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‘Vício Inerente’: Marina Sena agora é a cara da noite paulistana

A cantora mineira traz um conceito moderno com novas sonoridades e sensações

Quem não ouviu falar de Marina Sena em 2022? A artista mineira conquistou milhares de ouvintes com seu hit Por Supuesto, faixa do seu primeiro álbum. Além de viralizar no TikTok, ela chegou a ocupar a 1ª posição no top viral global do Spotify – um grande feito para uma música que não foi lançada como single. Dois anos depois, agora residente de São Paulo, Marina explora novos horizontes artísticos em seu segundo álbum, Vício Inerente (2023).

Vício Inerente revela uma Marina Sena urbana, desconhecida até então [Imagem: Divulgação / Marina Sena]

Uma nova estética

O primeiro álbum da cantora, De Primeira (2021), traz uma sonoridade semelhante aos seus trabalhos antes da carreira solo, com a banda Rosa Neon. Ele é envolvido por uma atmosfera mais leve, romântica e mineira, o que se reflete, inclusive, na capa, como apontou um fã via Twitter. 

Vício Inerente consegue romper com a estética construída pela artista até então, mas sem deixar a identidade de Marina de lado. Pelo contrário, o álbum reforça as particularidades  artísticas da mineira, que se mantém autêntica em abordagens diferentes. 

Todo o material de divulgação em tons frios, de azul e roxo, assim como as texturas metálicas, conversam com a sonoridade quase 100% eletrônica do novo álbum – em contraste com o primeiro, que era acústico. Visualmente, a nova era de Marina se assemelha muito a clipes dos anos 2000, em especial às produções de Timbaland com Nelly Furtado, e até mesmo ao recente Renaissance (2022) de Beyoncé.

Experimentando ritmos

Apesar de se enquadrar como um álbum pop, Vício Inerente passa por diversos gêneros. Ele se inicia com duas faixas influenciadas pelo trap e seu subgênero drill, mas em um ritmo mais desacelerado. Dano Sarrada e Olho no Gato ditam muito bem a proposta da produção, evocando sentimentos e cenários da vida noturna em São Paulo. Seja dentro de um clube com som alto e luzes neon, ou em uma avenida em alta velocidade contra o vento da madrugada paulistana, essa é a experiência que o álbum proporciona.

Nas faixas Tudo Pra Amar Você e Que Tal, Marina explora o Afrobeats, ritmo nigeriano dançante que tem ganhado força no Brasil nos últimos meses – importante não confundir com outro gênero de pronúncia similar, o Afrobeat, que é escrito sem a letra “S”. Em Que Tal se encontra a única participação do disco, com o MC paulistano Fleezus. Os artistas realizam uma ótima execução e a canção lembra músicas que ajudaram o estilo a se popularizar, como Sad Girlz Luv Money de Amaarae. 

Outro estilo que se repete no álbum é o reggaeton, que está presente nas faixas Me Ganhar e Sonho Bom. O gênero latino combina com Marina, pois une o rap – estilo no qual recentemente colaborou com o rapper BK – com o reggae, ritmo pelo qual a cantora já manifestou seu apreço no tweet reproduzido abaixo.

Em Sonho Bom ainda é possível perceber a versatilidade dos vocais da artista, que em determinado ponto da canção muda sua voz e soa quase como uma participação especial. Além disso, ela mantém um tom de sussurro no decorrer da faixa, trazendo uma atmosfera mais íntima, que conversa com a letra. 

É notável no álbum como um todo, a maneira que Marina usa sua voz como um instrumento musical tão relevante na música quanto os demais. O uso de efeitos nos vocais da artista, na pós-produção das faixas, consegue amplificar isso ainda mais, sem resultar em algo forçado.

O álbum apresenta muita experimentação na sua produção, com a mistura de distintos gêneros musicais. A faixa Tudo Seu, por exemplo, tem nítida influência de ritmos caribenhos como o calypso, o reggaeton e o dancehall, e não é possível encaixá-la em somente uma das três classificações por conta da sua sonoridade tão diversa. O mesmo acontece com Partiu Capoeira, que tem uma bateria de pagode baiano durante o refrão, mas mantém um andamento de guitarra característica do rocksteady jamaicano no restante da música. Esse conjunto de ritmos se une ao saxofone que acompanha Marina do início ao fim da faixa. Esta canção também faz referência a uma letra de Tom Zé, mostrando que a semelhança sonora com a MPB esteve mais presente no álbum antigo, mas em Vício Inerente, esse gênero ainda aparece nas composições da artista.

Mais de Mil tem a típica sonoridade do funk feito em Belo Horizonte, remetendo ao estado natal de Marina, que, apesar de ser de Taiobeiras, no interior de Minas Gerais, explora o som feito na capital. O ritmo mais lento, os graves, a melodia de um único instrumento e a bateria picotada, que intercala pequenos trechos silenciosos com a voz da artista, lembram o hit que viralizou em 2021, Bala Love, de MC Anjim. A forma como a faixa é construída não só permite, mas convida o ouvinte a perceber cada um dos seus elementos individualmente, funcionando como uma visita guiada à mente do produtor – nesse caso, com a própria música ocupando a função de guia.

De todas as faixas, a mais diferente é Mande um Sinal: Um jazz com elementos da bossa nova capaz de transportar quem ouve para alguma madrugada em um jazz club no centro de São Paulo. O piano somado aos estalos de dedos já compunham o instrumental muito bem, mas é quando entram os metais e a bateria suave do ritmo que tudo fica mais bonito ainda. A conexão com o álbum acontece nessa ambientação que Marina e o produtor Iuri Rio Branco conseguem construir somente através do som – o que pode facilitar a criação de um possível clipe. 

Apesar de não levar o nome de interlúdio, Meu Paraíso Sou Eu funciona como tal. A faixa mais curta do álbum tem uma batida calma, lenta e flutuante, próxima do que seria um beat lo-fi – sem o elemento estético da baixa qualidade de gravação. O interessante sobre a canção são os violinos que tocam ao final, que se assemelham muito a sons de baleias, além da voz de Marina que gradativamente parece ficar mais distante. Ambos os detalhes contribuem para o sentimento de profundidade que a faixa evoca.

A música escolhida para fechar o álbum, Pra Ficar Comigo, mescla elementos do trip hop com o chillstep, uma batida esperançosa e contemplativa se forma e embala a letra que une lembranças do passado e desejos para o futuro. O tom da canção , somado ao fato de ser uma das mais longas faixas de Vício Inerente, dá margem para o ouvinte digerir os 43 minutos que acabou de escutar, e encerra o trabalho com maestria.

Marina Sena vai do Caribe até a Europa com as sonoridades do novo álbum [Imagem: Reprodução / Twitter / @acessmarinasena]

Seriam os desejos, vícios?

As letras de Vício Inerente caminham em uma mesma direção: o desejo. A sensualidade é tema recorrente e muito mais presente do que no primeiro álbum, e o querer é abordado de diferentes perspectivas. Do desejo emocionado e urgente em Olho No Gato, até os desejos pessoais em Pra Ficar Comigo, passando pela tensão entre os desejos reprimidos em Sonho Bom, Marina consegue extrair muito de um só conceito e manter uma unidade temática na produção, sem se limitar.

[Imagem de capa: Divulgação/ Marina Sena]

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