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Vini Jr. e demais vítimas: Por que o racismo ainda é um problema no futebol?

Mesmo com regulamentos e campanhas, os casos de racismo no futebol europeu continuam acontecendo

Os episódios de racismo na elite do futebol europeu seguem se repetindo. Somente na temporada 2022/23, foram nove denúncias na Espanha só de casos contra o atleta brasileiro Vinícius Jr., do Real Madrid. Desde o início da temporada 2023/24, em agosto, o atacante já foi alvo outras vezes. Ainda no primeiro semestre, também aconteceu na Itália um episódio em que o belga Romelu Lukaku sofreu insultos racistas da torcida da Juventus. O atacante ainda foi advertido com um cartão amarelo por ter supostamente provocado os torcedores rivais ao comemorar o seu gol na partida — na realidade, Lukaku fez um gesto em repúdio aos atos racistas.

Diante de situações como essa, muito se fala sobre o papel que os clubes deveriam ter no combate ao racismo. Na teoria, de acordo com o código da FIFA, as equipes são responsáveis pelas atitudes de seus torcedores e estão sujeitas às punições previstas nos regulamentos de suas ligas nacionais quando alguma regra for quebrada, seja pela torcida, seja por algum funcionário do clube. Na prática, porém, as punições previstas nos regulamentos não ocorrem com a devida frequência e rigidez.

Em entrevista ao Arquibancada, Marcelo Carvalho, diretor do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, diz que a aplicação de penas como a perda de pontos e exclusão dos times das competições seria um passo positivo para uma mudança de cenário.  

As ligas nacionais e confederações continentais possuem códigos de ética rigorosos quanto a assuntos de discriminação. No código da Uefa, por exemplo, a punição mínima é o fechamento parcial do estádio da equipe em questão, seguido de uma multa de 50 mil euros – em casos de reincidência, as penas se agravam, sendo a mais severa a desclassificação da competição. 

Existem também ações previstas quando os atos racistas partem de pessoas diretamente envolvidas na partida, como jogadores, comissão técnica e arbitragem. Apesar disso, a punição também não é proporcional ao crime e a suspensão de partidas é de 10 jogos.

Um exemplo muito forte dessa impunidade que os clubes vivem é que na história do futebol, o único clube a ter sido desclassificado de uma competição por conta de atos racistas de sua torcida, foi o Grêmio ao ser excluído da Copa do Brasil de 2014.

Visto que, em um cenário exclusivamente punitivista, os clubes não são induzidos a tentar mudar a situação na prática, a conscientização conjunta pode ser uma solução.

De acordo com João Paulo Ribeiro, advogado desportivo formado pela UniCeub em Brasília, “deve-se considerar a inclusão de programas educacionais focados na conscientização sobre diversidade e inclusão dentro do esporte.” Campanhas como essas já se mostraram eficientes: na Inglaterra, a campanha “No Room For Racism” é promovida pela Premier League. O índice de casos de racismo nos estádios ingleses é baixo em relação às demais ligas e a Premier League conta, inclusive, com campanhas independentes dos clubes integrantes.

Logo da campanha antirracista da PL [Foto: Divulgação / Man City]

A seguir, alguns dados sobre o racismo no último ano nas cinco principais ligas.

LaLiga

A liga espanhola não tem o poder de aplicar sanções diretas e precisa lidar com esses casos apresentando denúncias à uma comissão estatal contra a intolerância no esporte. 

Apenas na temporada 2022/23 já são nove denúncias apresentadas à comissão em que o alvo das agressões foi Vinícius Jr., do Real Madrid. 

Mas os ataques contra o jogador brasileiro não param dentro das arquibancadas. Durante o programa El Chiringuito de Jugones, o comentarista Pedro Bravo disse para Vinícius Jr. parar de “fazer macaquice” dentro de campo devido às danças que o ponta esquerda faz na comemoração de seus gols. Após o acontecido, Vinícius publicou, em seu Instagram, um vídeo se posicionando diante da situação. O episódio gerou grande comoção nas redes sociais e a hashtag BailaVini teve grande alcance. Nomes como Pelé e Neymar se juntaram a milhões de internautas em apoio ao atleta no que se tornou o assunto mais comentado no Twitter.

Serie A 

Os casos de racismo na Itália são relatados à justiça desportiva, responsável por aplicar as sanções e medidas cabíveis. O regulamento da federação diz que os clubes são responsáveis por tomar as medidas preventivas contra eventuais comportamentos racistas de seus torcedores.

A punição mínima para os clubes é de um jogo com portões fechados e, em caso de reincidência e a depender da gravidade do caso, a medida pode ser estendida até a expulsão do time da liga.

O Campeonato Italiano também conta com uma campanha própria contra o racismo, a “Keep Racism Out”. Além disso, torcedores que forem identificados em atos racistas estão sujeitos a banimento dos estádios de até cinco anos. Apesar do que dizem os códigos, Umtiti, zagueiro do Lecce, e Romelu Lukaku, atacante da Inter de Milão, já foram vítimas de atos e cânticos racistas dentro dos estádios em 2023.

[Foto: Reprodução/Instagram @romelulukaku]

Ligue 1 

Os jogos do Campeonato Francês contam com oficiais dentro de campo que são responsáveis por relatar comportamentos racistas. Os casos são enviados para um comitê disciplinar que é responsável pela análise dos acontecimentos e pela aplicação de punições — que podem ser advertências, multas ou fechamento de arquibancadas, a depender da gravidade da infração.

A última investigação registrada pela liga francesa foi em outubro de 2022, em jogo no qual Islam Slimani, atacante do Stade Brestois que é muçulmano e teria sido insultado dentro de campo por Johan Gastien, jogador do Clermont-Foot. 

Bundesliga

A Federação Alemã de Futebol é a responsável pela atribuição de sanções em casos de racismo. As punições na Alemanha incluem retirada de pontos, jogos com portões fechados, rebaixamento e até banimento temporário do futebol. 

O último caso do tipo registrado no país foi em setembro de 2022, quando torcedores do Eintracht Frankfurt em jogo pela Champions League contra o Olympique de Marselha. O clube foi multado em 15 mil euros.

Premier League 

A liga inglesa possui um grupo jurídico que fica responsável pelo controle de incidentes de discriminação dentro dos estádios. O torcedor que for flagrado cometendo algum ato de abuso está sujeito a ser banido de todos os estádios relacionados com jogos da PL. A campanha “No Room For Racism” está em vigor desde o início de 2021 e obriga os clubes a estampar um logo nos uniformes. A Premier League também é uma das ligas com mais manifestações anti racistas promovidas por jogadores— é comum que os atletas se ajoelhem em volta do círculo central em forma de protesto, antes das partidas.  

Uniformes estampando a campanha antirracista da Premier League [Foto: Divulgação / Liverpool.com]

Vinícius Jr.

Nas últimas temporadas, vêm se tornando comuns ataques racistas direcionados a Vinícius Júnior, atacante do Real Madrid e da seleção brasileira. Com o tempo, os episódios passaram a extrapolar as arquibancadas e chegar às ruas. No ano passado, às vésperas de um clássico entre Real e Atlético de Madrid, um boneco com a camisa 20 (numeração do Vinícius no Real Madrid) foi pendurado como se estivesse sendo enforcado em uma ponte em frente ao CT do clube. Recentemente, um pôster em que posavam Benzema e Vinícius Jr. foi vandalizado e o rosto do brasileiro foi rasgado da foto.

O poster vandalizado ocorreu após mais um caso de racismo dentro do estádio em jogo contra o Valencia, no dia 21 de maio, o atacante desta vez reagiu dentro de campo após gritos vindos da torcida o chamando de “mono” (macaco em espanhol), depois da confusão Vinícius ainda foi expulso da partida acusado de provocar a torcida fazendo o número dois com a mão, fazendo referência a segunda divisão. Esse caso foi mais um que gerou grande comoção nas redes sociais e nos estádios ao redor do mundo, e mais uma vez a mídia espanhola falhou em seu papel, após Pedro Bravo falar para Vinícius parar de fazer macaquice na TV, foi a vez do jornal espanhol Superdeporte colocar em sua capa a frase “Vinicius, não provoque” novamente colocando na vítima a culpa do racismo. 

Após declaração de Vini dizendo que o racismo é normal na La Liga, Javier Tebas, presidente da liga, afirma que nem a Espanha ou o campeonato espanhol de futebol são racistas. Segundo ele, é “muito injusto” Vinícius Júnior afirmar isso.

“Nada vai acontecer. Normalmente, nada acontece. Porque aconteceu muitas vezes, em muitos estádios. E o que aconteceu? Nada.” Foi uma das falas de um Carlos Ancelotti bastante irritado após o ocorrido, a declaração do treinador escancara que a postura a ser adotada daqui pra frente é de que já basta.

O Valencia recebeu como punição 5 jogos com o setor Mario Kempes fechado, setor de onde vieram a maioria dos insultos, e  mais 45 mil euros de multa. Novamente um crime como o racismo foi minimizado pela Federação Espanhola de Futebol, uma vez que aceitaram reduzir as punições aplicadas para 3 jogos e 27 mil, sanções essas que originalmente já eram baixas em relação ao episódio ocorrido.

Poster com Vinícius Jr. no Santiago Bernabéu vandalizado após episódio com o Valencia [Foto: Divulgação/ Terra.com.br]

Observa-se que punições não faltam, ainda na fala de Marcelo Carvalho “As punições já são rigorosas, o que falta é a aplicabilidade dessas punições”. Visto que as ligas possuem as defesas necessárias para essas situações, é incabível que elas continuem acontecendo por falta de responsabilização. 

O maior dos problemas é que o racismo é algo estrutural na sociedade, e é papel de todos lutar contra a discriminação. Citando o Dr. João Paulo Ribeiro, “O racismo é um problema complexo e enraizado na sociedade. Para realmente combater o racismo, é necessário promover mudanças 

estruturais na sociedade e na cultura do futebol“.

[Foto: Reprodução/Instagram @vinijr]

Vinícius Júnior, sua coragem e resiliência são exemplos para todos nós. […] Continue brilhante, estamos com você nessa luta por justiça e igualdade

Dr. João Paulo Ribeiro

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