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“A Valise Mexicana”: revivendo a história através de negativos

É como reconstituir um pedaço da história através de sequências de fotos em negativos. Essa é uma das percepções possíveis ao visitar a mostra “A Valise Mexicana” em exposição no Caixa Cultural. Para quem curte fotografia, história, jornalismo, ou simplesmente é curioso, a exposição é um prato cheio. Confesso que por viver na era digital, …

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É como reconstituir um pedaço da história através de sequências de fotos em negativos. Essa é uma das percepções possíveis ao visitar a mostra “A Valise Mexicana” em exposição no Caixa Cultural.

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Para quem curte fotografia, história, jornalismo, ou simplesmente é curioso, a exposição é um prato cheio. Confesso que por viver na era digital, eu talvez não concedesse o devido valor aos negativos tão valorizados por nossos pais e mães, avós e avôs, e pelos fotógrafos como um todo. Depois de A Valise Mexicana, entendi que eles podem reconstituir cenas que meus olhos não teriam a oportunidade de ver. São a história registrada em um delicado papel.

Desde 1939, os negativos de fotos tiradas da Guerra Civil Espanhola (1936-1939) por um conjunto de três amigos imigrantes — a alemã Gerda Taro, o húngaro Robert Capa e o polonês Chim — estiveram desaparecidos e seu valor histórico-cultural era desconhecido. Apesar de toda dedicação do irmão de Robert, Cornell Capa, para investigar cada pista do paradeiro desse material, a mala que continha os registros de 4.500 fotos dos três fotojornalistas só foi encontrada em 2007, quando chegou ao International Center of Photography, em Nova Iorque, após um longo — e curioso — caminho.

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No primeiro andar, há um mapa que indica os lugares fotografados por Capa, Chim e Taro durante a guerra. Cada fotógrafo está representado por um símbolo. Foto: Mayara Paixão

Além de uma bela documentação visual da guerra e da luta política contra a expansão do fascismo em solo espanhol, os rolos de filme nos ajudam a compreender a individualidade de cada profissional e como suas percepções humanas são colocadas nas fotos. E quem mais ganha com isso realmente somos nós: podemos ver os diversos lados da guerra. Enquanto Chim procurava destacar o indivíduo fora de batalha em suas obras, retratando desde personalidades importantes até soldados em suas casas e camponeses trabalhando, Capa e Taro buscavam fotografar as linhas de frente da batalha.

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Na época, o trio cobria a guerra para as principais revistas europeias e norte-americanas, como a famosa Regards, e a exposição também traz exemplares dessas revistas expostos em grandes gavetões. É uma dinâmica interessante: dividida entre as paredes com uma iluminação mediana, estão sequências de negativos com explicações e, logo na parte de baixo, está a indicação de qual gavetão devemos abrir. Uma ida e volta que nos prende à história.

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Em cada trecho também há um lupa pendurada na parede que nos ajuda a enxergar os detalhes das imagens.

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A descoberta dos negativos também ajuda a mostrar a identidades dessas fotos. Isso porque em em um dos rolos está a fotografia mais famosa de Chim sobre o período e, talvez, uma das mais famosas da Guerra: uma mulher amamentando um bebê em uma assembleia sobre reforma agrária. Sem possuir o negativo da foto original, a imagem foi muito usada em contextos diferentes, que foram inventados por diversos veículos. A imagem da mulher que, para muitos, se assemelha à Nossa Senhora chegou a ser usada em uma montagem feita com aviões sobrevoando-a e, consequentemente, renomeada como se houvesse sido tirada durante um ataque aéreo. Agora com o negativo, somos capazes de saber exatamente o seu contexto.

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Robert Capa já era conhecido como um dos principais — senão o principal — fotojornalista de guerra. Mas a descoberta dos registros contidos na Valise Mexicana ajuda a dar valor ao trabalho de Gerda Taro, uma das primeiras mulheres reconhecida como fotojornalista e a primeira fotógrafa a morrer enquanto trabalhava. A alemã morreu durante a Batalha de Brunete, a oeste de Madrid, em 1937, a qual também registrou em suas fotografias.

Taro também foi registrada em uma sequência de fotografias presente dentre os  negativos. Fred Stein, advogado alemão que, impossibilitado de exercer a profissão em seu país por ser judeu, refugiou-se em Paris com a mulher em 1933, conheceu Taro e alugou um dos quartos de seu apartamento para ela. Além de ter feito retratos de vários de seus amigos intelectuais, como Hannah Arendt, Stein fotografou a fotojornalista em momentos de descontração — sem imaginar que, décadas depois, essas fotos acabariam fazendo parte de um registro da guerra.

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Disposta entre o segundo e o primeiro andar do prédio da Caixa Cultural, logo em frente à estação de metrô Sé, a exposição A Valise Mexicana pede apenas disposição para adentrar um pedaço da história através do olhar de um trio de amigos que dividiu sua  vida com as trincheiras da guerra e imprimiu suas impressões para que reconstituíssemos essas cenas hoje.

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Exposição A Valise Mexicana: a redescoberta dos negativos da Guerra Civil Espanhola de Capa, Taro e Chim

Local: Caixa Cultural São Paulo, Praça da Sé, 11, São Paulo-SP

Horário de funcionamento/visitação: terça a domingo, das 9h às 19h

Data: 26 de julho a  2 de outubro

Preço: Entrada gratuita

Mais informações: http://www.caixacultural.com.br/SitePages/home-principal.aspx

Por Mayara Paixão
mayapaixao1@gmail.com

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