O adiamento dos Jogos Olímpicos de Tóquio devido a pandemia trouxe uma diferente expectativa em relação às provas de velocidade, seja na Natação, no Ciclismo ou no Atletismo. Com a falta de preparo ideal para muitos atletas ao longo do último ano, esperava-se disputas de um nível mais baixo de competições anteriores e, portanto, menos quebra de recordes e marcas históricas. Nas piscinas, isto de fato aconteceu. Já nas pistas do Estádio Nacional do Japão, a história tem sido outra. Na noite desta terça-feira (03), a final dos 400m com barreiras feminino registrou as melhores marcas já vistas na prova, com as norte-americanas Sydney McLaughlin e Dalilah Muhammad correndo abaixo do recorde mundial e a holandesa Femke Bol ficando a apenas um décimo da marca.
A crescente expectativa para o embate final
Antes mesmo da primeira bateria qualificatória dos 400m com barreiras feminino, já se sabia que não haveria surpresa em relação às atletas que chegariam ao pódio. Afinal, a prova reunia uma ex-campeã olímpica ainda no seu auge, a nova recordista mundial da prova e uma holandesa que dominava as pistas europeias.
Na Rio 2016, a americana Dalilah Muhammad conquistou o primeiro ouro olímpico dos EUA na história da prova e ainda foi campeã mundial três anos depois. No mundial de Doha, em 2019, Muhammad registrou o recorde mundial com um tempo de 52.16s e entrou no ano da Olimpíada como a grande favorita a vencer em Tóquio. Uma previsão que mudaria drasticamente um mês antes do início dos Jogos.
No circuito universitário norte-americano, o nome de Sydney McLaughlin era bastante conhecido há alguns anos. Com uma carreira de sucesso no high school, a atleta se tornou uma grande promessa do atletismo do país, quebrando recordes e marcas em competições amadoras. Sua ascensão ao nível olímpico foi astronômica, conquistando uma vaga para a Rio 2016 com apenas 16 anos, onde não conseguiu se classificar para a final.
McLaughlin, no entanto, não pararia de evoluir. No mesmo mundial de 2019, levou a medalha de prata, terminando atrás de Muhammad. A superação da compatriota veio na seletiva norte-americana para Tóquio 2020. Na competição, McLaughlin não só venceu a veterana, como quebrou o seu recorde, registrando 51.90s. A balança do favoritismo para a prova se movia rapidamente.
Em Tóquio 2020, as três atletas chegaram em um nível muito acima de suas adversárias. A presença de cada uma delas no pódio era uma aposta óbvia e que demandava quase um milagre para não se concretizar. Era preciso saber, no entanto, em qual ordem finalizariam a prova.
Uma prova para a história
Nas semifinais, o entretenimento viria da forte chuva que atingiu o Estádio Nacional do Japão, deixando a pista de corrida completamente encharcada. O fator climático se apresentou como o único impeditivo que poderia parar a dominância das norte-americanas e da holandesa. Não foi o suficiente. Todas venceram suas baterias e garantiram vaga para o embate decisivo.
Apesar das expectativas altíssimas para a final, o resultado ainda sim foi surpreendente e histórico. McLaughlin venceu a prova após um incrível sprint que a deu a liderança nas últimas passadas, deixando Muhammad com a prata. Bol, correndo um pouco abaixo das adversárias norte-americanas, ficou com o bronze.
Nada de surpresas no pódio. As marcas registradas, por outro lado, foram surpreendentes. McLaughlin mandou seu recorde mundial pro espaço ao correr para 51.46s. Muhammad também superou o recorde anterior e marcou 51.58s. A holandesa fez o melhor tempo da carreira com 52.03s.
Os 400m com barreiras feminino teve uma das disputas de maior nível até o momento nesta edição dos Jogos Olímpicos. Apesar das dificuldades geradas pela pandemia, as três atletas se superaram de forma surreal, registrando seus respectivos nomes na história de uma das provas mais tradicionais do Atletismo.
*Imagem de capa: Reprodução Twitter/Team USA