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Casa do Dragão – uma briga de parentes por terreno, mas com dragões

Mesmo após o fracasso do final de Game of Thrones, a HBO retorna ao universo de George R.R. Martin, explorando todo seu fogo e sangue

Era o primeiro semestre de 2019. A última temporada da série mais assistida dos últimos anos estreava sem conseguir encerrar com a mesma qualidade do seu início, com um dos finais mais odiados pelos fãs da história da TV. Um medo se instaurou nos fãs com qualquer produto derivado de Game of Thrones.

3 anos depois daquele final, estreia Casa do Dragão, uma série que se passa séculos antes de Daenerys gritar seu primeiro dracarys e que pretende adaptar a guerra civil conhecida como Dança dos Dragões. Uma trama completamente nova que aborda a disputa entre a filha mais velha e o primeiro filho homem pelo trono de ferro, sempre com a seguinte pergunta na mente: é melhor uma mulher preparada e mais experiente, ou um homem novo e inexperiente comandando o reino? 

Mas, será que a série original de 2022 conseguiu superar o fantasma da decepção do final de GOT?

Uma casa dos tronos 

É preciso ter assistido Game of Thrones para poder entender e assistir Casa do Dragão? Não. Como a série se passa num período bem anterior a série original, você não precisa conhecer nada sobre aquele universo para entendê-la. Mas isso não significa que a nova série não deixa de fazer inúmeras referências à original, e aqui está um dos primeiros problemas que pode incomodar o espectador.

Referenciar GOT  através de easter egg, como citar uma família ou lugar importante para Game of Thrones que vão animar os fãs mais antigos não é errado, mas sim quando você força e determina as ações dos personagens apenas para lembrar da série mãe. E isso começa a ficar extremamente mal feito, e por vezes, amador ao final da temporada. Qualquer menção à chamada Canção de Gelo e Fogo, fica forçada e não faz sentido em Casa do Dragão.

Uma das primeiras referências à Game of Thrones é o crânio do dragão Balerion na Fortaleza Vermelha, que também foi mostrado na série original [Foto: Divulgação/HBO]

Outra forma de referência são cenas brutais e, muitas vezes traumatizantes — pelas quais Game of Thrones ficou famosa — como a morte de um personagem importante logo na primeira temporada. O incômodo ocorre quando essas cenas explícitas não apresentam nenhuma consequência para a série ou para seus personagens, e só estão ali para chocar. 

As “dragoas” dominam a guerra dos tronos

Muito mais que cenas crueis e mortes dos seus personagens favoritos, Game of Thrones também foi marcada por grande sexualização das personagens femininas, incluindo cenas de estupro como um recurso narrativo para fortalecer as personagens, e também chocar o público. Felizmente, Casa do Dragão decidiu não repetir o erro. Pelo contrário, a série conseguiu mostrar uma preocupação com a visão feminina e a importância dessas personagens para a trama. 

Para atingir o chamado female gaze (olhar feminino), a série teve quatro episódios dirigidos por mulheres em sua primeira temporada, curiosamente, a mesma quantidade de episódios dirigidos por mulheres em todas as oito Game of Thrones, e a presença de roteiristas na maior parte dos episódios. Afinal de contas, uma série que pretende discutir a questão do gênero feminino e como a sociedade machista prefere ter uma guerra civil a aceitar uma mulher no poder, precisa de mulheres por trás das câmeras para melhor contar essa história.

Graças a uma maior preocupação com o olhar feminino, o público é capaz de entender a motivação de ambas protagonistas. [Imagem: Divulgação/HBO]

A mudança em relação a série original é perceptível em ações pequenas, como a direção das cenas de sexo priorizando o direito e o querer feminino, até decisões mais importantes, como toda a discusão envolvendo maternidade e papel dos filhos. Lidar com essas questões de forma sensível é importante para que o desenvolvimento das duas protagonistas ocorra da maneira mais natural e crível possível, mostrando como as duas passaram de melhores amigas para inimigas.

O Fogo que consome os personagens

Mas nem só de female gaze vivem os pontos positivos da série. Como a primeira temporada busca mostrar o início da guerra de sucessão, era importante que eles construíssem uma constante tensão no público ao longo dos episódios. É justamente nesse êxito que mora todo o brilho da série. Através de diálogos muito bem escritos e de uma trilha sonora bem posicionada, Casa do Dragão foi capaz de mostrar como a família Targaryen estava prestes a matar uns aos outros por causa de poder.

O destaque para as relações e interações familiares entre os personagens é essencial para mostrar aos poucos o ódio e a sede por poder consumindo os personagens. A forma encontrada pelos criadores da série para mostrar essa tensão crescente são cenas comuns e entre parentes, como em um jantar familiar que, aos poucos, se transforma em uma briga — buscando mostrar ao público que uma simples cena pode, a qualquer momento, dar errado e acabar em morte.

Um dos destaques da primeira temporada de Casa do Dragão é a atuação de Paddy Considine, que consegue mostrar a decadência e calma do rei Viserys. [Imagem: Divulgação/HBO]

O episódio que mais se destaca nesse clima de tensão constante entre os personagens foi The Lord of the Tides, , que consegue trabalhar como os personagens estão a um passo para iniciar uma guerra civil — considerado o melhor da série pelo IMDB. Mas não foi somente o clima de tensão que garantiu o subtítulo de melhor da temporada ao episódio: ele também recebeu destaque pela atuação do Rei Viserys (Paddy Considine), que conseguiu equilibrar as tensões entre os lados opostos da família e tentou de todas as formas apaziguar a guerra entre seus herdeiros antes da sua morte. Infelizmente, mesmo com todas tentativas do rei de mostrar que eles poderiam se tornar uma família feliz e unida, a guerra dos tronos era inevitável.

O Sangue que consumiu os atores

Outro ponto positivo sobre a série são os seus personagens. Com um roteiro que consegue construir figuras complexas, a série conseguiu entregar alguns dos melhores do ano. Um dos exemplos mais interessantes para explicar essa complexidade é a figura de Daemon Targaryen (Matt Smith), uma pessoa que seria considerada um vilão em histórias mais maniqueístas por conta de seus crimes e assassinatos, mas que consegue ganhar a simpatia do público e se transformar quase em um “herói”.

Assim como em  Game of Thrones,  a presença de personagens bastante realistas se manteve em Casa do Dragão, apresentando personalidades  que não eram 100% heróis ou 100% vilões. Isso fica bastante evidente nas duas protagonistas da série: Rhaenyra Targaryen (Emma D’Arcy) é a heroína da história e acompanhamos sua luta para conquistar o trono, mesmo que isso signifique matar seus inimigos e cometer vários crimes; e Alicent Hightower (Olivia Cooke) a principal vilã por querer que seu filho assuma o trono de ferro no lugar de Rhaenyra, e justifica todas suas ações e crimes na proteção dos filhos. Então, quem é a mocinha e a vilã dessa história? Ou sequer existem esses arquétipos na trama?

Casa do Dragão continua a “tradição” de Game of Thrones de construir personagens complexos e com atitudes condenáveis, mas que são amados pelo público, como Daemon Targaryen. [Imagem: Divulgação/HBO]

As atuações de Emma D’Arcy e Olivia Cooke não merecem elogios e reconhecimentos somente por construírem personagens “cinzentas”, mas também pela habilidade de mostrar uma versão mais madura e responsável das personagens. Interpretadas em suas versões jovens por Milly Alcock e Emily Carey, as atrizes adultas conseguiram copiar alguns trejeitos e ações de suas versões mirins e elevá-los em personagens mais complexas e maduras. Isso faz com que a mudança de elenco principal na metade da temporada seja mais natural e aceita com maior facilidade.

Saltos temporais mais altos que voos de dragão

Prontos para o principal defeito da primeira temporada de Casa do Dragão? Os inúmeros saltos temporais. Quase todos os episódios possuem uma longa passagem de tempo entre o final de um e o começo do outro, sempre pulando informações e nunca dando tempo de desenvolver  situações e até mesmo personagens. Isso fica evidente na morte de determinados personagens, pois como os intérpretes são mudados  o tempo todo, o público não tem como se conectar ou sequer conhecer alguns deles, e suas mortes  tendem a não gerar impacto algum.

No entanto, como essa primeira temporada serve apenas como uma introdução para um evento muito maior e mais sangrento que está por vir, a chamada Dança dos Dragões, faz sentido a quantidade de saltos temporais. Afinal de contas, a série procura oferecer um resumo das décadas que antecedem o conflito, mostrando como e porquê ele se originou, quem serão as figuras essenciais para ele e instruindo o público a torcer aos poucos para seu lado favorito. Por isso, mesmo que não se veja cinco anos de história, isso tem uma justificativa: acelerar algumas informações e preparar o terreno para todas as mortes, fogo e sangue que virão nas próximas temporadas. 

Mesmo com tantos saltos temporais e tendo aparecido somente por cinco episódios, as atrizes jovens de Rhaenyra e Alicent merecem destaque por introduzirem características que seriam melhor trabalhadas por suas versões mais adultas. [Imagem: Divulgação/HBO]

Se Casa do Dragão manter a qualidade que foi apresentada  e trazer um final tão incrível e fidedigno quanto o começo, as chances dela superar a série-mãe e se tornar uma das melhores séries da atualidade são grandes. Enquanto a continuação  não chega, resta torcer para que ela siga os passos de Game of Thrones e repita o sucesso no próximo Emmy

Imagem de Capa: Divulgação/HBO

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