Não há comemorações suficientes para definir o sentimento dos brasileiros que assistiram ao embate entre Brasil e Comitê Olímpico Russo, na última manhã de quarta-feira (04). O jogo, que definiu qual seleção passa para as semifinais do Vôlei olímpico, encerrou com 3 a 1 para o time latino, numa virada emocionante. Agora, o Brasil está a uma vitória de ganhar uma medalha, numa disputa com a Coréia do Sul.
A tensão quase palpável na quadra era consequência do foco das jogadoras de ambos lados: o histórico russo de quatro vitórias em Olimpíadas é um potencializador de performance que paira sobre os ombros das jogadoras, sem dúvida. Mas o carisma e determinação das brasileiras, que não ficam muito atrás em número de ouros com duas medalhas, conseguiram derreter a frieza das adversárias.
Os pontos fortes da seleção do ROC se tornaram evidentes ao longo de toda partida — o contra-ataque veloz e forte e o bloqueio alto e certeiro foram obstáculos na performance do Brasil, que não pode se vangloriar de uma vitória fácil. Pelo contrário, as russas contaram com a participação de jogadoras decisivas, como Arina Fedorovtseva, de apenas 17 anos, que foi a maior pontuadora do jogo, com 20 bolas no chão.
Do lado brasileiro da rede, os pontos marcados por cada jogadora individualmente quase somem em comparação ao balanço geral da equipe: os rallys foram desenvolvidos com maestria, combinando as habilidades da equipe e, somados a saques bem performados e bloqueios efetivos, uniram a equipe em uma mesma sintonia. Essa harmonia foi decisiva para a vitória, não permitindo que as brasileiras perdessem o foco, mesmo em momentos mais acirrados da partida.
O Jogo do Brasil
O primeiro set marcou uma antítese entre os lados da quadra. Enquanto as russas colocavam as bolas no chão com rapidez, a equipe brasileira investia em bolas leves. O ROC abria o placar com cada vez mais pontos, e ficou evidente que, se quisessem virar o jogo, as brasileiras precisavam mudar de estratégia, ou acabariam como a seleção masculina, derrotada pelos russos na semana anterior.
Quando o placar mostrou a diferença de 17 a 12 pontos, o treinador José Roberto decidiu por fazer mudanças no time, pressionando as russas, com um placar de 24 a 23 que, apesar de esperançoso, não foi suficiente para para garantir a vitória no primeiro set para o Brasil.
A essa altura da partida, já era perceptível que o significado de fairplay era diferente entre as duas seleções: durante os saques russos, a equipe levantava os braços, numa tentativa de bloquear a visão brasileira, fato que foi motivo de reclamação — sem efeito — de Fernanda Garay para a arbitragem. Além disso, as comemorações eram frequentemente feitas voltadas para o time adversário, o que não é permitido pelas normas do voleibol. O próprio técnico do ROC recebeu uma advertência por se exaltar em alguns momentos do jogo, principalmente quando o Brasil se impunha sobre sua equipe.
A Seleção entrou em quadra para o segundo set com uma posição diferente em relação ao jogo. Dessa vez, a força se mostrava presente em seus ataques, acanhando o time adversário. Logo no início, a ponta Gabi marcou o ponto que colocou as brasileiras pela primeira vez na frente, com 3 pontos a 2. No restante do set, as russas conseguiram empatar, mas não ultrapassaram o número de pontos das brasileiras em nenhum momento, mesmo com a persistência de Arina Fedorovtsev. Fernanda Garay e Ana Carolina, em atuação impressionante, colocaram inúmeras bolas no chão. O Brasil venceu por 24 a 21, com destaque para a atuação essencial da líbero Camila Brait.
70% do planeta 🌎 é coberto por água 💦🌊💧
Os outros 30% quem cobre é Camila Brait. NÃO PASSA NADA! ❌❌❌ #BrasilDeOuro #Tóquio2020 pic.twitter.com/hqOHYE0wHh
— TNT Sports BR (@TNTSportsBR) August 4, 2021
Com o jogo empatado, a animação das brasileiras para o terceiro set ultrapassava a televisão e chegava até os torcedores em casa: Rosamaria, Carol Gattaz e Macris, já recuperada da lesão em jogo anterior, aproveitaram com maestria o time russo abalado pelo empate, desenvolvendo os rallys, que se tornavam mais longos com o passar dos sets, e aproveitando os erros de saque do ROC. Com o placar final de 25 a 19, as brasileiras passaram para o quarto set já com a medalha em mente, impulsionando seus contra-ataques.
O último set foi desenvolvido com calma e precisão pelo lado brasileiro, em contraste com a euforia do time russo, levando inclusive a um pedido por calma do árbitro para o técnico do time. Calma mesmo foi necessária pelos torcedores do Brasil: apesar da marcação das russas, que empataram o placar em diversos momentos, o match point brasileiro foi marcado por Rosamaria, fechando a ida invicta da equipe do Brasil às semifinais.
*Imagem de Capa: Reprodução @volleyballworld