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44ª Mostra Internacional de SP: ‘Feels Good Man’

Esse filme faz parte da 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Para mais resenhas do festival, clique na tag no final do texto. Se você estava online na internet de 2016 e se posiciona politicamente como progressista, ou ao menos não possui tendências neonazistas, você provavelmente foi hostilizado por um sapo cartunesco de …

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Esse filme faz parte da 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Para mais resenhas do festival, clique na tag no final do texto.

Se você estava online na internet de 2016 e se posiciona politicamente como progressista, ou ao menos não possui tendências neonazistas, você provavelmente foi hostilizado por um sapo cartunesco de olhos grandes e brilhantes. A figura, denominada Pepe The Frog e traduzida como Pepe o Sapo, teve um impacto significativo nas eleições dos Estados Unidos daquele ano e se consagrou como um símbolo de ódio na época.

Feels Good Man (Feels Good Man, 2020) é um documentário que possui o intuito de apresentar ao espectador toda a história do sapo que levanta tanto ódio contra os outros e contra si mesmo. Seu criador, Matt Furie, é uma das personalidades centrais para essa proposta. Ele afirma que o tinha produzido e imaginado como o caçula do grupo que dá nome à história em quadrinhos conhecida como Boy’s Club, sobre amigos recém-formados da faculdade que não possuem perspectiva de futuro exceto serem, bom, perdedores. 

De repente, uma frase dita pelo sapo, que dá título ao filme, viralizou pela internet em meados de 2010 e, poucos anos depois, a imagem dele era subvertida à violência e terrorismo generalizado. Como se cria, se gerencia e se mensura o impacto de um símbolo?   

 

Na imagem de Feels Good Man, Matt Furie desenha Pepe. [Imagem: Divulgação/Ready Fictions]
Na imagem, Matt Furie desenha Pepe. [Imagem: Divulgação/Ready Fictions]

Estreia de direção de Arthur Jones, que o fez vencedor do prêmio de cineasta de documentário americano em ascensão do júri especial de Sundance, a obra é uma imersão na cultura millennial de memes de forma grandiloquente e prepotente. Há um over the top, um excesso que cerceia toda a produção. O filme une a diversão e o humor de cores excessivas, imagens psicodélicas e a falta de seriedade do conteúdo de Furie à sobriedade das transformações e preocupações sociais causadas por ele. 

Potencialmente, seu único defeito seja utilizar demais da metalinguagem com memes, ofício que sempre os faz perder seu interesse inerente 𑁋 funciona como explicar uma piada. De qualquer forma, o documentário é bem dosado entre o humor e a informação, sendo a segunda, em linhas gerais, bem embasada e produzida.

Em dado momento do longa, cita-se a obra “O Gene Egoísta”, do controverso biólogo evolutivo Richard Dawkins. Assim como nos estudos do autor sobre genes, para o filme a informação se baseia na cópia, na imitação contínua dos indivíduos de um modelo original. E talvez o exemplo mais demonstrável sejam os memes e suas habilidades de ressignificação. Num contexto em que a própria internet é metamorfoseada em commodity, a figura que reinava em fóruns como o 4Chan passou a ocupar espaços de cada vez maior influência e alcance, sendo, inclusive, retuitado pelo então candidato à presidência Donald Trump.

 

Print que arquiva a imagem, hoje apagada, compartilhada por Donald Trump durante sua campanha para presidente. [Imagem: Reprodução/Twitter]  
Print que arquiva a imagem, hoje apagada, compartilhada por Donald Trump durante sua campanha para presidente. [Imagem: Reprodução/Twitter]

Feels Good Man é um documentário sobre as especificidades culturais da contemporaneidade, em especial a cultura da internet e sua influência. Com apelo forte ao público mais jovem, ainda que tenha deslizes em realmente se conectar com tal público, é uma produção bem realizada sobre a história a que não só Pepe, mas qualquer símbolo cibernético tem o potencial de ser submetido sem o respeito aos direitos autorais. No fim, uma das reflexões mais relevantes é a de como o ambiente anônimo da internet propicia e valida ideias extremistas ao ponto de fazer com que a realidade física também seja imersa nelas.     

Pepe é só mais uma imagem, um meme com sua obsolescência programada para que, hoje, quatro anos depois, já não tenha mais impacto mainstream como antes e eventualmente seja deixado de lado. Acolhido pelas camadas incel, alt-right e autoproclamada beta da sociedade, ele é ídolo de uma cultura evasiva masculina e auto retraída fruto do patriarcalismo racista de seu tempo. Mas também da conivência do homem caucasiano apolítico médio em relação a opressões generalizadas. 

É da irreverência de Furie que, mesmo ciente de seu desenho estar sendo usado por tais camadas da sociedade preferiu se abster em virtude da “liberdade de expressão”, o Pepe predador de minorias nasce. Impedir símbolos de ódio deveria ser tema divisório?

Confira o trailer

 

*Imagem de capa: Divulgação/Ready Fictions

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