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Sofia Coppola: o feminino, o underground e a sensibilidade
CINÉFILOS
20 out 2014 | Por Jornalismo Júnior

por Ana Luísa Fernandes
ana08m@gmail.com

Carreira

O sobrenome “Coppola” por si só fala muita coisa: Sofia Carmina Coppola é filha de Francis Ford Coppola, um dos cineastas mais aclamados internacionalmente pela trilogia O Poderoso Chefão (The Godfather, 1972). E foram nesses mesmos filmes que Sofia começou a sua carreira como atriz. Nos dois primeiros ela aparecia em papéis bem pequenos, sendo que no primeiro era só um bebê. Foi a partir do terceiro filme, em 1990 que ela ganhou um papel de maior peso, interpretando Mary Corleone. Foi muito criticada pela sua atuação no filme, e até ganhou um prêmio Framboesa de Ouro por “atriz mais insuportável”. Mas esse não foi o fim da carreira como atriz. Sofia também fez parte de outros filmes como  Star Wars Episódio I: A Ameaça Fantasma (Star Wars Episode I: The Phantom Menace, 1999 ). Mas foi indicada novamente ao prêmio Framboesa de Ouro. Foi então que desistiu de vez da carreira de atriz para se dedicar à direção de filmes. Inclusive o diretor do Framboesa afirma que esse é um dos grandes méritos do prêmio que por duas vezes perseguiu Sofia: “Ela não atuou mais. Perdemos uma péssima atriz e ganhamos uma grande diretora”.

mary corleone sofia coppola

Sofia Coppola como Mary Corleone

A estreia por trás das câmeras foi em As virgens suicidas (The suicide virgins,1999), estrelado por Kristen Dunst. O filme foi produzido pelo pai Francis Coppola e foi bem aceito pela crítica especializada. Chamou a atenção o modo com o qual Sofia conseguiu mostrar um assunto tão dramático e profundo como o suicídio de maneira tão delicada. Ela contou que, após terminar de ler o livro e descobrir que planejavam fazer um filme sobre, ficou pensando em como deveria ou não ser feito. O que não sabia era que acabaria escrevendo o script e se tornando diretora de um filme com uma história que havia gostado tanto.

O seu segundo filme, Encontros e Desencontros (Lost in Translation, 2003), teve quatro indicações ao Oscar: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator e Melhor Roteiro original, levando o prêmio na última categoria. Assim como o filme de estreia de Sofia, Encontros e Desencontros foi muito elogiado e levou Scarlett Johansson para o mundo dos filmes mais sérios e com teor mais denso.

Já o seu terceiro trabalho, Maria Antonieta,(Marie Antoinette, 2006 )  estrelou novamente Kristen Dunst no papel principal. O filme teve cenas filmadas no Palácio de Versalhes , algo que nunca havia sido autorizado anteriormente. Por ter não conseguir retratar tão bem a Revolução Francesa, não foi tão bem recebido e chegou a ser vaiado após sua apresentação no Festival de Cannes. Mesmo assim ganhou o Oscar de melhor figurino.

maria antonieta sofia coppola

Kirsten Dunst com Sofia Coppola

Um  Lugar Qualquer (Somewhere, 2010) se saiu melhor que Maria Antonieta, apesar de alguns considerarem o tema, que envolve personagens famosos, já um pouco repetitivo nos filmes de Sofia. O longa retrata um ator famoso perdido dentro de si tem que aprender a conviver com a sua filha de 12 anos. Mas como ela já disse: “A cultura das celebridades me interessa muito, possivelmente por causa da minha família”. Afirmou que esse filme partiu do desejo de tentar fazer algo mais simples, com poucos personagens, já queestava anteriormente envolvida em uma produção tão grande.

Em Bling Ring- A Gangue de Hollywood, 2013, Sofia volta com assuntos que envolvem celebridades, mas dessa vez do lado oposto: jovens que aspiram ser famosos e conhecidos e por isso roubam as casas de estrelas . A inspiração do filme surgiu de uma matéria na revista Vanity Fair que contava a história da gangue. Sofia disse que na hora ficou interessada e pensou em como poderia adaptar aquilo para o cinema. Uma das maiores críticas ao filme foi a falta de profundidade dos personagens, mas apesar disso também foi bem recebido.

Atualmente Sofia trabalha em uma nova versão de A Pequena Sereia, sem previsão de estreia. Um dos nomes mais cotados para viver Ariel é Emma Watson que também participou de Bling Ring. O novo filme já ganhou um trailer feito por um site de humor na internet, que concentra cenas (e de certa forma debocham) de alguns dos aspectos mais frequentes nos filmes e no estilo de Sofia, como a trilha sonora enorme e variada e até mesmo a apresentação em que se lê: filha de Francis Ford Coppola.

Vida pessoal

Sofia nasceu no dia 14 de maio de 1971, em Nova York. O seu primeiro casamento, que acabou em 2003, foi com o também diretor Spike Jonze, que entre muitos trabalhos, dirigiu o filme Ela (Her, 2013). Atualmente é casada com o cantor Thomas Mars da banda francesa Phoenix. Eles têm dois filhos: Romy e Cosima que nasceram em 2006 e 2010 respectivamente. A família se divide entre Paris e  Nova York.

A diretora sempre foi muito discreta, principalmente com sua vida pessoal. É vista como uma pessoa quieta, que fala baixo e que solta frases curtas. Também é considerada um ícone fashion: tem a sua própria linha de bolsas na Louis Vuitton e é queridinha de Marc Jacobs. Recentemente dirigiu a propaganda do perfume Daisy Dream da marca.

sofia coppola no oscar

Hollywood e o machismo, Sofia e o feminismo

Que Hollywood ainda é um lugar muito machista, a maioria sabe. Seja pelos salários menores que as mulheres recebem, pelas cenas de prazer sexual feminino cortadas, pela objetificação e muitos outros. É quase inacreditável pensar que em 85 anos do prêmio, apenas quatro mulheres foram indicadas ao oscar de melhor diretor(a). Sofia foi uma delas.

A personalidade forte  de uma mulher que, por mais que tenha seguido os passos do pai não vive na sombra dele, incomoda. Ela possui um jeito único de fazer filmes, misturando o sinistro, o melancólico e o doce. Seus filmes sempre possuem uma temática feminina,’ como por exemplo “As virgens suicidas” que retrata o problema da repressão sexual que as meninas sofrem pelos pais. E também o mais recente, “Bling Ring” que possui apenas um personagem principal masculino entre várias mulheres. Eles conversam sobre aspirações, desejos, compras e sobre vários assuntos que cercam o universo o feminino. Em nenhum momento pontual o clichê “mulher só fala com mulher sobre homem” acontece. Na verdade, todos os filmes de Sofia são aprovados no Teste de Bedchel, uma espécie de avaliação para a representação de mulheres nos filmes.

sofia coppola e francis

Sofia e o pai

Todos os seus filmes possuem personagens femininas marcantes, nada parecidas com estereótipos, assim como a própria Sofia. Além de ter dirigido seus filmes, ela escreveu o script de todos. Muito se fala de um caminho “fácil” que ela teve que percorrer para alcançar o sucesso, sendo filha de quem é. Mesmo tendo a coragem de mudar de carreira pra se dedicar ao que realmente gostava, mesmo sabendo que aquela era uma indústria que valorizava mais os homens e mesmo sabendo que os seus filmes seriam completamente diferentes dos do grade Francis Coppola. Ela já disse diversas vezes que não pede a opinião do pai nos seus filmes, apesar de admira-lo muito. Sofia Coppola é um dos poucos nomes femininos reconhecidos por Hollywood que fica atrás das câmeras. Uma pena.

Cinéfilos
O Cinéfilos é o núcleo da Jornalismo Júnior voltado à sétima arte. Desde 2008, produzimos críticas, coberturas e reportagens que vão do cinema mainstream ao circuito alternativo.
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