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Um retrato do cotidiano por Caco Galhardo

Com formato pouco convencional, que remete a um quadrinho de jornal, Cinco Mil Anos (Cia. das Letras, 2019) reúne mais de 20 anos de trabalhos do cartunista paulistano Caco Galhardo. Sem índice ou divisões aparentes, as tirinhas, quadros, charges e ilustrações podem ser lidas e relidas livremente. O único requisito para a compreensão do trabalho …

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Com formato pouco convencional, que remete a um quadrinho de jornal, Cinco Mil Anos (Cia. das Letras, 2019) reúne mais de 20 anos de trabalhos do cartunista paulistano Caco Galhardo. Sem índice ou divisões aparentes, as tirinhas, quadros, charges e ilustrações podem ser lidas e relidas livremente. O único requisito para a compreensão do trabalho de Galhardo é estar minimamente familiarizado com as dinâmicas da sociedade.

Trabalho, relacionamentos, crises existenciais e uso da internet são alguns dos temas abordados com recorrência e humor nos quadrinhos, cuja ironia ultrapassa tempo e contexto. Os desenhos presentes na coletânea datam desde 1998, mas não há qualquer indicação temporal de sua origem no livro, o que torna os torna fascinantes por sua atualidade. 

Com a exceção de referências a eventos e tecnologias específicas como o Facebook, qualquer uma das tiras poderia ter sido publicada nas últimas duas décadas e ainda fazer sentido. Personagens como Chico Bacon, Lily a Ex e El Diablo (foto) recebem espaço privilegiado no volume, cuja diagramação combina a cor do fundo dos quadrinhos com os tons usados por Galhardo. 

Interessante perceber a combinação de cores usadas na edição, que evidencia desde a capa as nuances do cartunista. Com um desenho minimalista em preto e branco, que remete aos quadrinhos musicais de Daiquiri, o livro tem uma segunda capa na qual  um lado traz personagens coloridos e o outro é bicromático. Fazendo papel de capa protetora, o adereço permite que o leitor escolha como quer ver o livro e pode, ainda, servir como pôster decorativo, antecipando a diversão e versatilidade da edição. 

O poder de síntese, um dos principais indicadores da qualidade de um quadrinho, é presente ao longo do todo o livro, ressaltando a qualidade dos diálogos dos personagens caricatamente diagramados. Mesmo usando formatos variados, que vão charges até HQs, passando por ilustrações legendadas, no estilo da New Yorker (foto), Galhardo arranca sorrisos ao unir poucas palavras a traços simples. 

Com o jornal Folha de S. Paulo como plataforma, o cartunista conseguiu traduzir o sentimento de uma parcela considerável dos brasileiros sobre a situação do país e as relações sociais. A honestidade com a qual Lily a Ex tenta sabotar seu antigo companheiro (com repertório tão delicioso que ganhou adaptação para TV exibida na GNT) e a pretensão com a qual Umberto Ego e Gilberto Gideleuze discutem arte e intelectualidade geram identificação imediata no público. 

A reunião de quase –como ressalta a apresentação– todos os trabalhos de Galhardo em um livro permite entender como o Brasil passou os últimos anos: reconhecendo as circunstâncias, fazendo críticas e, principalmente, com humor. Melhor do que começar o dia com uma dose de acidez lendo as tirinhas do jornal é ter à disposição uma coletânea delas para  fazer o cotidiano mais suportável.

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