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As dez semanas em que eu tive sorte

Andrew Luck. Quarterback titular do Indianapolis Colts. Primeira escolha no Draft de 2012. Um dos mais bem pagos da NFL (National Football League, a liga de futebol americano dos Estados Unidos) desde que renovou seu contrato em 2016. Mas nada além disso me chamava a atenção. Talvez porque o Colts tinha elencos fracos desde que …

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Andrew Luck. Quarterback titular do Indianapolis Colts. Primeira escolha no Draft de 2012. Um dos mais bem pagos da NFL (National Football League, a liga de futebol americano dos Estados Unidos) desde que renovou seu contrato em 2016. Mas nada além disso me chamava a atenção. Talvez porque o Colts tinha elencos fracos desde que comecei a ver NFL, em 2015. Ou, talvez, porque caí no senso comum de achar Luck um jogador “de vidro”, que está sempre machucado.

Não acompanhei a carreira de Luck no que havia sido seu ápice, entre 2012 e 2014 – anos em que ele foi o quarterback calouro mais desejado da história da NFL, e justificou a escolha ao conduzir o Indianapolis Colts aos playoffs em suas três primeiras temporadas. Vi apenas a derrocada do herói, que a partir de 2015 sofreu com lesões. Ombros, rim, abdômen, costela, cabeça, ombro de novo… Luck teve tudo – menos sorte – depois dos seus três primeiros anos de carreira profissional.

Depois de mais de um ano sem jogar, enfim o camisa 12 teve condições de ser titular na temporada de 2018. E nada de Luck me impressionar. A falta de ritmo de jogo e a adaptação do time ao playbook do novo treinador Frank Reich renderam um começo péssimo ao Indianapolis Colts, com uma vitória e cinco derrotas. Só uma arrancada das mais improváveis levaria a equipe aos playoffs, um time que não vencia mais do que perdia desde 2014.

Foi então que Andrew Luck forneceu ao mundo uma última amostra de seu auge. Dez semanas de magia estavam por vir.

Tudo começou em um jogo contra o Buffalo Bills. Confronto que não me chamou a atenção, afinal eram dois times longe de grandes campanhas. Andrew Luck teve quatro touchdowns e nenhuma interceptação, uma partida de elite e vitória por 37 a 5. Mas não parecia nada demais, Buffalo que possuía um time inconstante.

O próximo adversário foi o Oakland Raiders. Três touchdowns e nenhuma interceptação, mais um desempenho de gala e triunfo por 42 a 28. Mas novamente era cedo para se empolgar, o adversário era fraco.

A seguir, confronto em casa contra o rival de divisão Jacksonville Jaguars. Mais uma vez três touchdowns na conta de Andrew Luck e vitória por 29 a 26. Apesar de o placar sugerir dificuldade, o jogo estava controlado desde que o Colts abriu 29 a 13. A grande atuação contra uma boa defesa deu motivos para acreditar, mas o caminho ainda era longo.

O time de Indianapolis manteve a arrancada, massacrando o Tennessee Titans por 38 a 10. Três touchdowns, nenhuma interceptação e quase 300 jardas. Luck estava me convencendo que era um quarterback de elite.

Quando as coisas pareciam fáceis, começaram a se complicar. Jogo em casa contra o Miami Dolphins – os visitantes abriram vantagem de 24 a 14. Mas o camisa 12 foi decisivo como em seus grandes momentos. Passou um touchdown importante e coordenou um game-winning drive (expressão em inglês para campanha que sela a vitória). 27 a 24 e o sonho impossível de playoffs foi possibilitado por Andrew Luck.

Como meu time de coração estava decepcionando em 2018, eu não podia estar mais empolgado com o Indianapolis Colts. É por isso que Luck foi um dos quarterbacks calouros mais desejados da história? Será que, enfim, esse time voltaria a ser protagonista na NFL?

Recebi um balde de água fria. Para acabar com a minha empolgação com o Indianapolis Colts e reviver a desconfiança que tinha em Luck até a semana seis. Derrota por 6 a 0 para o Jacksonville Jaguars em partida sem touchdowns e com interceptação do camisa 12. Já pensava que havia confiado demais em um quarterback “de vidro”.

Mas eu não sabia que as semanas de magia continuariam. Dois touchdowns e 399 jardas para selar uma importante vitória sobre o Houston Texans por 24 a 21 na batalha pela AFC Sul. Talvez a exceção fosse a partida contra o Jaguars.

Depois veio um confronto complicado contra o Dallas Cowboys, líder de sua divisão. Luck não fez magia, mas abriu caminho para Marlon Mack fazer, e a defesa do Colts ajudou muito. 23 a 0 e cada vez a arrancada para os playoffs se tornava mais possível.

A partida seguinte precisava ser vencida, contra o New York Giants. Mas o time de Indianapolis se complicou e estava perdendo até o último minuto, até que Andrew Luck concluiu seu game-winning drive com passe para touchdown.

O time de Indianapolis havia surgido das cinzas. A campanha de 1-5 se transformou em 9-6, e isso era o suficiente para a chance de playoffs ser iminente. Com os vacilos do Pittsburgh Steelers no final da temporada, a última vaga na pós-temporada ficaria entre Tennessee Titans e Indianapolis Colts. E esse seria o último jogo da temporada, em horário nobre, em Tennessee, valendo a sobrevivência na NFL.

Apesar de ser jogo fora de casa contra uma boa defesa, esse era o jogo que me faria gostar de Andrew Luck para sempre ou não. Um jogador desse nível tem que ganhar partidas importantes, e ele fez isso com tranquilidade – como em todas as partidas contra o Titans, já que ele se aposentou com o recorde de 11-0 contra esse time. Vitória por 33 a 17 sobre o rival, e o Colts de volta à pós-temporada.

O adversário nos playoffs foi novamente um rival de divisão: o Houston Texans. Novamente fora de casa, novamente valendo a sobrevivência na NFL. E novamente Andrew Luck conduziu o Colts à vitória. 21 a 7, passagem carimbada para enfrentar o Kansas City Chiefs fora de casa.

Não foi possível parar o explosivo ataque do rival. 31 a 13, fim das semanas de magia. Mas isso já era muito mais do que eu esperava. Um quarterback que estava sempre machucado e um comandante que nunca havia sido head coach em um time que veio de campanha 4-12 em 2017. Parecia receita para o fracasso, mas em uma arrancada histórica, o time alcançou os playoffs. Um feito e tanto.

Feito que, ao contrário do que qualquer um poderia imaginar, foi o último da carreira de Andrew Luck. Depois de um problema na panturrilha na intertemporada, o camisa 12 começou a pensar em aposentadoria. Depois do corpo pedir tantas vezes para que ele parasse, foi a vez da mente pedir por um descanso.

Luck escolheu se preservar e se dedicar para a família. Chegou a hora de viajar pelo mundo com a esposa, viver sem o olhar de milhões de pessoas a cada domingo, respeitar a própria saúde física e mental. Luck aproveitou o amor pelo futebol americano enquanto ele existiu, e teve a força de abdicar da fama quando jogar virou um fardo.

Meu primeiro sentimento foi o choque. Por que alguém que jogou a nível de elite em uma temporada desiste na outra? Precisei digerir a informação por muito tempo. Refletir sobre a minha postura de desconfiar dele até a semana seis da última temporada. Entender que o tipo de cobrança que eu fazia sobre o aspecto físico de Luck era raso e contribuiu para um fim de ciclo tão abrupto.

Mas depois do choque, veio a felicidade. Felicidade de ter visto a magia do último ato da carreira do camisa 12. De ver uma arrancada rumo aos playoffs que vai ficar marcada na história da NFL. E, principalmente, de ver uma pessoa que ajudou a tornar meus dias melhores caminhando rumo à sua felicidade. E um pensamento não me sai da cabeça desde então.

“Sorte tive eu, que vi as dez semanas mágicas da carreira de Andrew Luck”.

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