Desde o lançamento do primeiro trailer no final do ano passado, Loki (2021) já buscava demonstrar ao público sua proposta ousada, transgressora e até mesmo complexa. A terceira série original da Marvel Studios, veiculada na plataforma de streaming Disney Plus, escolheu abraçar um dos mais conceituados temas do audiovisual: o tempo.
Essa ilustre temática, que já conduziu o enredo de clássicos, desde o britânico Doctor Who (1963-) a jovens sucessos como o alemão Dark (2017-2020), agora marca presença na nova produção da Marvel. A primeira temporada das crônicas do Deus da Mentira faz jus ao título do “imortal” e não cansa de enganar seu público ao implantar certa desconfiança à trama e às suas personagens.
Em geral, após os seis episódios de pouco mais de 40 minutos, Loki não apenas carimbou sua passagem no Universo Cinematográfico da Marvel (MCU), como também abriu de maneira assertiva infinitas portas para o futuro da gigante editora americana nas telonas e telinhas.
O mais curioso sobre os pontos levantados acima é que eles não se tratam necessariamente de verdades absolutas. No entanto, também não se limitam a mentiras ou trapaças. A odisseia temporal de Loki não é conduzida apenas pela desconfiança e incerteza, mas é, do mesmo modo, uma história de introspecção, autodescoberta e independência para escrever seu próprio caminho.
Humor esse que é muito bem carregado pela excelente interpretação de Tom Hiddleston, que através de seus trejeitos desajeitados, piadas cortantes, característico sotaque britânico e um visual excêntrico para um viajante no tempo, entrega quase que uma homenagem aos fãs de Doctor Who.
Para além do protagonista, vale destacar as boas performances dos dois principais parceiros do Deus: Owen Wilson (Mobius) — dessa vez não acompanhado por um cachorro — e Sophia Di Martino (Sylvie), que atuam em sintonia com o carisma de Hiddleston e o complementam, ora como escada para o humor da personagem, ora como um ombro que instiga a face emocional e humana do “imortal”. São essas duas personagens as responsáveis por proporcionar a Loki importantes reflexões quanto a sua existência e a seu modo de agir, o que, consequentemente, o faz evoluir e abandonar os estigmas que antes o regiam e, desta forma, fugir do que um Loki deveria ser.
Em uma tentativa de organizar e esclarecer a problemática das viagens no tempo, introduzidas por Doutor Estranho (2016) e amplamente utilizadas em Vingadores: Ultimato (2019), o roteiro adotou como estratégia de explanação o conceito determinista de manipulação do tempo. Muito resumidamente, tal vertente consiste na teoria de que absolutamente todos os eventos que já existiram — e que ainda estão por existir em determinada linha do tempo — na verdade sempre estiveram lá, imutáveis. Dessa forma, uma vez que o tempo sempre foi e sempre será o mesmo, anula-se automaticamente a possibilidade de que um ser altere factualmente o seu percurso, o que, consequentemente, exclui o ideal de livre arbítrio.
Todavia, nem mesmo o tempo escapa da imprevisibilidade que marca a série. Seu perfil absoluto e pré determinado incomoda o protagonista, que passa a questioná-lo ferrenhamente e, por conseguinte, parte em busca por respostas e resoluções. No final das contas, foram sempre as mentiras que governaram o tempo.
A odisseia do Deus da Mentira contagia, surpreende e, inevitavelmente, ludibria o público. Funciona perfeitamente como entretenimento, gera inúmeras risadas, conta com atuações acima da média, faz com que sonhadores (como eu) vislumbrem Tom Hiddleston como um “Doutor Quem” perfeito e já deixa muita saudade. Agora basta torcer para que a confirmação da segunda temporada não seja somente mais uma das mentiras que persistiram na série.
![Confirmação da segunda temporada de Loki (2021), ainda sem data estipulada. [Imagem: Reprodução/Disney Plus]](http://jornalismojunior.com.br/wp-content/uploads/2021/07/unnamed-5-1.png)
*Imagem da capa: Reprodução/Disney Plus