2003, Winslow University, Estados Unidos. O professor Joe Carroll, especialista na literatura do romantismo, comanda uma aula sobre o autor Edgar Allan Poe, seu ídolo.
“E a principal ideia de Poe, ‘Insanidade como arte’. É o período romântico”, ele declara para a sala, embevecida com o charme do professor. “A morte é o tema, é o ânimo, o motivo e a estética emocional. Agora, Poe iguala a morte a o quê?”, o professor pergunta levemente, enquanto percorre os rostos dos alunos com seus penetrantes olhos castanhos. “Com o amor?”, arrisca um garoto. “Não, não com o amor”, o professor responde, pensativo. “Poe igualava a morte a…”
“À beleza”, uma estudante interrompe Carrol. “Poe acreditava que a arte era sobre a beleza. E que nada era mais belo do que a morte de uma linda mulher. Helen, Leonore, Annabel Lee…”. O professor, então, foca a sua total atenção na aluna. “E que tomar a beleza é…”, ele franze os olhos na direção dela. “Elevar a alma”, completa a garota rapidamente. Um sorriso discreto do professor e a aula continua.
O nome da aluna era Sarah Fuller. E a garota seria a última vítima de Joe Carroll (a única não-fatal), antes de ele ser capturado pelo FBI. Apesar de ter sido acusado pelo homicídio de nada menos do que 14 estudantes, Carrol não classificava suas ações como assassinatos. Na visão do professor universitário, com a sua faca ele fazia obras de arte. E as mais belas possíveis, de acordo com a concepção de Poe. Carrol matava apenas mulheres belas e jovens, estudantes da universidade em que lecionava. E em referência a obras do autor norte-americano, como “O Gato Preto” e “O Coração Revelador”, ele arrancava os olhos de suas vítimas.
Mas talvez Carroll devesse ter deixado essa indicação de lado. Afinal, foi graças a ela que seu caminho se cruzou com o de Ryan Hardy, agente do FBI que trabalhava no caso dos assassinatos das alunas da Winslow University. Hardy foi levado até Carroll pela esposa do professor, Claire Matthews, que, assim que soube da marca registrada do assassino, indicou o marido para ajudar o agente do FBI. Não demorou muito para que Hardy começasse a suspeitar do charmoso professor e passasse a seguí-lo. E foi com esse método nada rebuscado que Hardy conseguiu impedir que Sarah Fuller se tornasse a décima quinta garota morta por Carrol e levar o professor para o corredor da morte. Mas não sem antes sofrer um golpe de faca no coração do encantador assassino.
Dez anos depois, Ryan Hardy está fora do FBI. Com um marca-passo no coração, graças à facada de Caroll, ele passa os dias acompanhado pelo álcool. Estagnado, senão em retrocesso, não há nenhum tipo de perspectiva em sua vida. Até o momento em que o seu telefone toca e ele é chamado de volta à Agência Federal americana. Joe Carroll, o homem que ele perseguiu e prendeu, sobre quem escreveu um livro, “A Poesia de um Assassino”, e que foi o motivo de seu auge e de sua decadência, fugiu.
Afinal, ser preso não estava nos planos de Joe Carroll, um frio estrategista. A interferência de Ryan Hardy não seria facilmente aceita pelo serial killer. Nos anos que passou na cadeia, Carroll usou o seu tempo de forma muito proveitosa. Ele, que já havia escrito um livro fracassado, “O Mar Gótico” (continuação que o professor deu à obra inacabada de Poe, “O Farol”), agora faria uma nova empreitada no mundo literário.
Dessa vez, seu livro seria baseado em fatos reais. Seu protagonista? Ryan Hardy. Carroll queria um herói “forte, desacreditado, com defeitos e em busca de redenção”. Para ele, Hardy seria perfeito para o papel. Ainda mais levando em conta o envolvimento amoro que o ex-agente do FBI havia tido com Claire Matthews, sua antiga esposa, assim que Carroll foi para a cadeia e os dois se separaram.
Após conseguir acesso à internet na prisão, Carroll reuniu em torno de si uma legião de seguidores que escreveriam com ele essa nova obra. Não, não seguidores. Joe Carroll não gosta da palavra “seita”, que Debra Parker, especialista em cultos do FBI, usa para classificar o agrupamento que o assassino reuniu em torno de seus ideais. Ele prefere dizer que aquelas pessoas são suas “amigas”. Amigas dispostas até mesmo a autoimolação, e que dedicaram anos de suas vidas preparando toda uma base para que, assim que o prólogo, a fuga de Carroll, acontecesse, a história pudesse começar, com uma surpresa nova -e altamente desagradável- para Hardy em cada novo capítulo.
Em The Following, uma certeza é a de que todas as pontas vão se ligar. O roteiro é complexo e cheio de reviravoltas. Kevin Williamson, produtor executivo e criador da série, disse que a história, basicamente, trata da básica luta entre o bem e o mal. Mas não há nada de simplista nessa trama. As psicologias das personagens de The Following são altamente complexas. E ainda que os protagonistas sejam tão envolventes quanto são, não menosprezem nem subestimem o poder e a habilidade dos coadjuvantes, sejam eles os agentes do FBI Debra Marker e Mike Weston (não matem cachorros com ele por perto), ou a ardilosa Emma Hill/Denise Harris.
Ainda que a participação de Kevin Bacon como o protagonista Ryan Hardy seja de longe a mais celebrada, quem rouba a cena é James Purefoy. “Quando ele te olha nos olhos, é um pouco assustador, porque você não sabe se ele vai te beijar ou te matar”, diz Williamson sobre o ator que dá vida a Joe Carroll. Com uma interpretação envolvente e majestosa, o inglês Purefoy traz para a sua personagem todo a sutileza e classe de um assassino altamente manipulador e sedutor. A eletricidade nas cenas entre Purefoy e Bacon é tangível – e valeriam a sua audiência mesmo que a trama não fosse de tão alta qualidade. O que ela certamente é.
Nos Estados Unidos, o último episódio dessa primeira temporada, “The Final Chapter”, vai ao ar no dia 29 de abril. E a segunda temporada já está confirmada.
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