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Difícil, “p r i s m” leva questões contemporâneas para os palcos da ópera

Ópera é um termo que, no imaginário popular, remete à suntuosidade, cenário e figurinos elaborados e enredos mirabolantes entoados por tenores e sopranos com música clássica ao fundo. p r i s m, da canadense Ellen Reid, coloca esses valores em cheque. A ópera contemporânea, que estreou no Teatro Municipal de São Paulo, na última …

Difícil, “p r i s m” leva questões contemporâneas para os palcos da ópera Leia mais »

Ópera é um termo que, no imaginário popular, remete à suntuosidade, cenário e figurinos elaborados e enredos mirabolantes entoados por tenores e sopranos com música clássica ao fundo. p r i s m, da canadense Ellen Reid, coloca esses valores em cheque. A ópera contemporânea, que estreou no Teatro Municipal de São Paulo, na última quarta-feira (4), não tem nada de tradicional. 

Com duas personagens, orquestra reduzida e  membros invisíveis para o público, a obra provoca desconforto e estranheza. Quem não tem acesso ao libreto, de Roxie Perkins, ou vai ao espetáculo sem pesquisar sobre o tema, tem dificuldade em entender a peça, mesmo que a história em três atos se debruce unicamente sobre o relacionamento entre duas mulheres. 

Baseada em experiências pessoais de Perkins e Reid, a ópera, vencedora do Pulitzer de composição musical, trata das consequências psicológicas da violência sexual e de relacionamentos familiares que se tornam abusivos por conta de sentimentos como culpa e super-proteção. 

No primeiro ato, mãe e filha —respectivamente a mezzo soprano Rebecca Jo Loeb e a soprano Anna Schubert— se encontram aprisionadas no Santuário, um prisma cúbico branco que remete a um quarto, e usam roupas angelicais. Fica evidente a relação de dependência, superproteção  e tensão que paira sobre o ambiente. Bibi, a filha, tem marcas roxas nas pernas e não consegue sequer sair da cama sem a ajuda de Lumee que, entre os cuidados extremos, insiste em fazê-la tomar um medicamento para evitar que seus ossos virem pó e que “o azul venha pegá-la”. 

O santuário em que se passa a maior parte da ação da ópera [Imagem: Maria Bonanova]
A referência às cores se torna mais clara para o espectador no decorrer da obra, apesar de se revelar simplista diante da complexidade do enredo. O perigo do azul se opõe ao conforto amarelo, que tinge o prisma habitado pelas protagonistas. Nele, são projetadas diversas cores, mas o branco predomina, como no modelo físico proposto por Newton, em que o branco é decomposto em faixas coloridas. Enquanto no segundo ato, o rosa-choque predomina junto com luzes de discoteca, no último, tons de cinza e marrom imprimem realidade à narrativa. 

Quando as origens da relação abusiva entre as protagonistas finalmente é revelada, no segundo ato, é como se um suspiro de alívio quebrasse o peso criado na primeira parte e fosse capaz de libertar as personagens da redoma. Nesse sentido, inegável a técnica e entrega da soprano e a mezzo soprano que executam solos memoráveis em meio a muita ação, enquanto correm, dançam, arrastam-se pelo chão ou estão deitadas na cama.

Palavras desconexas são repetidas pelas duas como num ritual, mas sem a musicalidade típica das óperas. O uso da língua inglesa, incomum a este tipo de montagem, e diálogos falados, que poderiam ser considerados como inovadores, atrapalham o clima da ópera, levando o espectador a questionar se a história não seria mais bem aproveitada como teatro tradicional.

A ousadia de levar para as casas de ópera temas contemporâneos pela perspectiva feminina é notável. No entanto, o formato escolhido para apresentá-los enfraquece seus pontos fortes e revela detalhes que tiram o foco da discussão principal. Talvez com o passar do tempo —a estreia em Los Angeles foi há menos de um ano— o espetáculo amadureça e se torne mais robusto, contribuindo para sua recepção com a audiência. Enquanto isso, fica a expectativa de que p r i s m seja adaptada e possa suscitar as reflexões que propõe de forma inovadora, porém mais acessível.

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