por Fernando Magarian de Freitas
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O longa animado Caminhando com Dinossauros (Walking with Dinosaurs, 2013), que estreia no Brasil em 17 de Janeiro, narra a aventura do espirituoso Patch, um filhote de dinossauro – o menor de sua ninhada. Com seu amigo Alex, um pássaro pré-histórico, ele conhece as dificuldades da vida selvagem: migrações, fome, predadores, disputas violentas pelas fêmeas da manada.
Os acontecimentos do filme são bastante verossímeis, bem como o comportamento dos animais de modo geral; Patch vê, ao lado de seu irmão muito maior e mais forte, seu pai e líder da manada morrer em um confronto com um predador, após um incêndio. Predadores e presas se trucidam em nome da sobrevivência e dinossauros da mesma manada se enfrentam violentamente por instintos selvagens: o próprio protagonista, já crescido, confronta seu poderoso irmão pela fêmea Juniper, e sai quase morto da briga. Juniper, como manda a lei da natureza, abandona Patch para morrer e vai embora com o vencedor.
Tudo isso para dizer que o filme carrega muito pouco do moralismo que impregna as animações infantis nos moldes consolidados pelos estúdios Disney. É claro que as cenas de violência não são oferecidas ao público infantil cruas. Mas, em vez de tentar encaixar os hábitos animalescos em uma moral humana, a trama se limita a explicar alguns acontecimentos que possam não ser entendidos pelas crianças e inserir diálogos toscos aqui e ali, a fim manter o interesse delas, mas guardando um distanciamento entre o comportamento selvagem e o comportamento humano. O filme é, portanto, mais científico que literário.
Dirigido por Barry Cook (que também dirigiu Mulan) e produzido com apoio da BBC, a animação foi baseada em um documentário de enorme sucesso da produtora britânica, homônimo do filme e lançado em 1999, que mostrava a vida selvagem em uma terra dominada pelos répteis colossais, com imagens computadorizadas e extremamente inovadoras para a época.
De fato, o filme lembra muito mais os documentários científicos da BBC do que as animações infantis da Pixar ou da Dreamworks. Sem uma trama muito complexa – não é esta a proposta – o filme tem um caráter educativo e é voltado para o infantil. Pode parecer extremamente monótono para qualquer adulto que não esteja especialmente interessado em saber que o Ornitholestes era na verdade um predador mais feroz que o midiático Tyranossauro Rex.
O que não significa dizer que o filme não tenha qualidades para além da fraca e previsível trama infantil. Ele tem uma base científica bastante forte e afora o enredo é praticamente um documentário sobre a vida selvagem em uma determinada era pré-histórica, com foco nos hábitos de uma espécie específica. E do ponto de vista visual é impecável: em (bom) 3D, as cenas montadas são realistas e belas. O efeito de profundidade é agradável e envolvente. E os animais com suas expressões e movimentos nem parecem criados em computador. O filme pode não ter um roteiro hollywoodiano, mas provavelmente vai agradar muito mais os verdadeiros amantes de dinossauros, adultos ou crianças, do que um fantasioso Jurassic Park.