Uma rua deserta e escura. Um homem gritando por socorro. Riley Biers andava pela noite de uma chuvosa Seattle quando foi atacado – acuado em direção às docas, Riley não entendeu de onde vinha o golpe (apenas um vulto, alguém que se movimentava muito rapidamente), até que já era tarde. É com sangue e gritos de agonia que começa Eclipse, terceira parte da Saga Crepúsculo. A surpresa é grande – ainda que o filme anterior, Lua Nova, tenha inaugurado uma fase mais sombria para a história, o foco era a difícil relação entre Bella e seus pares sobrenaturais, Edward e Jacob. Fiquem tranqüilos – os atritos desse triângulo amoroso inusitado persistem, e a tensão, sexual inclusive, nunca esteve tão em alta. Mas ela vem acrescida de um bocado de ação.
Dirigido por David Slade, o mesmo de MeninaMá.com e 30 dias de Noite, Eclipse aposta em uma narrativa mais dinâmica para fisgar a platéia. Acostumado a longos momentos de tensão, próprios do perturbador MeninaMá, Slade abusa de closes e de muita câmera na mão – a imagem oscilando casa perfeitamente com os momentos de grande expectativa. Mas nada disso resolve o problema fundamental do enredo : a sensação de que, após mais de duas horas de filme, não fomos a lugar nenhum.
A história começa exatamente no ponto em que a anterior parou – o fatídico pedido de casamento. É essa a condição imposta por Edward para transfornar Bella em vampira. Mas bodas não estão nos planos da moça. Paralelamente, Victoria (sempre ela) retorna para matar Bella e vingar a morte de seu companheiro. Mas os Cullen parecem prestes a enfrentar problema ainda maior – Riley não foi o único a ser atacado. Seattle torna-se foco de uma série de acontecimentos macabros, e desaparecimentos sem explicação. Aparentemente, alguém está criando um exército de vampiros recém transformados, que se prepara para atacar Forks. Para fazer frente à ameaça, apesar da inimizade, vampiros e lobos tem de se unir.
Uma coisa é certa – filme mais caro até então (R$65 mi contra os R$37 mi de Crepúsculo) Eclipse é também o melhor da série. Mais divertido e emocionante que os anteriores, tem o trunfo de permitir que outros personagens, meio apagados até aqui, cresçam na trama. É assim que conhecemos as vidas de Jasper, um dos “irmãos” de Edward e oficial do exército confederado durante a guerra civil; ou Rosalie, cuja triste história esconde também uma vingança sangrenta. Isso associado a uma presença maior dos Quileute, a tribo de Jacob, a às rápidas aparições dos sinistros Volturi (e, por conseqüência, de Dakota Fanning, ótima como sempre), colaboram para arejar a história, viciada nos mesmos personagens.
Mas a preocupação central permanece a mesma: quem Bella ama – Edward ou Jacob? É possível que ela esteja apaixonada pelos dois? E é orientado por essas questões, as mesmas presentes em Lua Nova, que o filme segue do princípio ao fim. Por isso a sensação de “fomos mesmo a algum lugar?”, permanece. Os fãs cativos provavelmente não se incomodarão – foi essa a fórmula que tornou a série sucesso de bilheteria. Resta saber se as cenas de ação serão suficientes para atrair ainda mais espectadores. E torcer para que os dois últimos capítulos (sim, Amanhecer será dividido em duas partes) ensaiem alguns passinhos a diante numa trama que, tal qual um vampiro, parece estagnada.
Por Rafael Ciscati