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Apple TV+: ‘On the Rocks’ é tão charmoso e fugaz quanto um bom drinque 

Dizer que Sofia Coppola é uma diretora experiente é, no mínimo, eufemismo. Ao longo de sete longas-metragens, a cineasta não só construiu obras reverenciáveis como consolidou seu nome na lista de criadores mais instantaneamente reconhecíveis da sétima arte. Em contraposição a seu sucesso e status, no entanto, o intimismo em seus estudos de personagem e …

Apple TV+: ‘On the Rocks’ é tão charmoso e fugaz quanto um bom drinque  Leia mais »

Dizer que Sofia Coppola é uma diretora experiente é, no mínimo, eufemismo. Ao longo de sete longas-metragens, a cineasta não só construiu obras reverenciáveis como consolidou seu nome na lista de criadores mais instantaneamente reconhecíveis da sétima arte. Em contraposição a seu sucesso e status, no entanto, o intimismo em seus estudos de personagem e foco incisivo na delicadeza de diferentes facetas das relações interpessoais nunca a abandonou. 

Sobre as sutilezas de tais obras, no entanto, recaíram por costume personas inusitadas e únicas. Com Maria Antonieta (2006), a diretora compôs um dos filmes mais diferenciados sobre amadurecimento feminino reprimido, assim como, na década passada, tomou como responsabilidade retratar a obsessão insípida pelo mercado da imagem em Bling Ring: A Gangue de Hollywood (2013). Surpreende, então, que tenha decidido construir seu mais novo lançamento a partir de figuras tão aparentemente descomplicadas. 

On The Rocks (2020) é um longa felizmente satisfeito em seu próprio espaço, tão distante de riscos explícitos quanto um filme de estreia cauteloso. De longe a empreitada menos ambiciosa de Sofia, é o tipo de produção de orçamento mediano que ocuparia as telas em semanas menos concorridas nas salas de cinema.

Visualmente, não se distancia de algo que poderia ter sido feito por alguém como Nancy Meyers, monarca regente de comédias românticas. Tematicamente, aliás, chega inesperadamente perto de Um Senhor Estagiário (The Intern, 2015). 

No lugar da melancolia estendida de trabalhos precedentes, uma trilha animada acompanha a rotina da protagonista, Laura (Rashida Jones), uma escritora com bloqueio criativo e suspeitas sobre a fidelidade do marido, intensamente agravadas pela presença do pai hiperanalítico e vigilante, Felix (Bill Murray). Juntos, eles iniciam uma espionagem que os leva a territórios internacionais e perseguições automobilísticas.

 

Laura e Felix vigiam o marido sentados em um carro em cana de On the Rocks, novo filme de Sofia Coppola [Imagem: Reprodução/Apple TV+]
Laura e Felix vigiam o marido, Dean (Marlon Wayans). [Imagem: Reprodução/Apple TV+]

A sinopse e estética convencionais, no entanto, resguardam um roteiro aguçadamente consciente de si, disposto a ceder ao simplismo para garimpar as riquezas observacionais que lá repousam. 

Com o claro contraste entre Felix e Laura, a obra introduz a audiência a um divertido e dinâmico bate-e-volta sobre divergências de idade e estereótipos patriarcais. Não é exatamente inventivo, mas, com o apoio do inegável charme e química de Bill e Rashida, sustenta boas cenas ao longo do tour dos protagonistas pelos bares de Nova Iorque. 

A escrita, cheia de referências peculiares a conhecimentos gerais, cria o exotismo que torna a figura de Felix tão cativante e estilosa, assim como oferece material mais do que suficiente para as respostas de Rashida Jones como intérprete de Laura. Ambos os atores são excepcionais no timing cômico e cerne afetuoso do texto. Até rápidas participações, como a de Jenny Slate no papel de Vanessa, estimulam a audiência ao rendimento à história reconfortante e engraçada.

Ainda assim, é no senso construído de segurança que o filme tenta engendrar armadilhas para o público, tanto quanto para seus personagens. A comédia sagaz, disposta em leves e rápidos diálogos, faz com que mesmo uma pausa no fluxo de falas revele a instabilidade carregada pelas pessoas em tela. Daí, o longa extrai seus melhores apontamentos quanto à temática do trauma geracional e hereditário. 

 

Entre espelhar-se no pai e fazer as próprias decisões, Laura se vê perdida. [Imagem: Reprodução/Apple TV+]
Entre espelhar-se no pai e fazer as próprias decisões, Laura se vê perdida. [Imagem: Reprodução/Apple TV+]

A diversão que Laura parece ter com o pai compõe tanto uma fuga do próprio marasmo quanto do ressentimento que carrega devido a casos extraconjugais que testemunhou na juventude — e assombraram sua percepção de afeto pelo resto da vida. O pai, por sua vez, tenta desesperadamente se manter evasivo e descolado enquanto almeja compensar as feridas causadas, ou distrair a filha pela criação do inimigo em comum: o marido. 

Nessa abordagem, é um filme doce e compreensivo. Gentilmente, dispõe em poucas palavras complexidades que podem, também, ser simples. Se, como alega, todos querem ser amados, faz sua parte ao oferecer tanta sensibilidade. Não existem vilões, ou complicações que extrapolem as capacidades dos personagens. Encarado após sua completude, parece uma anedota curiosa que abastecerá conversas descontraídas por anos na vida de Laura. 

A transparência de seus conteúdos, entretanto, não deixa de ser morna e dificilmente memorável, mas nem todo longa precisa ser uma obra-prima — e Coppola não tem mais o que provar a ninguém. On the Rocks é um bom filme e um bom escape ao longo de seus 97 minutos, tão honesto quanto idílico.  

On the Rocks já está disponível para todos os assinantes da Apple TV+. Confira o Trailer

 

*Imagem de capa:Reprodução/Apple TV+

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