Jornalismo Júnior

logo da Jornalismo Júnior
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

J-Pop: um universo de vários ritmos, estilos e desafios

Com influência do ocidente e da música tradicional japonesa, a música popular no Japão amplia mercado e tenta se adaptar à nova realidade digital

O J-Pop, abreviação para pop japonês, não é restrito: ele engloba diferentes variações musicais e conceitos. Com originalidade, uma infinidade de artistas, bandas, grupos, idols e diferentes hits, o gênero musical faz sucesso ao se apropriar de referências do inglês sem perder a identidade de seu país de origem. Pressionado pela digitalização do mercado musical e pela pandemia de Covid-19, o J-Pop se aproxima de estratégias utilizadas pelo K-Pop, ao mesmo tempo em que mantém diferenças históricas em relação ao gênero coreano.

O que é J-pop 

J-Pop, música pop japonesa ou música popular japonesa, é um gênero musical complexo e que abarca ritmos distintos. Apesar de atualmente estar muito ligado à concepção do pop e da indústria de idols, boy groups e girl groups, o estilo também conta com artistas e bandas que não seguem essa linha de entretenimento e trazem elementos de gêneros como jazz e folk, rock, R&B, hip-hop, reggae e outras variações. 

Segundo Krystal Urbano, professora e pesquisadora em Comunicação e coordenadora adjunta do MidiÁsia – Grupo de Pesquisa em Mídia e Cultura Asiática Contemporânea da Universidade Federal Fluminense (PPGCOM-UFF) —, “o J-Pop é bastante presente enquanto sonoridade e estilo musical contemporâneo no cotidiano da sociedade japonesa e tem considerável espaço de visibilidade em suas mídias locais (rádio, televisão e internet)”.

Práticas comuns do gênero, no passado, eram os covers de músicas estadunidenses cantadas em japonês e a inserção de palavras e expressões em inglês nas letras, o que expressa a influência direta da música ocidental sobre esse estilo. “A fusão das sonoridades japonesas com as tendências musicais ocidentais experimentadas entre os anos 1970 e 1980 se tornou cada vez mais diversa no Japão, dando origem ao J-Pop como gênero e estilo musical baseado na música pop estadunidense, mas que preservou um alto grau de especificidade cultural local, o que explica o seu apelo e sucesso junto aos públicos internacionais”, aponta Krystal.

O uso de bateria, guitarra elétrica e sintetizador marcam as produções, assim como melodias simplificadas, vocais agudos e letras também simples que tratam de juventude, amizade, amor, felicidade e aspirações. Krystal explica que, no J-Pop predomina o hibridismo entre questões culturais e filosóficas específicas da sociedade japonesa e temas mais universais e globais.

O visual dos idols também é expressivo no gênero. Grupos femininos com trajes fantasiosos ou infantilizados são muito vistos no J-Pop, o que está ligado a uma estética meiga ou kawaii que pode ser observada também no comportamento dos membros. 

 

J-Pop: foto de jovem japonesa com cabelos em tom loiro escuro, soltos ao redor do rosto, e duas flores rosas próximas ao queixo
Cantora e compositora japonesa Ayumi Hamasaki, que vendeu mais de um milhão de cópias já em seu primeiro álbum, “A Song for XX”. [Imagem: Reprodução/Instagram/a.you]

Breve história da música popular japonesa 

O termo J-Pop surge no fim do século 20, mas sua base remonta ao Kayokyoku — termo cunhado na década de 1930 para definir música popular japonesa e que já contava com influências do ocidente e misturas musicais herdadas de anos anteriores. Desde o período Taisho, que vai de 1912 a 1926, já se notava a influência de instrumentos ocidentais, usados principalmente em marchas militares.

Nas seis décadas seguintes, que correspondem à era Showa, o jazz advindo do ocidente ganha popularidade — interrompida durante a Segunda Guerra Mundial, mas retomada logo após o conflito, com a presença de soldados estadunidenses que ocuparam o Japão. Além do jazz, o blues e o boogie-woogie, por exemplo, também foram introduzidos à música no país. 

Entre 1950 e 1960 o rock ganha espaço na música japonesa, com base na influência de bandas como os Beatles. Depois disso, desponta um movimento na década de 70 chamado New Music, influenciado pelo folk, e nos anos 80 eclode o City Music, gênero focado em temas urbanos, música eletrônica e jazz. 

É somente em 1990 que a denominação J-Pop surge. Segundo Krystal,o termo foi criado por uma estação de rádio japonesa chamada J-Wave e tinha como objetivo “descrever uma nova forma de música produzida no Japão inspirada na música pop ocidental da década de 1990”. Com o tempo, o termo passou a descrever a maioria das músicas populares no Japão, abarcando desde os idols até os artistas que focavam na música tradicional. 

 

J-Pop: quatro jovens do sexo masculino, um ao lado do outro, com roupas coloridas, apontam para uma placa com o nome "Official HIGE DANdism"
A banda Offical HIGE DANdism acumula quase meio milhão de seguidores no Instagram. [Imagem: Reprodução/Instagram/officialhigedandism]

Os principais artistas

Mesmo antes de ter um nome oficial, o J-Pop já tinha força nos anos 80 com artistas como The Checkers, Masahiko Kondo e Anzen-Chitai. Porém, foi na década de 1990 que dois cantores aumentaram a fama do gênero em nível internacional: Tetsuya Komuru, produtor e compositor que teve músicas na trilha sonora da Copa da França e no longa Velocidade Máxima 2, e Hikaru Utada, cantora que aos 16 anos vendeu seis milhões de cópias, em 1999. Suas músicas são inspiradas no pop ocidental e no R&B.

Em uma análise mais recente, Ayumi Hamasaki e a banda Offical HIGE DANdism também têm destaque, mas a princesa do pop japonês atual é Kyary Pamyu Pamyu. Ela incorpora elementos de Harajuku (estilo diversificado com origem nas ruas do bairro de mesmo nome) e “kawaii” (fofo e colorido) e já declarou se inspirar em Lady Gaga e Katy Perry.

 

A cantora Kyary Pamyu Pamyu começou a carreira como blogueira de moda e modelo antes de fazer sucesso no pop musical japonês [Imagem: Reprodução/Instagram/kyarypappa]

 

Além de artistas individuais, os grupos são uma formação importante no sucesso do J-Pop. A boy band Arashi, que em 2020 encerrou suas atividades, foi um fenômeno por anos, com longa sequência de músicas no topo das paradas e com um álbum de compilações que, em 2019, foi o mais vendido no mundo, batendo BTS e Taylor Swift. Para o fã e dono do portal J-PopBrasil no Twitter, Valandro Krejci Renner, a banda foi um dos maiores grupos do estilo e o primeiro a ter maior popularidade em vendas de álbuns de idols masculinos do J-Pop no Japão e em parte da Ásia.

No contexto das girls bands, o grupo AKB48 tem sido uma das bandas de maior ganho no cenário musical japonês, ao lado de Scandal, Perfume, Momoiro Clover Z, Morning Musume e E-girls.  Além do perfil meigo e infantilizado, as girls bands exploram outros formatos e estilos. É o caso da banda Babymetal, que inovou e alcançou grande sucesso nacional e internacionalmente com combinação de “kawaii” e metal.

 

J-Pop: três mulheres jovens japonesas, com trajes pretos, abraçadas umas às outras pelos ombros
A girl band “Perfume” foi formada em 2001 e quatro anos depois alcançou sucesso nacional no Japão. [Imagem: Reprodução/Instagram/prfm_official]

Qual a diferença entre J-Pop e K-Pop?

Nos últimos anos, a ascensão de grupos como BTS e EXO popularizou o K-Pop entre os jovens brasileiros. O crescimento do mercado chamou a atenção para a música oriental, que tem diferenças marcantes entre os gêneros. 

 

Apesar das diferenças entre os gêneros, a formação de grandes grupos é comum entre eles, como o caso da banda de K-Pop BTS (acima) e de J-Pop SixTones (abaixo). [Imagem: Reprodução/Instagram/bts.bighitofficial/sixtones_official]

 

O J-Pop é resultado da cultura pop do Japão, com impacto dos Beatles e do Beach Boys, enquanto o K-Pop teve influência dos americanos Backstreet Boys e Britney Spears. Os ídolos coreanos são responsáveis por grande parte do sucesso do ritmo entre a juventude. Já o J-Pop tem fãs que variam de 18 até 60 anos, com efeitos de décadas.

Outra diferença é o tamanho dos países de origem. A Coreia do Sul é bem menor do que o Japão, inclusive em população. Assim, os cantores sul-coreanos precisam realizar mais investimentos no mercado externo, direcionando, em maior parte, as músicas para os estrangeiros. O mercado musical japonês detém maior grau de desenvolvimento, o que diminui a motivação para a exploração do potencial internacional do J-Pop. Além disso, quando vão para o exterior, artistas de K-Pop geralmente fazem colaborações com cantores locais, aumentando sua popularidade. A maioria dos de J-Pop optam por participar de eventos relacionados ao Japão.

De acordo com os fãs e donos do portal JPopBrasil no Instagram, Orlando da Silva Costa e Hernanni Carvalho, “o K-Pop facilita seu acesso e muitos artistas são lançados comercialmente para o ocidente com um som mais americanizado e focado mais na dança, coreografia e elementos da cultura coreana. Já o J-Pop é muito introduzido em animes. Também encontramos músicas ocidentalizadas, mas há uma gama de estilos e sons diferentes para todos os gostos, há um conceito mais fofo e colorido (kawaii), baladas, Vocaloid (cantoras virtuais) e outros”.

Em suma, para Krystal Urbano, “a principal diferença entre o J-Pop e o K-Pop está nos modelos de funcionamento de suas indústrias culturais, que se diferem substancialmente sob um ponto de vista comparativo e relacional. Diferentemente do caso japonês, que conta com uma expressiva política de repressão no que concerne aos direitos autorais de suas produções pop musicais (em ambientes como o Youtube, por exemplo), não contando assim com uma estratégia oficial de difusão do J-Pop direcionada às novas mídias, o K-Pop e seus produtos correlacionados têm sido mais eficientes em se difundirem nesses espaços, e para além deles, por vias oficiais e não oficiais”.

O J-Pop em 2021

A pandemia de Covid-19 acelerou o movimento do ritmo em direção ao digital, área que as gravadoras japonesas por muito tempo recusaram. Com o público em isolamento social e a produção de shows interrompida por tempo indeterminado, as empresas precisaram se integrar mais à internet por meio de serviços de streaming e lives. Essa transição começou em 2020 e seus desenvolvimentos podem ser sentidos em 2021.

Playlist de J-Pop no Spotify, serviço de streaming [Imagem: Captura de Tela/Spotify Brasil]
Com a mudança de contexto, os fãs atuais de J-Pop esperam ídolos on-line nas redes sociais e músicas de fácil acesso.

Uma das canções mais bem sucedidas de 2020, Yoru ni Kakeru, de Yoasobi (‘Racing into the Night’), se transformou em uma febre graças a uma melodia de piano, videoclipe animado e letras sombrias. É um som singular, com um seguimento pop alinhado de maneira mais realista com a contemporaneidade e que tem influenciado outros grupos do gênero, como Sixtones. 

Além disso, o J-pop também tem explorado o Tik Tok como meio de alcançar popularidade na indústria musical. O sucesso de hits japoneses é expresso globalmente na viralização de músicas usadas como trilha de danças e memes no aplicativo. O single Mayonaka no DoorStay With Me, lançado em 1979 por Miki Matsubara, faz sucesso em diversos edits na plataforma de vídeos e também como fundo de divulgação de serviços de streaming, como o Spotify. Só no YouTube a música já tem mais de 45 milhões de reproduções.

Ainda no Tik Tok, o grupo japonês One n’ Only ganhou popularidade no Brasil também ao dançar sucessos da música brasileira, desde axé dos anos 2000 até hits de funk e forró atuais.

Com o tempo, novas possibilidades tomarão o topo das paradas, com aprofundamento das ferramentas digitais e da interação com o público. Afinal, o J-pop, assim como o pop em geral, é versátil e está em constante movimento.

1 comentário em “J-Pop: um universo de vários ritmos, estilos e desafios”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima