Felipe Maia
Antes de o LHC (Large Hadron Collidron) acabar com o mundo numa supernova ou num buraco negro, você tem a oportunidade única de vê-lo em ação nos primeiros cinco minutos de Anjos e Demônios (Ron Howard, 2009). A viagem pelo circuito quilométrico do acelerador de partículas é a seqüência que melhor sintetiza o filme: veloz e tortuoso, embora não seja chocante — tal qual as colisões sub-atômicas em que se digladiam e surgem prótons, elétrons, bósons, glúons e outras palavras com eco.
De certa maneira, é leviandade dizer que o LHC irá acabar com o mundo. Especialistas como Stephen Hawking defendem a segurança do brinquedo e é mais fácil acreditar nas gripes da fazenda, como a aviária e a suína, como carrascas da humanidade. Outro fim possível seria imaginar as proporções da destruição do centro de toda a cristandade do planeta: o Vaticano. Este é o trampolim para a caça ao tesouro (ou à bomba) encabeçada, assim como em Código da Vinci, pelo simbologista de Harvard Robert Langdon — um intelectual que daria inveja a Sherlock Holmes, tamanho poder dedutivo.
Inegável é, igualmente, dizer que não há leviandade no modo como Dan Brow trata de signos e histórias. Verdade e ficção estão, novamente, imersas numa mistureba, dessa vez, quântica. Mas essa sopa perde lugar para um roteiro habilmente concatenado e encadeado, que chama a atenção muito mais do que críticas sobre o que é realidade e mentira. Trazer o foco para a história também é mérito dos atores principais Tom Hanks e Ewan McGregor, que vão, aos poucos, dando traços de quem são suas personagens.
Partícula por partícula o filme vai sendo desvendado. O caminho é labiríntico e empolga porque chama o espectador a desvendar pistas e dicas. Howard e Brown jogam a dúvida para o espectador quando Langdon e sua parceira, Vittoria Vetra (Ayelet Zurer), se indagam sobre onde ir ou quem confiar. Tudo acontece muito rápido e não há tempo para respostas, mas vale brincar de detetive. Brown tem referências que vão de Simbologia a Astrofísica. Mais ou menos jogadas, as mais contundentes são de Conan Doyle e Agatha Christie: Anjos e Demônios é uma trama bem enredada e confusa. Só supera as aventuras de Holmes ou Poirot pelas fantásticas locações do Vaticano e pelos efeitos especiais muito bem utilizados.