100 metros rasos. A prova mais glamorosa dos Jogos Olímpicos e uma das mais aguardadas. Afinal, de lá sai o título de homem mais rápido do mundo.
Pela primeira vez desde 2008, não tivemos Usain Bolt na disputa pelo ouro. O jamaicano, que dominou o mundo durante três Olimpíadas, conquistando todas as modalidades que disputou, se aposentou. Abriu-se o espaço para novos nomes.
Numa Olimpíada como nenhuma outra, as eliminatórias para a final mostraram a cada nova fase, um potencial favorito para o ouro olímpico.
Trayvon Bromell: da lesão ao favoritismo precoce
Em 2016 Bromell rompeu o tendão de Aquiles durante a disputa da Olimpíada. Essa lesão, uma das mais graves e com uma difícil recuperação, o fez passar por duas difíceis cirurgias.
Após três temporadas fora das pistas, a reabilitação de Bromell foi, de certa forma, beneficiada pelo adiamento dos Jogos Olímpicos. Voltando em 2020, o velocista conseguiu ao longo dos treinos, atingir essa marca de 9,77 em junho de 2021, pouco mais de um mês antes do início da disputa.
Mas em Tóquio, o estadunidense não conseguiu mostrar nas pistas o favoritismo que possuía. Sem conseguir correr abaixo da marca dos 10 segundos, acabou ficando de fora da grande final. Continuava vago o título de “sucessor de Bolt”.
Marcell Jacobs: o novo raio italiano
Ao longo dos dias de eliminatórias, novos nomes foram surgindo para a conquista. Na ausência de grandes nomes, a experiência nessa disputa colocou Andre de Grasse, que conquistou o bronze em 2016, entre esses nomes.
Além dele, as semifinais destacaram Su Bingtian e Ronnie Baker, que conquistaram dois expressivos tempos de 9,83 segundos, que o consolidaram para o favoritismo na final. Mas nenhum desses nomes conseguiu alcançar a glória máxima.
O fator surpresa dos 100 metros rasos, a exceção da era Bolt, é notável. Em menos de 10 segundos, na grande final, tudo pode acontecer. E no Estádio Olímpico de Tóquio não seria diferente.
Lamont Marcell Jacobs classificou-se para a final com um tempo de 9,84, mas sem chamar grandes atenções, por ter ficado apenas com o terceiro lugar em sua bateria. De certa forma, pode-se dizer que a ausência de pressão o auxiliou.
Mesmo sendo o detentor do recorde europeu nos 100 metros, Jacobs passou despercebido dos demais. Sem os holofotes, que derrubaram todos os favoritos até aqui, o italiano mostrou muita calma, desde a apresentação até o início da prova.
A tranquilidade e concentração são essenciais em qualquer prova, mas em especial numa de tiro curto. Esse diferencial do italiano foi crucial, antes mesmo do início.
Zharnel Hughes, britânico, que se classificou em primeiro em sua bateria para a final, queimou a largada e foi desclassificado. Junto a ele, outros seis corredores o seguiram, a exceção sendo Marcell Jacobs.
Novo recorde europeu — que já era do próprio italiano —, e uma marca histórica para a Itália. Pela primeira vez, o país teve um de seus representantes conquistando a medalha de ouro nos prestigiados 100 metros rasos.
Sem o fenômeno Usain Bolt, a disputa pelo ouro esteve mais parelha do que nunca nos últimos 17 anos. A vitória de Marcell Jacobs mostrou em 9,80 segundos, todos os atributos de um vencedor. O resultado o consolida como um dos favoritos para os próximos anos. O favorito de ouro, sem ilusões nem achismos.

*Imagem de capa: Reprodução/Twitter @ItaliaTeam_it