Por Breno Macário (breno.macario@usp.br) e Hellen Perez (hellenindrigoperez@usp.br
Assim como os carros velozes que disparam pelas pistas, o tempo também é rápido: em 2025, a fundação da Fórmula 1 completa 75 anos, coroados com uma trajetória repleta de momentos marcantes e nomes que ficaram para a história. A paixão pela velocidade não só foi responsável por criar a competição, mas também por fazer com que pessoas de todas as partes do mundo vibrassem atrás das telinhas aos domingos, acompanhando a emoção que emana de cada motor
A história da Fórmula 1 até aqui
A criação
Ao contrário do que muitos pensam, o automobilismo já era bastante consolidado antes da Fórmula 1. O esporte já existia muito antes da sua principal categoria atual, fundada em 1950. A primeira corrida ocorreu em 1894, organizada em Paris pelo Le Petit Journal, que promoveu um concurso de “carros sem cavalos” com uma corrida até a cidade de Rouen ao final da exposição.
Nas primeiras provas automobilísticas, os carros não eram tão velozes, os circuitos eram de terra e com aproximadamente 100km de extensão, o que contribuía para que as provas durassem até dias inteiros. Desde o início, o automobilismo sempre envolveu muito dinheiro e atraiu um grande público, fatores que foram essenciais para a consolidação do novo esporte.
Na época, os chamados “Grandes Prêmios” (GP) receberam esse nome por oferecerem recompensas em dinheiro para os vencedores. O termo serve até hoje para denominar as etapas da Fórmula 1. Inicialmente, os GP’s eram tradicionais em cidades como Paris, Mônaco e até em São Paulo, que realizava corridas no bairro do Jardins
Carro vencedor da prova Paris-Rouen em 1894, primeira corrida automobilística que se tem registros [Imagem: Reprodução/ Wikimedia Commons]
Apesar do sucesso, essas provas não passavam de corridas isoladas, com regulamentos que variavam muito, e não havia nenhum tipo de organização de um só campeonato que contabilizasse todos os GP’s. Nesse contexto, após a Segunda Guerra Mundial, a Fórmula 1 foi criada pela Federação Internacional de Automobilismo (FIA) com esse objetivo. Com isso, todos os circuitos que participassem do campeonato deveriam seguir as mesmas regras e regulamentos.
Então, em 1950, a Fórmula 1 fez sua temporada de estreia. Por conta da crise na Europa durante o pós-guerra, os carros utilizados eram da época pré-Segunda Guerra Mundial. A primeira etapa ocorreu em Silverstone, na Inglaterra, e contou com a presença da família real britânica – o que representa bem o quão consolidado já era o automobilismo.
A temporada inicial teve seis etapas europeias e uma em Indianápolis, nos Estados Unidos, mas muitas equipes europeias já existentes na época não participaram. Nesse ano, havia apenas o campeonato de pilotos, que teve Giuseppe Farina, da equipe Alfa Romeo, como vencedor. O campeonato de construtores só foi criado em 1958 e teve a equipe Vanwall como a campeã da primeira edição.
Anos 1950: o começo de tudo
A década de 1950 foi protagonizada pelo grande piloto argentino Juan Manuel Fangio, que venceu cinco campeonatos correndo por quatro equipes diferentes, sendo elas: Alfa Romeo, Mercedes, Ferrari e Maserati. Apesar de existir grandes pilotos depois de Fangio, ele é considerado por muitos um dos melhores pilotos da história. O argentino é o campeão com o maior percentual de vitórias (47%).
Naquela época, as etapas já aconteciam em um único final de semana. Elas já continham treinos, fase de classificação e um sistema de pontuação que escalava de acordo com as posições de chegada dos pilotos nas corridas. Ao final da temporada, ganharia o piloto que conquistasse mais pontos, assim como o regulamento atual. O campeonato de pilotos seguiu o mesmo modelo de competição.
Os carros continham motores dianteiros e chassis no formato que ficou popularmente conhecido como “charutinhos”. As máquinas do início da Fórmula 1 não continham asas e spoilers como as atuais porque a aerodinâmica era um conceito que iria ser mais explorado anos mais tarde. O hábito de desenvolver novos mecanismos já era presente e motores traseiros e novos chassis aparecem no final da década.
Nessa década, as equipes se mantinham a partir da ajuda de empresas de petróleo e pneus; a publicidade tomaria conta do esporte apenas nos próximos anos. Até então, os carros não eram estampados com logos de patrocinadores e suas cores eram determinadas de acordo com o país a qual cada equipe pertencia.
Mercedes-Benz W196, carro que Fangio utilizou para conquistar os campeonatos de 1954 e 1955 [Imagem: Reprodução/ Wikimedia Commons]
Anos 1960: o domínio inglês
Já os anos 1960 foram dos ingleses: as equipes do país (Cooper, BRM, Lotus e Brabham) venceram sete campeonatos de construtores, e os britânicos também levantaram a taça do campeonato de pilotos por seis vezes. Os nomes de destaque foram Graham Hill, Jim Clark e Jackie Stewart.
Em relação às escudeiras, foi o momento do surgimento das “garagistas” – equipes menores que começavam em pequenas oficinas. Destacaram-se a britânica Lotus e a Brabham, equipe fundada pelo então bicampeão Jack Brabham, que conquistou seu tricampeonato pela sua própria equipe em 1966.
No desenvolvimento dos carros, essa década foi marcada pela consolidação dos motores traseiros, construção dos primeiros chassis monocoque – para conter impactos na cabine do piloto -, e pelo início da exploração da aerodinâmica, com a Lotus instalando as primeiras asas e spoilers nos seus carros em 1968. Além disso, a publicidade apareceu estampando os carros no final da década.
O número de corridas aumentou nessa década para ao menos 10 etapas por temporada. Destacam-se a adição da etapa da África do Sul, no circuito de Kyalami, que demonstra a preocupação em dar um verdadeiro caráter mundial para a categoria. Além da África do Sul, foram adicionados novos GP’s nos EUA, como o circuito de Riverside, e outros na Europa, como o circuito de Jarama por exemplo, que recebeu o GP da Espanha.
Anos 1970: sucesso crescente
Esses anos são lembrados por muitos fãs em razão da pluralidade de grandes pilotos e equipes. Os atletas de destaque foram o brasileiro Emerson Fittipaldi, o austríaco Niki Lauda e o inglês Jackie Stewart. Entre as principais equipes, a Lotus e a Ferrari marcaram a década nas pistas.
Emerson Fittipaldi conduzindo o Lotus 72D. O carro e o piloto foram homenageados na música “Lotus 72D” de Zé Roberto [Imagem: Reprodução/ X/@F1]
No desenvolvimento dos carros, apareceram mudanças importantes para a dinâmica das corridas. Melhores motores e os pneus slick (sem sulcos) foram essenciais tornar as etapas cada vez mais velozes. Enquanto a maior exploração do downforce (força que empurra o carro para o solo) foi determinante para aumentar a aderência e estabilidade das máquinas.
Nos bastidores, foi o momento do surgimento de um personagem importante: Bernie Ecclestone. Em entrevista ao Arquibancada, Guilherme Longo, jornalista do portal de notícias sobre automobilismo Motorsport.com, afirma: “É o principal responsável pelo crescimento da popularidade [da categoria], os fãs devem agradecer a ele”.
Ecclestone chega na Fórmula 1 como chefe de equipe da Brabham e ao ver o potencial de crescimento da categoria, consegue estabelecer uma associação de equipes, a Formula One Constructors Association (FOCA), e fazer negócios em prol da liga. Anos mais tarde, assumiria a direção da Fórmula 1 e ficaria no cargo até 2017.
Guilherme descreve as contribuições iniciais de Ecclestone: “Não existia uma organização centralizada de direitos de transmissão ou direitos comerciais. Então ele se encarrega disso e começa a comprar diversos direitos. Depois, começa a vender as transmissões de forma integrada, por temporada”. Esse sistema de transmissão, que deu muito lucro para a Fórmula 1, junto dos grandes espetáculos esportivos nas pistas, fizeram a categoria consolidar um grande número de fãs que cresceria cada vez mais nos anos seguintes.
Anos 1980:
Nessa década, a Fórmula 1 continuou aumentando o número de corridas e manteria uma média de 16 etapas por temporada até os anos 2000. Nas pistas, a época foi marcada pelo domínio das equipes Williams e McLaren, que conquistaram quatro campeonatos de construtores cada. Os pilotos que mais se destacaram nesses anos foram Alain Prost, Nelson Piquet, Ayrton Senna e Nigel Mansell.
Os anos 1980 também marcaram uma época em que os carros se tornaram mais leves, resistentes e velozes com a introdução de estruturas feitas com fibra de carbono e motores turbo. A essa altura, os carros já tinham evoluído muito em seus designs, porque estavam bem mais aerodinâmicos, modernos e visualmente mais próximos dos carros que compõem o grid atual.
Anos 1990:
Nesse período, a McLaren conquistou três campeonatos de construtores enquanto a Williams se sagrou campeã em cinco oportunidades. Com isso, as equipes inglesas repetiram a década anterior e mantiveram um domínio entre as escuderias. Os pilotos de destaque foram Ayrton Senna, que conquistou seu tricampeonato e se tornou o herói dos brasileiros, e Michael Schumacher, que começou a correr nesses anos e logo começou a dominar a categoria.
No desenvolvimento dos carros, aconteceram episódios importantes. Em 1993, a Fórmula 1 atingiu o seu auge tecnológico. O carro campeão da Williams daquele ano trazia muitas tecnologias avançadas, como freio ABS, controle de tração, suspensão ativa e transmissão automática.
Em 1994, preocupada com os rumos da categoria, a FIA baniu a maioria dessas tecnologias, com o argumento de que elas promoveriam uma maior desigualdade entre as equipes, e as performances dos pilotos se tornariam cada vez menos importantes para as vitórias. Uma das poucas tecnologias que permaneceram até hoje foi o câmbio semi-automático, que permite ao piloto trocar marchas através de “borboletas” atrás do volante.
Século XXI: dias atuais
Até agora, os pilotos que marcaram este século foram Michael Schumacher, que dominou a Fórmula 1 junto à Ferrari no início dos anos 2000, Lewis Hamilton heptacampeão que fez história ao ser o primeiro piloto negro da categoria, o tetracampeão Sebastian Vettel e Max Verstappen, que também conquistou quatro campeonatos e é o atual campeão de pilotos.
Max Verstappen, atual campeão de pilotos da Fórmula 1. [Imagem: Reprodução/ Wikimedia Commons]
No campeonato por equipes, destacam-se a volta da Mercedes em 2010, que após décadas fora retornou e conquistou oito títulos consecutivos, e o surgimento da Red Bull Racing, que ingressou na categoria em 2005 e já soma seis campeonatos. A tradicional Ferrari também tem marcado este século com a conquista de sete campeonatos. Além dessas múltiplas campeãs, a Renault merece menção honrosa com a conquista do seu bicampeonato em 2005 e 2006, o famoso piloto Fernando Alonso conquistou seus dois títulos com a equipe.
O novo século também trouxe muitas mudanças nos carros. Os anos 2000 foram marcados pela potência e barulho característico dos motores V10 e V8, mas, em 2014, eles foram substituídos pelo V6 híbrido que utiliza o auxílio de sistemas de recuperação de energia mecânica para produzir mais potência e contribuir para a sustentabilidade ao reduzir a emissão de gases poluentes.
As evoluções também chegaram na aerodinâmica. A principal mudança foi a criação do Drag Reduction System (DRS), uma asa móvel traseira que se abre em trechos específicos do circuito para reduzir o arrasto aerodinâmico e facilitar ultrapassagens.
Atualmente, a Fórmula 1 aumenta constantemente o seu número de corridas e globaliza cada vez mais a categoria. Um exemplo disso é a substituição de etapas europeias por corridas em outros continentes. O campeonato, hoje, passa de 20 GP’s por temporada, com corridas em 21 países.
Nos bastidores, Bernie Ecclestone deixou a Fórmula 1 em 2017 após a venda da categoria para a empresa Liberty Media. “O fim da era Bernie teve muita queda de audiência. Depois da temporada de 2008, começou a decair por causa da transição da Fórmula 1 para a TV fechada. Nos anos finais, ele fez declarações dizendo que não queria atrair o público jovem, mas sim as pessoas com mais de 50 anos. Com isso, ele afugentou um público muito importante”, comenta Guilherme.
A recuperação da popularidade veio com a Liberty Media, que comprou a Fórmula 1 por cerca de US$8,5 bilhões. A companhia fez grandes investimentos em marketing, recuperou o público jovem, modernizou seu sistema de promoção e garantiu a produção de Dirigir Para Viver (Drive to Survive, 2019) – um documentário com novas temporadas a cada ano que mostra bastidores da Fórmula 1. A criação da série em parceria com a Netflix foi muito importante para atrair novos públicos à categoria.
Além disso, a empresa não se limitou a apenas interferir na divulgação da marca e também fez alterações estruturais. Uma dessas mudanças foi a instituição de um teto de gastos das equipes, para que o campeonato de construtores ficasse mais competitivo, uma vez que as grandes escuderias têm mais recursos para investir na tecnologia dos seus carros.
Outra mudança foi a criação das Sprints Races – corridas de curta duração que também contabilizam pontos no campeonato e acontecem aos sábados. Essas provas começaram a integrar algumas etapas em 2021, e a inovação atraiu maiores audiências ao colocar ainda mais ação nas pistas nos fins de semana de Fórmula 1.
O verde e o amarelo nas pistas
Em 2025, o Brasil passou a ter um novo representante no grid após a saída de Felipe Massa, ao fim da temporada de 2017. Gabriel Bortoleto, de apenas 20 anos, assinou um contrato com a Sauber após seu desempenho fenomenal nas categorias de base. Em entrevista ao Arquibancada, o profissional do automobilismo Ricardo Landi conta que esse é um ano de expectativas controladas em relação ao desempenho de Bortoleto, principalmente por conta das limitações do carro produzido por sua equipe. “Não é um carro com o qual ele vai conseguir disputar vitórias, mas é um ano de aprendizado”, afirma.
Bortoletto é o 33º piloto brasileiro a competir na Fórmula 1 [Reprodução/Youtube/Esporte na Band]
A euforia que atinge o país com a presença de Bortoleto no esporte é mais um capítulo de uma longa história: a participação do Brasil na Fórmula 1 começou com Chico Landi, que teve a oportunidade de pilotar em algumas provas esporádicas entre 1951 e 1956. Chico se tornou o primeiro brasileiro a pontuar na competição quando assumiu o volante de uma Maserati no GP da Argentina, em 1956. Ricardo, sobrinho-neto de Landi, conta que o piloto “Teve até uma equipe, chamada Equipe Bandeirantes”.
Chico também venceu o Grande Prêmio de Bari em 1948, na Itália. Essa foi a primeira ocasião em que um carro produzido por Enzo Ferrari ganhou na categoria [Reprodução/Youtube/Ricardo Landi]
Além de seu pioneirismo nas pistas, a geração de automobilistas que contou com Chico Landi também foi responsável pela construção do Autódromo de Interlagos, sede do único Grande Prêmio de Fórmula 1 que ocorre hoje no país. Segundo Ricardo, a necessidade da criação do autódromo surgiu em 1936: até esse ano, as corridas que eram realizadas na cidade de São Paulo aconteciam nas ruas, com o público ao redor.
Porém, durante a realização do Grand Prix de São Paulo naquele ano – que ocorreu na região do Jardins -, a pilota francesa Hellé Nice perdeu o controle de seu carro durante uma disputa de posição com o brasileiro Manuel de Teffé, e acabou atropelando algumas pessoas presentes. O acidente causou cinco mortes e deixou mais de 30 feridos, e inaugurou uma nova etapa no automobilismo brasileiro.
A pista do Autódromo de Interlagos foi construída inicialmente com quase oito quilômetros de extensão, mas sofreu uma redução para 4,309 quilômetros após uma reforma em 1990 [Imagem: Reprodução/Wikimedia Commons]
Interlagos passou a sediar corridas oficiais de Fórmula 1 em 1973, quando o bom desempenho de Emerson Fittipaldi nas corridas aumentou a popularidade da competição no país. Fittipaldi iniciou sua carreira na Fórmula 1 em 1970, pilotando pela Lotus, e assumiu o assento principal após o acidente que causou a morte de seu companheiro de equipe, Jochen Rindt. O piloto se tornou o primeiro brasileiro a vencer um GP na modalidade, no mesmo ano de sua estreia. Já em 1972, Emerson se sagrou campeão mundial no torneio após uma temporada sensacional, e ainda repetiu o feito em 1974, desta vez pilotando pela McLaren.
A partir de 1976, Emerson assumiu um assento na Copersucar Fittipaldi, equipe que surgiu da parceria com seu irmão Wilson e a Copersucar – empresa brasileira do ramo de açúcar e etanol. A primeira – e única – equipe 100% brasileira da história da Fórmula 1 pontuou pela primeira vez ainda em 1976 e conquistou o seu primeiro pódio em 1978 (após o fim da parceria com a Copersucar). Outras empresas assumiram o patrocínio da equipe nos anos seguintes, mas isso não foi o suficiente para impedir que ela encerrasse suas atividades algum tempo depois, em 1982, devido a problemas financeiros. Naquele mesmo ano, Emerson competiu pela última vez na Fórmula 1.
A trajetória de Fittipaldi abriu caminho para que outros brasileiros se destacassem na competição. É o caso de Nelson Piquet, que entrou no grid em 1978 com passagens por algumas equipes. No ano seguinte, Piquet atingiu uma maior estabilidade ao assumir um assento na Brabham. Famoso por seu excelente conhecimento técnico e temperamento polêmico, tornou-se o primeiro piloto do país a alcançar o tricampeonato – foi campeão mundial pela Brabham em 1981 e 1983, e pela Williams em 1987.
Mas foi com Ayrton Senna que o automobilismo alcançou a era de ouro no Brasil. “Foi um caso ultra especial. De 1984 até 1994, ele sempre esteve entre os primeiros, ganhando provas, campeonatos e disputando. E era um cara que tinha muito carisma, então o povo brasileiro via ele como ele se espelhava: um herói”, afirma Ricardo Landi. Embora complemente dizendo que Nelson Piquet também foi um grande vencedor no esporte, Ricardo diz que a maior abertura que Senna teve com a mídia contribuiu para que ele se tornasse o grande ídolo nacional.
Ayrton Senna foi apelidado de “Rei da Chuva”, por conta de sua incrível habilidade de correr em pistas molhadas [Imagem: Reprodução/Wikimedia Commons]
Senna estreou na Fórmula 1 em 1984, quando assinou com a Toleman. No ano seguinte, porém, quebrou o contrato e correu uma temporada com a Lotus. Apesar de sempre ter se mantido em destaque, foi a partir de 1988 que atingiu o ponto alto de sua carreira: no mesmo ano em que passou a pilotar pela McLaren, Ayrton venceu o seu primeiro título mundial. Como um bom visionário nas pistas, repetiu o feito em 1990 e 1991, tornando-se tricampeão. O brasileiro ainda parecia ter uma longa trajetória pela frente, até que o trágico fim de semana em Ímola mudou a história.
A segurança e o esporte
O GP de Ímola, realizado em maio de 1994, foi um marco na história da Fórmula 1. Em um único fim de semana, três acidentes aconteceram na pista, e dois deles foram fatais. Entre as vítimas, estava o tricampeão Ayrton Senna. A comoção causada pela série de acidentes que levou à morte do grande ídolo brasileiro foi enorme, e atingiu o mundo todo.
“Depois disso, a Fórmula 1 teve uma guinada na parte de segurança, tanto dos carros quanto das pistas, e foi evoluindo. Os carros estão cada vez mais seguros, mas também estão cada vez mais rápidos, então nunca podem parar de evoluir. Além disso, as pistas também têm sempre que se adequar à velocidade dos carros”, afirma Landi.
Após o fatídico fim de semana, a implementação de dispositivos de segurança diminuiu drasticamente a ocorrência de acidentes fatais no esporte. Desde então, apenas um acontecimento durante as corridas teve um resultado trágico: em 2015, o piloto francês Jules Bianchi saiu da pista durante o Grande Prêmio do Japão, e colidiu com um trator – que estava retirando outro carro acidentado. Bianchi sofreu ferimentos graves que o levaram a óbito após meses em coma.
A última grande modificação de segurança foi a criação do halo, um sistema de proteção em forma de arco que fica posicionado à frente do piloto no cockpit, a fim de proteger sua cabeça. A estrutura foi responsável por salvar muitas vidas desde a sua implementação, em 2018. Um dos maiores exemplos é o acidente que marcou o GP de Bahrein, em 2020: durante a primeira volta, a Hass de Romain Grosjean bateu violentamente e se partiu ao meio, pouco antes de pegar fogo. O piloto ficou preso em meio às chamas por 29 segundos, mas conseguiu sair do que restou do carro com consciência e sem ferimentos graves.
O halo – estrutura destacada em preto – é feito de uma liga de titânio, altamente resistente [Imagem: Reprodução/Wikimedia Commons]
O que esperar do futuro?
75 anos já se passaram e a Fórmula 1 se aproxima do seu centenário. O que se pode esperar até lá? De acordo com as ações e comunicados da categoria, a previsão é de avanços em sustentabilidade.
“É visível que a Fórmula 1 está caminhando para se tornar mais sustentável, estamos vendo uma mudança interna. Eles têm um objetivo de até 2030 neutralizar todas as emissões de carbono da categoria e já começaram a fazer algumas manobras nesse sentido”
Guilherme Longo
De fato, não só a Fórmula 1 como todo o automobilismo caminha em prol das reduções de gases poluentes. Os autódromos tem servido como grandes laboratórios para a indústria automobilística há anos, e dentro do atual contexto, em que o mundo busca reverter a crise climática, isso não poderia ser diferente.
Pensando nisso, a Fórmula 1, está desenvolvendo um combustível sintético 100% sustentável para seus carros. Além disso, a principal categoria das corridas também já reestruturou o seu calendário das etapas para tornar sua logística mais eficiente, evitando trajetos desnecessários e assim reduzindo emissões.
“A Fórmula 1 está assumindo um papel de liderança e pioneirismo para o bem da sociedade. Sustentabilidade é um dos fatores mais importantes para nós, não apenas como esporte, mas como um negócio. Não é mais suficiente para nós simplesmente entregar grande ação e corrida roda a roda na pista, precisamos garantir que estamos fazendo isso de forma sustentável”
Stefano Domenicali, CEO da Formula 1, em comunicado oficial.
Além disso, a Fórmula 1 mudará seu regulamento em 2026. Alguns pontos das novas regras ainda estão em revisão, mas é certo que os carros serão mais potentes, menores, mais leves e terão alterações nos motores e na aerodinâmica. Também haverá mudanças nas equipes: a famosa fabricante Audi assumirá a Sauber, pela qual corre o piloto brasileiro Gabriel Bortoleto, e a Cadillac será a mais nova escuderia do grid.
Para Guilherme Longo, pode-se projetar um ano de incerteza no quesito esportivo: “2026 é uma incógnita muito grande, se o regulamento não for bom, o carro não vai ser bom. (…) O regulamento vai ter que ser revisto, só que não dá pra fazer isso antes de realmente colocar o carro na pista e ver o desempenho dele”
Modelo de carro que será utilizado nas corridas em 2026. [Imagem: Divulgação/ FIA]