É possível ser dramático, leve e emocionante ao mesmo tempo? Os grandes filmes de drama mostram que sim, e o mais novo lançamento do Prime Video, Uncle Frank (2020), claramente busca isso, e acerta em quase tudo. Quase.
Narrado por Beth Betsoe (Sophia Lillis), Uncle Frank conta a história de Frank Betsoe (Paul Bettany), o tio preferido de Beth. Pela sua inteligência e simpatia, Frank é tido por Beth como amigo e referência em uma família que a deixa constantemente deslocada por seus pensamentos e desejos diferentes dos costumes e hábitos da casa.
A primeira parte do longa se passa em 1969, e mostra uma das raras visitas de Frank à casa da família em Creekville, na Carolina do Sul. Nesse início de filme, já podemos ver como seu sentimento em relação à família também é de deslocamento, sendo muitas vezes preterido por seu pai, o que faz com que ele fique mais afastado da família mesmo durante as visitas.
O restante da obra se passa quatro anos depois, quando Beth é aprovada na Universidade de Nova York, em que Frank é professor, e se muda para a mesma cidade que o tio. A história mostra, então, as descobertas de Beth sobre si, sobre o mundo e também sobre seu tio Frank.
Ao visita-lo sem avisar, ela descobre a homossexualidade e o relacionamento do tio com Wally (Peter Macdissi), mantido em segredo da família há dez anos. Apesar da surpresa, Beth lida bastante bem com isso, e mantém a mesma admiração e carinho que tinha pelo tio.
Quando Frank recebe um telefonema informando a morte de seu pai, e a necessidade de sua presença no funeral, o filme adquire um ar de road trip com a viagem que ele, Beth e Wally – que os acompanha escondido – fazem em direção ao funeral do avô. Isso reforça ainda mais a amizade entre o tio e a sobrinha, o que claramente fortalece Frank, que precisa enfrentar os demônios do passado que o esperam na cidade em que cresceu.
Apesar da temática dramática e delicada, baseada em experiências da vida de seu próprio diretor e roteirista, o longa lida com o preconceito e a homofobia de forma relativamente leve durante sua primeira parte, aliando fotografia e a atuação na busca por essa leveza.
O peso no tom começa na segunda parte do filme, quando chegando a Creekville, Frank precisa enfrentar uma série de fantasmas do seu passado, mostrados em diversos flashbacks e que claramente ainda o assombram, além dos olhares tortos da população da cidade.
É nessa divisão, entre a leveza da primeira e o peso da segunda parte, que mora talvez o principal defeito do filme: a pressa. Com uma hora e meia de duração, a impressão que se tem é que tudo aconteceu meio “do nada”, sem que houvesse um crescimento ou um encadeamento de fatos que leve a um outro acontecimento, o que acaba diminuindo a sensação de realidade da história e diminuindo muito também o impacto de sequências que poderiam ser muito mais emocionantes.
As atuações de Paul Bettany e Sophia Lillis representam com exatidão a leveza que o longa busca em seu começo e o peso que quer no seu fim, ainda que a falta de “escalas” entre esses dois pontos prejudique até mesmo a ótima atuação dos dois, além de uma necessária menção a Peter Macdissi, que atua muito bem no papel de Wally.
Com um enredo ótimo e atuações muito boas, talvez a única crítica a ser feita ao filme seja mesmo à direção de Allan Ball, famoso por Beleza Americana (American Beauty, 2000) que, mesmo sendo roteirista do longa, pareceu estar preso a um tempo bem mais curto do que – como a história é contada – seria necessário. Isso faz com que muito da emoção que o filme podia passar seja perdida pela falta de autenticidade, perdendo também a sutileza no andamento da história.
Uncle Frank não é um filme ruim, longe disso, mas não entrega tudo que podia e pretendia.
O longa está disponível na Amazon Prime Video. Confira o trailer abaixo, em inglês, sem legendas:
*Capa: [Imagem: Reprodução/Prime Video]
A primeira parte ocorre em 1969. E a segunda parte ocorre em 1973.
Obrigada, já arrumamos!