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‘O teste do casamento’: Uma chance de conhecer melhor Khai Diep

Helen Hoang explora a diversidade com personagens não-brancos e neurodivergentes em um enredo clichê, mas que prende a atenção

Continuação de Os números do amor (Paralela, 2018), O teste do casamento (Paralela, 2022), chegou às livrarias com os dois pés na porta. Sua premissa clichê se destaca por uma diferença: assim como no primeiro livro, um dos protagonistas está dentro do espectro autista, o personagem Khai Diep, que já apareceu no primeiro livro.

A premissa começa quando Dì Mai, mãe de Khai, decide que é a hora de seu filho se casar. Para isso, ela vai até o Vietnã, país de origem da família, e encontra alguém que aceite se tornar esposa de Khai. A escolhida é Mÿ, uma jovem mãe de uma garotinha chamada Jade. A personagem, que mais tarde muda seu nome para Esme, aceita a proposta pensando em sua filha e vai morar na casa de Khai, nos Estados Unidos. O problema? Ele não sabia que tinha uma suposta noiva e nem sequer que ela iria morar com ele.

Apesar de às vezes faltar química, o casal forma uma dupla interessante [Imagem: Reprodução/Instagram/@eklixio]

As barreiras emocionais

Esme e Khai não se dão bem em um primeiro momento, o que não ocorre por falta de esforço de Esme, que busca sempre estar em contato com seu suposto noivo. Diferente de Michael, do primeiro livro, esta personagem não tem conhecimento sobre o que é o  transtorno do espectro autista (TEA)  e recebe uma explicação muito rasa de Quan, irmão de Khai, mas não busca compreender mais a fundo, o que faz com que ocorram algumas situações desagradáveis que poderiam ser evitadas.  

É interessante ver como a dinâmica ao entorno do transtorno muda neste segundo livro: enquanto Stella, de Os números do amor, tinha conhecimento de seu diagnóstico mas tentava esconder de outras pessoas, Khai é mais aberto em relação a isso e explica a Esme algumas de suas condições e limites para a forma como ela pode agir sem incomodá-lo. Um bom exemplo é quando Khai expõe que se aborrece com certos toques de Esme, o que retira da cabeça dela a sensação de que ele pudesse ter algo contra ela em específico.

Para além das questões físicas e do espaço em que dividem – que também gera conflitos, pois Khai estava acostumado a morar sozinho e administrar sua casa de forma específica – o jovem estadunidense tem um bloqueio emocional e assimila o amor à perda, já que perdeu seu primo e melhor amigo, Andy, e se culpa por isso. Isso faz com que ele acredite, desde o ocorrido, que é incapaz de amar alguém, e por isso não estava em busca de uma namorada como sua mãe desejava. Nesse ponto, os protagonistas são opostos: Esme é receptiva e amorosa, e Khai não consegue entender seus sentimentos e julga que o amor não é para ele. Em um primeiro momento, isso se mostra um problema, já que Esme se doa o tempo inteiro enquanto Khai se fecha, o que alimenta o estranhamento da situação que já não é confortável para um romance. Contudo, ao longo da convivência, ambos parecem encontrar um meio termo para se encaixar, fazendo jus ao famoso “os opostos se atraem”. 

A mudança para outro continente

Esme atravessa todas as dificuldades da mesma maneira: leve e descontraída. Mesmo o fato de mudar de país para casar com alguém que não conhece é visto por ela como uma oportunidade e, ainda que tenha muitos percalços pelo caminho, pode ser bem aproveitada.

Muitos fãs se mostraram incomodados, em suas resenhas, com a questão de Esme ter sido trazida do Vietnã para um casamento combinado, onde sequer conhecia o noivo. É uma narrativa um tanto quanto arcaica, principalmente considerando que Esme não tinha um grau muito alto de educação e pertencia a uma classe social abaixo da de Khai e sua mãe. 

Segundo a autora, a premissa tem inspiração na história de sua mãe, que “é uma lenda na família” por ter ido do Vietnã para os Estados Unidos sem nenhum apoio, tendo cursado somente até a oitava série e se tornado dona de quatro restaurantes de sucesso. Ela conta, em suas notas finais, que Esme fazia parte da história como uma personagem secundária, mas que ela brilhava e roubava o protagonismo para si, o que fez com que o plano do livro mudasse e Esme passasse a ser a protagonista do romance. 

“Esme era corajosa e estava lutando de todas as formas possíveis por uma vida nova para si e para as pessoas que amava. Tinha os motivos certos, tinha profundidade, mas também tinha uma vulnerabilidade notável. […] Depois de uma longa reflexão, percebi que inconscientemente estava tentando tornar meu trabalho aceitável para a sociedade, o que era inaceitável para mim como filha de uma imigrante.”
– Trecho das notas da autora
Esme e Khai compartilham um gosto peculiar por Coca-Cola, o que gera conflitos entre eles no inicio [Imagem: Reprodução/Instagram/@eklixio]

O sucessor não supera o antecessor

Apesar de divertido, O teste do casamento não tem o mesmo apelo de Os números de amor, o que provavelmente se dá pela premissa menos criativa e que, na verdade, explora um clichê recorrente e um pouco ultrapassado: o casamento arranjado. Parece faltar uma conclusão melhor desenvolvida, já que questões que seguiram por todo o livro até são contempladas ao final da história, mas de forma rápida e sem muitas explicações.  

Vale lembrar que, assim como o anterior, este livro apresenta conteúdo adulto e não é recomendado para menores de 18 anos. Nesse sentido, esse livro também se diferencia do outro, já que aqui os acontecimentos parecem ter menos impacto do que no anterior, o que se justifica pela diferença no enredo. Dessa forma, é importante ter em mente que, apesar de estarem dentro da mesma trilogia e, teoricamente, terem que seguir um padrão, os dois livros têm diferenças na narrativa que podem fazer com que um leitor que goste do primeiro livro não necessariamente goste do segundo. 

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