Schär (90’+9) – SUI