por Bianca Kirklewski
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Você chega à sala de cinema. Encontra sua poltrona. As luzes se apagam. O filme começa. De repente, você começa a imergir na história, de uma forma tão intensa que logo passa a sentir o vento forte da cena, os movimentos dos personagens e até mesmo os cheiros que eles estão sentindo. “O que será que colocaram na minha pipoca?”, pensa. Provavelmente, só sal e manteiga. O que você está vivenciando não passa da nova tecnologia cinematográfica que está chegando às salas de cinema do mundo inteiro. Conheça a experiência 4D.
Um dos primeiros exemplos de experiências multissensoriais imersivas foi desenvolvido nos Estados Unidos, durante a década de 50. Morton Heilig, entusiasta pelo estudo da realidade virtual, viu no cinema a possibilidade de abranger todos os sentidos através da interação entre o público e as atividades apresentadas pela ela durante a exibição de um filme. Nomeado “Sensorama”, o aparato mecânico desenvolvido por Heilig era capaz de fornecer inclinações do corpo, sons estéreos, ventos e aromas durante a projeção de cinco curtas, permitindo a total imersão do telespectador sobre o que estava sendo apresentado.
The Sensorium (1984), é reconhecido historicamente como o primeiro filme comercial em 4D do mundo. Lançado exclusivamente num parque temático em Baltimore (EUA), a produção exibia passatempos norte-americanos na virada do século XX e contava com poltronas que se moviam, barulhos e cheiros sincronizados. Após algumas semanas de exibição, carpetes, cortinas e paredes da sala passaram a cheirar aos odores fornecidos pelo longa, causando certo desconforto aos visitantes que chegavam.
O Brasil foi o primeiro país na América do Sul a ter salas de cinema 4D. Mas apesar de crescente, o número de ambientes com adaptações necessárias para a experiência ainda é muito limitado. Parte da culpa se deve ao custo das instalações: para a construção de uma sala tecnológica, desembolsa-se o valor equivalente à construção de seis tradicionais, segundo Eduardo Acunã, presidente da Cinépolis Brasil. Além disso, é necessário que haja um compartimento de apoio para cada sala especial, onde ficam armazenados os tanques de ar, água e compressores. Soma-se ainda o tempo necessário para sincronizar o filme com os efeitos 4D: cerca de um mês. O resultado é um ingresso mais caro, que chega a custar 73 reais.
As características das salas 4D no país variam, mas o artefato principal que garante os efeitos são as poltronas. Em algumas salas, as cadeiras se movimentam conforme o que está acontecendo no filme, porém não há o uso de outros artifícios como fumaça ou aromas. Pode-se também controlar a intensidade dos movimentos, com o uso de um controle remoto. A experiência tem um preço “mais acessível”, custando até 48 reais.
Os filmes exibidos são sempre blockbusters, que têm por essência muitas cenas que possibilitam o efeito físico, como explosões. A inovação, no entanto, não agrada a todos. Muitos reclamam que o longa se torna cansativo com tantos efeitos, além de gerar alguma ansiedade, pois o espectador nunca sabe o que irá acontecer em seguida. Apesar disso, o futuro do cinema 4D parece promissor: grandes eventos dedicados ao segmento têm mostrado ao mundo cada vez mais inovações para uma experiência de imersão total, e a nova meta da indústria é explorar simulações climáticas como ar quente, neve e tempestade. Será que no futuro teremos que nos preocupar em levar guarda-chuvas nas sessões para não molhar a pipoca?