Graziela Cupertino
Três jovens americanos com poderes especiais procuram uma mala em Hong Kong. O que tem dentro dela? Eles também não sabem. Tudo o que sabem é que nela está o que os salvará da Divisão, instituição governamental que, nos moldes nazistas, faz experiências com mutantes com o objetivo de criar um exército invencível.
Como se procurar uma mala em uma cidade com mais de 6 milhões de habitantes já não fosse tarefa suficientemente árdua, os “heróis” ainda precisam enfrentar a concorrência de um grupo de orientais mutantes que também está atrás do objeto. E, além disso, ainda há o constante perigo da Divisão.
Pode parecer uma missão impossível, mas quem acha isso é porque não conhece Cassie (Dakota Fanning), Kira (Camilla Belle) e Nick (Chris Evans), os três jovens americanos. Utilizando os seus poderes e a ajuda de seus amigos, eles movem céus e terras para conseguir a posse da tão querida mala.
Um filme eletrizante, certo? Errado. São tantas as falhas durante o filme que você acaba se esquecendo da ação e dá espaço exclusivamente à comédia. É, comédia! Impossível não rir de desgosto em algumas cenas de Heróis (Push).
Deparamo-nos com um roteiro cheio de buracos, que faz a história ficar bem confusa e sem sentido. Alguns personagens simplesmente desaparecem no decorrer da história. Chega a dar uma sensação de esquizofrenia. “Será que esse personagem realmente existiu ou foi só uma imaginação?”. Exemplo-mor disso é a mãe de Cassie, que está sob poder da Divisão e que, desde o início, é alvo de atenção e preocupação da filha, mas que, no final do filme, é simplesmente esquecida. Ela foi salva? Ela morreu? Questões que só o roteirista de “Heróis” poderá responder.
E, ainda se tratando de Cassie, o diretor nos presenteia com uma cena, digamos, desnecessária. A menina, interpretada por Dakota Fanning, chega bêbada ao hotel em que está hospedada com os outros dois jovens. “O que tem de mais?”, talvez pergunte você leitor. “Nada”, eu responderia se não se tratasse de uma garota de 12 anos. Essa cena de Cassie demonstra a clara banalização da infância, que está sentada de pernas abertas no sofá de um quarto de hotel chinfrim como se fosse uma prostituta. Com toda a certeza, era uma cena que poderíamos passar sem.
Talvez o que salve, pelo menos parcialmente, o filme Heróis seja a técnica: com um orçamento de alguns milhões de dólares, a equipe conseguiu cenas bem filmadas e uma trilha sonora interessante. E, claro, ainda tem a presença (pequena, mais ainda assim presença) do ator Djimon Hounsou, que, interpretando o malvado Henry Carver, agente da Divisão, consegue nos fazer simpatizar com o filme por alguns minutos.
Mas o que falta em Heróis não é uma boa fotografia, uma boa montagem ou uma boa interpretação. Falta, de verdade, heroísmo. Quando se assiste a um filme com esse nome (uma tradução infeliz do original Push), espera-se encontrar pessoas sofrendo para salvar a humanidade, o mundo da destruição ou qualquer outra coisa com um pingo de altruísmo. Mas, aqui em Heróis, a preocupação é com a própria vida de cada um dos envolvidos. Seria essa a tarefa dos nossos novos heróis: sobreviver?
Resumindo: aproveite as primeiras bem construídas cenas do filme. Elas infelizmente não se repetirão.