“É uma verdade universalmente reconhecida que um homem solteiro, de posse de boa fortuna, deve estar atrás de uma esposa”. Talvez você conheça isso de algum lugar. Essa é a famosa frase de abertura de “Orgulho e Preconceito”, obra da inglesa Jane Austen que se tornou um clássico da literatura. Escrito antes de a autora completar 21 anos, o livro completa 200 anos neste dia 28 e, ainda hoje, é um dos preferidos pelos leitores e pela crítica.
No entanto, o sucesso da história de Elizabeth Bennet e Fitzwilliam Darcy não ficou restrito às páginas do livro. Diversas adaptações já foram feitas para teatro, televisão e cinema. Entre as mais famosas, encontram-se a minissérie da BBC de 1995 e o filme de Joe Wright, lançado dez anos depois.
Orgulho e Preconceito se passa na Inglaterra do século XVIII e gira em torno, mais do que de uma heroína improvável, de uma sociedade em que as possibilidades de ascensão social eram poucas para uma mulher sem um bom dote. É o caso das cinco filhas do Sr. e da Sra. Bennet. Entre elas, Elizabeth, de 20 anos, se destaca como uma mulher à frente de seu tempo, que tenta escapar dos estereótipos femininos impostos pela época. Quando o Sr. Bingley, um jovem rico, se muda para uma propriedade vizinha à dos Bennet, a mãe de Lizzie vê uma oportunidade de realizar seu maior sonho: casar suas filhas. Junto com Bingley vem o Sr. Darcy, um solteiro bonito e esnobe, ainda mais rico do que o amigo. Enquanto Jane, a filha mais velha, se envolve com Bingley, Lizzie e Darcy, ambos tão orgulhosos quanto cheios de preconceitos, têm cada vez mais divergências em seus encontros constantes.
A minissérie da BBC contou com nomes como Jennifer Ehle e Colin Firfh para os papéis principais. Dividida em seis capítulos, a versão rendeu à Jennifer o prêmio de Melhor Atriz do BAFTA Television Award, além de outras indicações, como Melhor Seriado de Drama, por exemplo. Já o Orgulho e Preconceito (Pride and Prejudice, 2005) do diretor Joe Wright, contou com Keira Knighley e Matthew Macfadyen na protagonização, e quatro indicações ao Oscar – Melhor Atriz, Melhor Figurino, Melhor Trilha Sonora e Melhor Direção de Arte.
Diante disso, inúmeras comparações entre as versões foram feitas. A principal gira em torno da atuação de Colin Firth e Matthew MacFadyen. Sites, blogs e pessoas tentam definir quem foi o melhor Sr. Darcy. Enquanto Firth é considerado um Darcy sério, Macfadyen é triste e amuado.
Mas Orgulho e Preconceito não foi o único romance de Jane Austen adaptado ao mundo audiovisual. Razão e Sensibilidade, Emma e Persuasão, também se tornaram e influenciaram filmes, séries e peças teatrais.
Em Razão e Sensibilidade (Sense and Sensibility, 1995), a viúva e as irmãs Dashwood vivem um período difícil após a morte de seu pai: sua herança passou quase toda para o filho do primeiro casamento e este ignora a promessa de cuidar das meias-irmãs. A família, então, tem que se adaptar a uma nova realidade, dividida entre a praticidade de Elinor (Emma Thompson), a filha mais velha, e a emotividade de Marianne (Kate Winslet), que se recusa a disfarçar os sentimentos. Como nas outras histórias de Jane Austen, não faltam críticas à sociedade obcecada por riqueza e status social, assim como a busca das protagonistas por um final feliz. Razão e Sensibilidade ganhou o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado em 1996 e concorreu a outras seis categorias.
Emma é o nome de outro livro e de outra protagonista. Jane Austen a descreve como “bonita, inteligente, e rica” logo na introdução, demonstrando que, ao contrário de todos os seus outros romances, a heroína em questão goza de riqueza e posição social. Emma Woodhouse foi interpretada no cinema por Gwyneth Paltrow, em 1996, e na televisão por Romola Garai, em 2009. Sua história começa quando presencia o casamento de sua governanta com um vizinho, e ela acredita que o enlace tenha sido feito graças às suas influências e interferências. Diante disso, proclamando-se casamenteira, Emma passa a tentar casar outras pessoas da vila de Highbury, esquecendo-se de sua própria vida e sentimentos.
Além da adaptação do próprio livro de Austen, outro filme foi influenciado pela história de Emma Woodhouse: As patricinhas de Beverly Hills (Clueless, 1995)
Já Persuasão conta a vida de Anne Elliot, filha de família aristocrática decadente e orgulhosa. Embora Anne seja diferente do resto de sua família, sendo humilde e de bom coração, alguns anos antes da história, ela foi persuadida por uma grande amiga a recusar o amor de sua vida, por causa de sua diferença social. Agora, seu Capitão Frederick Wentworth retornou, fez fortuna na marinha, e ela se vê torturada pela escolha que fez oito anos antes.
Existem dois filmes feitos para televisão: em 1995, estrelando Amanda Root como Anne Elliot e Ciarán Hinds como Frederick Wentworth; e em 2007, com Sally Hawkins e Rupert Penry-Jones como protagonistas. Sendo que o primeiro é mais consideravelmente fiel ao livro.
Não foram só os livros de Jane Austen que fizeram sucesso com as versões cinematográficas: a própria vida dela foi transformada em filme pelo diretor Julian Jarrold. Amor e Inocência (Becoming Jane, 2007) retrata Austen aos 20 anos, em 1795. Jane (Anne Hathaway) é uma jovem com espírito independente, que se recusa a ceder à pressão dos pais para que se case com um homem rico que ela não ama, mas que asseguraria seu futuro e seu status social. Nesse meio-tempo, ela conhece Tom Lefroy (James McAvoy), um advogado que fora obrigado pelo tio a passar um tempo com os parentes no interior, e os dois vivem um romance não aprovado pelos familiares. Esse affair teria motivado a criação de “Orgulho e Preconceito”. Durante o filme, há passagens que mostram Jane escrevendo a obra.
É certo que Austen e Lefroy se conheceram no ano de 1796, quando ele passava férias na casa de um parente, assim como no filme. A existência de um romance entre eles, no entanto, nunca foi confirmada. Apesar da dúvida, o brilho do filme não é apagado: sendo totalmente verdadeiro ou não, o enredo de Amor e Inocência mostra uma Jane Austen esperta e vivaz, tão crítica e irônica quanto seus próprios romances e vivendo uma história de amor digna dos livros que fizeram dela uma imortal da literatura.
Por Jeanine Carpani
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Por Marina Castro
marina.castror@gmail.com