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Dia 01 | Festival Piauí de Jornalismo 2022: verdade, credibilidade e modernidade

A sétima edição do evento debateu a credibilidade do jornalismo em um mar de mentiras

O Festival Piauí de Jornalismo 2022 aconteceu nos dias 03 e 04 de dezembro na Cinemateca Brasileira. Neste ano, o evento completou 7 anos de existência e teve como temática: “Com a pulga atrás da orelha: notícias que parecem mentiras e mentiras que parecem notícias”. A credibilidade e a força do trabalho jornalístico foram debatidas com a presença de diferentes nomes do jornalismo internacional e com a mediação de grandes nomes do jornalismo brasileiro. Confira a cobertura feita pela Jornalismo Júnior das palestras feitas no primeiro dia de evento. 

O festival 

O primeiro dia do festival teve início às 9h da manhã com a abertura feita com um workshop gratuito sobre “Como pensar em uma estratégia multiformato para o seu canal”. As palestras tiveram início a partir das 10h e contavam com a duração de cerca de 1h30. 

Danielly Oliveira, estudante de jornalismo, comenta que este ano foi a primeira vez que esteve presente no evento e que pretende voltar para as próximas edições. “Um dos melhores pontos do festival foi poder conhecer jornalistas e profissionais que eu admiro. Além das palestras, o evento proporcionou um momento de conversa e de troca nos intervalos. Eu conversei com pessoas que eu admiro e elas foram super abertas, foi muito legal ver a disponibilidade deles e o tratamento de igual pra igual.”

Capas de edições anteriores da revista Piauí. [Imagem: Arquivo Pessoal/Júlia Galvão]

Danilo Queiroz, estudante de jornalismo, comenta que também pretende voltar para as próximas edições do evento. “Era muito bonito ver como eles se reconheciam quanto veículo, a Piauí estava presente em todos os espaços, isso dá um reconhecimento para todas as pessoas que estão por trás da revista, não só aos jornalistas em si”. Ele complementa: “Foi interessante ver uma perspectiva de jornalismo mais acessível durante as palestras, um jornalismo que atenda todos os públicos.”

O estudante revela também que, apesar da qualidade do evento, a ausência de representatividade no festival é evidente.  “Eu senti uma ausência de diversidade de corpos para apresentar as palestras, todas as pessoas que apresentaram eram muito parecidas. Faltou uma legitimação de apresentadores brasileiros, pretos e indígenas. O evento foi muito internacionalizado e é inacessível para a maior parte das camadas populares”, reforça Danilo. 

Apesar disso, o estudante comenta que o evento foi importante para a legitimação da profissão jornalística. “Acho que eu saí de lá mais inclinado a ser jornalista e a olhar por outras perspectivas, enxergar como a nossa profissão é importante para a consolidação da democracia.”

Jessikka Aro: fake news X jornalismo

Patrícia Campos Mello, Jessikka Aro e Flávia Lima. [Imagem: Reprodução/Twitter/@fescossia]

A primeira palestra do evento teve início às 10h e contou com a participação da jornalista finlandesa Jessikka Aro. A comunicadora, a partir de 2014, começou a investigar a “fábrica” de trolls russos e a utilização desses pelo Estado como forma de influenciar a visão da população a respeito de temáticas políticas e sociais por meio das redes sociais. 

Após o início de seu trabalho, Aro relatou que passou a receber ataques e ameaças de diferentes indivíduos e comentou que a onda de ofensas que recebeu, apesar de ataques individuais, refletem os pensamento de um Estado que, segundo a jornalista, não respeita as bases dos direitos democráticos. Jessikka explicou também que, por ser mulher, o número de ofensas que recebia era consideravelmente maior que o de seus colegas de trabalho 

Quando questionada a respeito de formas para combater a disseminação de fake news, Jessikka comentou que acredita que o Estado deve lutar contra a disseminação de notícias falsas por meio de investigações e desmobilização de redes de desinformação, mas reforçou a importância disso ser feito de uma maneira democrática.

A finlandesa debateu também a questão do mito da parcialidade do jornalismo, segundo a repórter, as pessoas utilizam-se desse fator a todo momento para questionar a credibilidade jornalística. Para lutar contra isso, Jessikka esclareceu que é papel do jornalista buscar a verdade, uma vez que essa é única. 

Para Danilo Queiroz a palestra de Aro foi uma das melhoras, pois discutiu a respeito de como o jornalismo é uma profissão insegura e sobre como a ausência de estabilidade parece ser uma constante na vida desses profissionais. 

Átila Iamarino: covid-19 e a onda de desinformação

Átila Iamarino durante palestra sobre ciência e desinformação. [Imagem: Arquivo Pessoal/Júlia Galvão]

A segunda palestra do evento foi apresentada por Átila Iamarino, criador de conteúdo do canal Nerdologia. O professor de ciências narrou sua jornada durante a pandemia para ensinar ciência ao grande público. O biólogo foi um dos principais comunicadores nacionais a divulgar informações sobre a pandemia para a massa popular de forma simples e acessível.

Átila percebeu a necessidade de discutir o tema ao ler artigos que divulgavam como a pandemia se espalharia de forma rápida e a ausência de pessoas divulgando os dados de forma fácil ao público. Além disso, com o crescimento do movimento antivacina, Iamarino sentiu a necessidade de contribuir para a disseminação do conhecimento em um período em que milhares de mentiras eram divulgadas diariamente. 

O professor comentou que recebeu diferentes ataques durante suas lives e que, em muitos momentos, tinha medo de “soar como maluco” para o público. Para evitar que isso acontecesse, Átila viu a necessidade de tentar transmitir as informações de forma neutra, além de retirar toda a monetização de seu canal no YouTube para reafirmar a importância do tema. 

Quando questionado a respeito do motivo para as pessoas produzirem desinformação, Iamarino comentou que a produção de mentiras é geralmente feita por pessoas que as consomem. Assim, reforçou mais uma vez a importância de seu trabalho para o combate das fake news. Átila reforça que o negacionismo vem crescendo e que é papel dos jornalistas aprenderem a lidar com esse fato, para isso, é importante que os repórteres tomem cuidado ao escolherem a quem darão voz. Além disso, o professor pontua que a checagem de dados é extremamente importante para a manutenção da credibilidade do  jornalismo. 

José Luis Pardo: o jornalismo investigativo 

Bernardo M. Franco, José Luis Pardo e Fernando Barros.[Imagem: Reprodução/Twitter/@fescossia]

José Luis Pardo, companheiro de Alejandra Inzunza, foi o responsável pela terceira palestra do dia. Alejandra era inicialmente a responsável pela apresentação, porém, testou positivo para covid horas antes do evento, deixando José como palestrante da mesa. O casal fundou o Dromómanos, veículo jornalístico que produz longas reportagens sobre temas de relevância para diferentes regiões da América Latina. 

Durante sua apresentação, Pardo discorreu sobre as dificuldades de cobrir o narcotráfico e destacou a importância do jornalismo investigativo na manutenção da credibilidade comunicacional. Para isso, José abriu debate sobre os cuidados que devem ser tomados por repórteres ao cobrir temas semelhantes ao veiculados pelo Dromómanos. 

Em primeiro lugar, foi destacada a necessidade de conhecer o ambiente em que se está inserido para entender as discussões que ali são abordadas. Além disso, o jornalista pontua que  ser visitante não foi a mesma coisa de estar presente na vida local, por esse motivo, é necessário  ouvir e tentar compreender a mensagem das fontes. José comentou que, apesar da tentação para realizar o sensacionalismo, deve-se fugir desse tipo de abordagem, já que, na maioria das vezes, ele abordou apenas o que está na margem e esqueceu a profundeza de alguns temas – Pardo caracterizou esse tipo de jornalismo como “pornoviolência”. 

Durante a discussão, o jornalista tratou também a respeito da situação da democracia na América Latina e discorreu sobre como a sua existência é apenas uma formalidade em alguns territórios, uma vez que não é exercida de forma verdadeira. “O jornalismo só tem razão de ser em uma democracia”. Por esse motivo, devemos lutar pela sua permanência, já que é ela a razão do trabalho jornalístico.

Por fim, José Luís finaliza a mesa dizendo que, apesar de passar por crises, o jornalismo é e sempre será necessário a manutenção da democracia. Sendo esse o motivo para a necessidade de instruir as pessoas a respeito de sua importância. 

Danielly Oliveira afirmou que a mesa de José foi um dos pontos altos do evento. “Nós vivemos na América Latina e, às vezes, a gente não tem noção do que está acontecendo nos países vizinhos. Nós ficamos muito concentrados no Brasil e foi interessante entender o trabalho do jornalismo independente, que é extremamente importante, mas que não tem o reconhecimento que merece.”

A estudante complementa que a palestra de Pardo foi informativa, pois questionava como fazer o jornalismo chegar nas pessoas, fazendo a grande massa entender a importância da informação e do trabalho jornalístico. 

Nick Johnston: o novo jornalismo 

Nicolas Johnston, Aline Midlej e José Roberto Toledo. [Imagem: Arquivo Pessoal/Júlia Galvão]

A quarta palestra do festival foi feita por Nick Johnston, plublisher do Axios, site jornalístico que acredita que a síntese é o futuro do jornalismo. O jornalista debateu a forma como o jornalismo deve se adaptar ao novo mundo. Nick inicia discorrendo sobre como o tempo de tolerância das pessoas quando estão no celular é muito pequeno. 

A ideia do Axios, a partir desse olhar para o novo mundo, é o de desenvolver uma forma de fazer com que o leitor leia mais sem perceber. No Brasil, cada notícia tem uma média de 1 minuto de leitura, para jornalistas pode parecer um tempo muito curto, mas Nick garante que é tempo suficiente para que o leitor desista de seguir lendo a reportagem. 

Johnston destaca que, apesar das notícias apresentarem um curto tempo de leitura, elas não são apresentadas de forma rasa (“short, but not shallow”, nas palavras do jornalista). O jornalista dissertou também a respeito da dificuldade que determinados veículos levam para construir uma boa audiência – principalmente em um período que é marcado pela guerra por atenção – e explicou que o modelo Axios de escrita, apesar de curto, não é necessariamente fácil de ser escrito. Alguns repórteres acreditam que, por serem capazes de escreverem longas reportagens, serão também capazes de se adaptarem para notícias curtas, o que obrigatoriamente não acontece na prática. 

Nick Johnston esclareceu também que fazer jornalismo não é uma prática fácil, uma vez que deve-se escrever algo para uma pessoa que provavelmente não é especialista no assunto que está sendo abordado. É por esse motivo que os repórteres do Axios são instruídos a escreverem seus textos como se estivessem realizando uma conversa com o público, tornando a leitura mais dinâmica e, assim, aumentando seu tempo de leitura. Por fim, o repórter reforça que esse período não é o fim das longas reportagens, uma vez que essas são essenciais para aprofundar determinadas temáticas, mas que a construção de um jornalismo versátil tem como objetivo respeitar  o momento que estamos vivendo. 

Anna Babinets: o jornalismo de guerra 

Anna Babinets, Dorrit Harazim e Thais Bilenky.  [Imagem: Arquivo Pessoal/Júlia Galvão]

A última palestra do dia foi feita por Anna Babinets, repórter investigativa que mora na Ucrânia e é editora-chefe no Slidstvo.com. Durante a mesa, a jornalista discutiu como aprendeu a lidar com as emoções durante a cobertura de uma guerra junto às responsabilidades de cobrir um tema tão delicado. 

Em um primeiro momento, Babinets debateu a questão da busca pela parcialidade jornalística durante a guerra e as dificuldades associadas a encontrar e definir o que é objetividade em um momento como esse. Para realizar seu trabalho da melhor forma possível, Anna e seu time, que conta com cerca de 10 jornalistas, utilizam experiências anteriores e coletam informações sobre a guerra a todo momento. 

A editora comentou também que, no momento, a prioridade é contar as histórias de cidadãos comuns que tiveram suas vidas completamente modificadas com o início do conflito. A demanda por informação tornou-se maior durante esse período e a guerra de desinformação promovida por Putin afeta diariamente a vida dos jornalistas. 

Anna Babinets também discorreu sobre como a luta pela democracia deve ser uma constante e reforçou que é papel dos jornalistas descobrirem os fatos que apresentam relevância pública e transmiti-los ao público. 

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