Por Mariana Mallet (marimcp97@gmail.com)
Grande parte da população brasileira passa por dificuldades de se sustentar e adquirir bens essenciais, como comida, luz e água. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (2013) feita pelo IBGE, o país conta com aproximadamente 200 milhões de habitantes, dos quais cerca de 20 milhões vivem em situação de extrema pobreza e 7 milhões passam fome. Sem entrar na questão de desigualdade social, pode-se dizer que a sociedade em que se vive dissemina a ideia de que sucesso no âmbito profissional e financeiro é sucesso na vida. Em busca de um reconhecimento, as pessoas acabam se fechando em seus respectivos mundos e esquecem de propagar o bem. Segundo pesquisa feita pelo Instituto Datafolha em 2015, apenas 11% dos brasileiros se autodeclaram voluntários ativos. Entre os principais motivos que os fazem não praticar o trabalho voluntário, 40% dos entrevistados disseram não ter tempo.
“Para ser voluntário basta você querer, se por no lugar do outro, acho que falta isso na sociedade. É um defeito nosso sempre almejar o que é do outro, nunca estar satisfeito com o que a gente tem e não enxergar o que o outro precisa”, diz Cristian Condori, voluntário da Instituição ADUS. Segundo Natalie Majolo, voluntária da ONG Teto, o trabalho voluntário substitui a falta de serviços do Estado. “A gente chega onde ele não chega e não quer chegar”, afirma ela.
“Atuamos em comunidades que se encontram em situações precárias para o bem-estar das famílias. A ideia é que a gente entre, ajude-os a criar independência e que nosso trabalho não seja mais necessário lá”, continua.
Benefícios do voluntariado
Inúmeras são as vantagens ocasionadas pela prática do voluntariado. Em primeiro plano, temos aquelas que beneficiam a sociedade toda. Como já foi dito, um dos principais ganhos é transformar a vida de pessoas necessitadas, proporcionando-lhes melhores oportunidades. O voluntário leva nas mãos o poder de modificar, aprimorar e fazer a diferença. Mas, já pensou se aquela cumbuca de sopa quente que alguém deu a um morador de rua pode ter sido a razão de tê-lo feito sobreviver a um dia frio? Ou então, se aquela criança pobre que ensinaram a calcular conseguiu um diploma universitário? Talvez aquela conversa no telefone com alguém em depressão tenha feito ele desistir do suicídio?
O trabalho voluntário não está ligado apenas a indivíduos carentes do ponto de vista econômico. Muitos são os que exercem atividades em hospitais ou asilos. Estes, por sua vez, proporcionam alegria e entretenimento para aqueles que estão vulneráveis. Aí é que entramos no outro lado dos benefícios causados pelo voluntariado: o individual. “Depois que comecei a ser voluntária, minha vida mudou em vários aspectos: comecei a dar valor para coisas que não dava, como um simples banho quente, ou um remédio para dor de cabeça. Também comecei a perceber e tentar controlar alguns pensamentos fúteis que acabava tendo, como, por exemplo, reclamar do trânsito estando em meu carro. Acho que o melhor beneficio mesmo é a alegria e gratidão de poder ajudar ao próximo, e ao mesmo tempo ver a gratidão e amor que recebo deles”, declara Sofia Tercarolli, voluntária do projeto Entrega por SP.
De acordo com Rivonaldo Santiago, o Rivo, palestrante do Centro de Voluntariado de São Paulo (CVSP) e voluntário há 16 anos, não é preciso estar ligado a uma instituição para ser voluntário. Em entrevista, Rivo diz que toda atitude que faça o bem é voluntariado e que é preciso repensar como podemos ajudar ao próximo. Para ele, o indivíduo que pratica atividades do gênero muda totalmente, e não apenas a visão de mundo, mas também a maneira de agir, tornando-se uma pessoa mais solidária para com o outro. Segundo ele, aquele que acredita no que faz transforma a própria vida e a de todos ao seu redor. “Acredito muito que, depois que vesti a camiseta do TETO, virei muito mais gente do que já era”, diz Majolo. “Gente no sentido humanitário, de pensar mais nos meus privilégios e no dos outros. De acreditar que, se nos organizarmos, conseguimos mudar a realidade.” Para ela, o voluntariado quebrou seus próprios preconceitos e normas, sendo capaz de criarlaços de empatia e confiança “com pessoas que mal conhecemos”.
Segundo pesquisa do Instituto Datafolha, 51% dos entrevistados apontam que a principal vantagem da atividade voluntária é que ela faz com que se sintam bem. “Depois que comecei a ser voluntário, a minha visão da vida mudou. Comecei a dar mais valor para vida, a não querer muito bens materiais, sendo que tenho uma casa para morar, uma família. Me ajudou a repensar a vida, meu foco sempre foi financeiro e foi isso que mudou.”, conta Condori. Outros 40% acreditam que o trabalho faz com que se sintam úteis e 11% diz que o voluntariado faz com que desenvolvam novas habilidades.
Como ser voluntário?
Muitos são os que anseiam ser voluntários, mas não sabem onde procurar ou o que fazer. Focando a cidade São Paulo, existem milhares de Instituições que necessitam de auxílio, entretanto não são procuradas. Em contrapartida, as grandes Organizações possuem listas de espera para que alguém seja chamado para a atividade. Aí é que entra o Centro de Voluntariado de São Paulo.
Uma das principais funções do CVSP é o cadastramento de institutos, dando visibilidade para as vagas existentes e a apresentação de oportunidades ao interessado no trabalho. Basicamente, o Centro faz a ligação entre o voluntário e a Intituição que necessita dessa mão-de-obra. Além disso, este também realiza palestras de sensibilização e ajuda na capacitação de pessoas e organizações para que possam executar o voluntariado.
Em relação as áreas de atuação, é preciso que o indivíduo tenha em mente suas habilidades, capacitações e anseios. O voluntário pode atuar praticamente em tudo que desejar. Entre as principais atividades, destacam-se: recreação de crianças, educação, alfabetização de adultos, cuidar de idosos, dar palestras, organização de eventos, tomar conta de animais, entretenimento de pessoas doentes, assistência psicológica, distribuição de alimentos para comunidades e moradores de rua, entre outras.
Ser voluntário não é algo temporário, que possui um começo, meio e fim. É um estilo de vida, uma escolha pessoal, um objetivo a ser seguido. É uma via de mão-dupla, na qual a satisfação pessoal não é nada menos que é a consequência do bem-estar do próximo.