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“Anos Felizes” e a questão do que é essencial em um relacionamento

Por Breno Leoni Ebeling brenolebel@gmail.com “Seguramente eram anos felizes, pena que nenhum de nós percebeu.” Este pensamento encerra o Filme “Anos Felizes” (Ani Felici, 2013) de Daniele Luchetti, que estreia esta semana no Brasil. Meu primeiro questionamento enquanto via o filme foi sobre onde estaria a felicidade: à primeira vista há apenas discussões, brigas e desavenças …

“Anos Felizes” e a questão do que é essencial em um relacionamento Leia mais »

Por Breno Leoni Ebeling
brenolebel@gmail.com

“Seguramente eram anos felizes, pena que nenhum de nós percebeu.” Este pensamento encerra o Filme “Anos Felizes” (Ani Felici, 2013) de Daniele Luchetti, que estreia esta semana no Brasil. Meu primeiro questionamento enquanto via o filme foi sobre onde estaria a felicidade: à primeira vista há apenas discussões, brigas e desavenças entre as personagens principais.

O filme retrata a vida de uma família dos anos 70, Guido (Kim Rossi Stuart), um artista medíocre em busca de reconhecimento, casado com Serena (Micaela Ramazzotti), que de serena não tem nada. Ela carece de individualidade, uma vez que sua vida e pensamentos giram ao redor de Guido. Dario (Samuel Garofalo) e Paolo (Niccolò Calvagna), são os filhos do casal, ambos despercebidos constantemente pelos pais.

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Guido, interpretado por Kim Rossi Stuart

A história começa na voz de Dario adulto realizando digressões sobre a família, com uma cena do verão de 1974 em um cais. Entendemos logo em seguida que a família está alicerçada nas mentiras de Guido e na obsessividade de Serena. Apesar de se considerar vanguardista, ele é infeliz, porque sua arte se resume em moldar corpos nus de modelos (com as quais mantém relações sexuais) e os transformar em abajours. A esposa intui as traições do marido, e entra em loopings obsessivos e crises de ciúmes.

Guido consegue uma oportunidade de performar em Milão, mas prefere que Serena não o acompanhe: ele está plenamente ciente da possibilidade de agravamento das discussões, uma vez que ela dificilmente compreenderia a nudez em sua arte.  Desconfiada, ela decide aparecer e acaba interferindo na performance do marido.

A crítica entenderá a participação de Serena como algo medíocre e imoral, porém é recebida com aplausos calorosos pela platéia. Essa cena não só é um ponto de virada da vida do casal, como também representa a introdução a uma mudança do roteiro do filme. A forma como ela é construída, com um close surrealista em sua face e diminuição da velocidade, faz com que a esposa cative a audiência do filme. É neste ponto que ela inicia o processo de mudança entre ser a esposa paranóica e se tornar a senhora de seu próprio destino.

Em termos gerais, o início do filme retrata a vida familiar. Em seguida, Serena e seu processo de crescimento interno ganham luz. Seu processo de emancipação emocional e como mulher ganham um olhar apurado, captando o espírito feminista da época. O foco do enredo passa assim, após a metamorfose de sua esposa, a Guido, que enfrenta suas próprias crises internas. Ele se vê preso ao antigo paradigma familiar, porque mesmo se considerando um artista de vanguarda, não conseguiu deixar de enxergar sua esposa como objeto.

A quem agrada o gênero drama, não há novidades em termos estruturais: é uma história de amor com enfoque nos problemas da vida real. A diferença com relação a outras obras do gênero está na forma como isso é retratado. Quase é possível sentir a profundidade emocional de cada uma das personagens com as alternâncias entre brigas explosivas e momentos de depressão e silêncio. “Tanto eu quanto minha mãe perdemos a inocência, ou talvez a conquistamos” divaga Dario pouco antes do retorno da viagem catalisadora das transformações de Serena.

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O contraponto entre como homens e mulheres lidam com sexualidade, sexo e traição é tratado de forma sutil, mas é impossível deixar de comparar com casos cotidianos. Os estereótipos abordados não caem no vazio, porque as personagens se transformam ao longo do filme. Como a vida, o filme é constituído de pequenas boas (e más) surpresas. Aos olhos mais modernos, as reviravoltas são de teor comportamental, mas com grandes chances de arrancar algumas lágrimas e risos nervosos. Sem grande alarde, o narrador confere um olhar frio e analítico a toda a intensidade emocional exposta no enredo.

A cena inicial do cais virá à tona no meio e final do filme. Daniele Luchetti usa-a como ferramenta de contra-ponto entre as óticas iniciais, mediais e finais da família. O efeito é interessante, porque através dela fica claro para o expectador as transformações que o casal e Dario vão sofrendo ao longo do filme. É sem dúvida uma obra tocante.

 

Para ver o trailer

 

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